A Idade maior: porque envelhecemos, várias teorias e perspetivas

13-03-2023 16:12

 

Jamais se detém Kronos cujo passo

Vai sempre mais à frente

 Do que o teu próprio passo”.

 
(excerto de
Poesia de Sophia Mello Breyner

 

 

 

 

 

Por vezes sentimos que já não somos os mesmos somos outros…já sentimos de maneira diferente, pensamos de maneira diferente, reagimos aos estímulos de uma maneira diferente…Sente-se a angústia do reflexo físico e psicológico de nós mesmos ser tão diferente do passado e por mais que lutemos contra o tempo ele corre veloz muito mais depressa do que os nossos passos - cada vez mais lentos -  conseguem acompanhar.

As pessoas idosas ao perderem a força física e interior dos seus tempos áureos  e se sentirem mais fragilizadas e vulneráveis sentem por vezes já não têm um papel válido numa sociedade extremamente exigente e competitiva. Nós portugueses quando as pessoas idosas começam a dar sinais de fragilidade parece que os tendemos a tratar como crianças. Falamos muito devagar, repetimos várias mesmo a mesma informação e em voz quase sempre gritada como se estes não percebessem nada de nada. Encaminhamos-nos para centros de Apoio social a Idosos em que os pomos a brincar e fazer desenhinhos  como voltassem a ser crianças.

E nunca lhe perguntamos nada como já não tivessem nenhum discernimento, nem opinião… Nem o que gostam de comer, nem o que gostam de fazer, quais os seus sonhos, nem o que gostam de vestir…A partir do momento em que perdem a sua autonomia tendem a perder também o direito a ter uma personalidade.

É difícil chegar-se ao patamar da terceira idade. E ser-se idoso não significa que se tenha entrado no patamar da Idade estatística…é só preciso que a sociedade classifique aquele ser humano como tal…

Os espanhóis costumam chamar aos idosos de “mayores” então se são maiores porque nós julgamos quem eles vão regredindo até chegarem de novo à fase da infância que é preciso lhe explicar tudo como se tratassem de verdadeiros analfabetos.

Existem exemplos distintos, por exemplo os Índios na Amazónia tratam os idosos com reverência considerandos donos de uma sapiência suprema fruto das sua experiência passada na resolução de problemas e de muita reflexão e astúcia…

Assim por isso, porque é que tentamos tirar aos mais frágeis e idosos o seu direito de ser e ter uma opinião válida e desvalorizamos que estes ainda podem ter um papel muito ativo na sociedade em que vivemos. E os temos quase sempre sobre uma vigilância cerrada que quase nem podem respirar sozinhos…

Nas sociedades atuais tendemos a supervalorizar a infância e desvalorizar a terceira idade. As crianças são autênticos reis e as pessoas consideradas idosos autênticas crianças. Parece que estamos a ver o filme ao contrário como  naquele filme: “O estranho caso de Benjamim Burton”. Em que o personagem nasce idoso e morre criança… Que afinal  tendo em conta o que se passa nas sociedades modernas nem é assim tão estranho…

Ser Idoso no século XXI apesar de muitas teorias inovadoras  em que as pessoas se revitalizam quando atingem uma idade avançada é ainda considerado algo muito problemático…

 

 

Teorias do Envelhecimento um pouco de ciência…

 

            Vários autores elucidam-nos para o porquê de não nos conseguirmos conservar eternamente jovens…

            Segundo um artigo da “National Geographic” de 8/03/2023 “Porque envelhecemos?  O envelhecimento está ao nível do sono como um dos mistérios fundamentais da Biologia humana.

            O que faz com que o corpo abrande, as células param de dividir-se e os seus órgãos sucumbem cada vez mais à doença e à incapacidade. Ninguém tem respostas definitivas para estas perguntas mas as teorias analisadas pela autora podem ser agrupadas em dois campos:

  • danos graduais ao longo do tempo e
  •  programação genética

O primeiro grupo de teorias defende que o corpo envelhece devido ao desgaste sofrido pelos tecidos ao longo dos anos.  Os resíduos acumulam-se nas células, os sistemas de reserva falham, os mecanismos de reparação deixam gradualmente de funcionar e o corpo deteriora-se gradualmente como um carro velho.

O segundo grupo de teorias refere que o envelhecimento é desencadeado pelos genes – por um relógio molecular interno programado por um determinado horário em cada espécie. Alguns estudos em animais defendem esta teoria: os cientistas conseguem aumentar a longevidade de alguns animais alterando apenas um gene.

 

 

Envelhecimento: um limite para a divisão celular…

 

O autor menciona que o processo de envelhecimento começa nas unidades mais pequenas do organismo: as células.

No início da década de 1960, o biólogo Leonard Hayflick descobriu que as células criadas em culturas se dividem apenas uma média de 50 vezes antes de pararem do fazer.

À exceção, das células estaminais e das células cancerígenas, este limite aplica-se  a todos  os tecidos humanos, embora as células das pessoas idosas se dividam muito menos vezes.

 

Mas o que faz com que as células reduzam a velocidade e morrem?

Uma descoberta interessante foi o papel representado pelos telómeros. Os Telómeros são as secções de ADN existentes nas extremidades dos cromossomas que os protegem dos danos e os impedem de se fundirem com outros cromossomas. Os investigadores descobriram que, sempre que uma célula se divide perde cerca de 50 a 100 nucéotideos do telómero. Quando um telómero atinge um comprimento mínimo a divisão celular - já não se consegue dividir mais - para por completo. Não havendo renovação dá-se o envelhecimento.

Esta conclusão foi complementada pela descoberta da telomerase, uma enzima existente nas células imortais (como as células estaminais) que repara os telómeros após cada divisão. A enzima não afeta as células que não se dividem, como as do coração e do cérebro. E nas células que se dividem a telomerase pode potenciar o cancro.

 

Envelhecimento, boa forma e o ADN

      As pessoas com vidas mais stressantes têm os telómeros mais curtos de que a média, logo, envelhecem mais rapidamente.

Por outro lado, um pequeno estudo realizado por Dean Ornish, da Universidade da Califórnia, demonstram que as pessoas que adoptam estilos de vida mais saudáveis, nomeadamente, com a prática de exercício moderado, dietas à base de vegetais e regimes de redução do “stress”, tinham em média um aumento de dez por cento de telómeros.

 

Mudanças…

O envelhecimento afeta quase todos os sistemas do organismo: os sentidos, os órgãos digestivos, o sistema cardiovascular, o sistema imunitário, os ossos e os músculos. É interessante  que o sistema  - o cérebro e a espinal medula – seja dos órgãos menos afetados pela idade. O declínio das funções não é drástico na maioria dos tecidos. Só em situações de stress ou doenças é que se torna  evidente que o corpo mais avançado na idade revela dificuldades.

A densidade óssea diminui entre os 30 e os 75 anos, cerca de metade da massa muscular do corpo desaparece e a quantidade de gordura duplica.

O coração, os vasos sanguíneos e os pulmões são estruturas duráveis, feitos por uma longa vida. O facto de todas as pessoas idosas desenvolverem problemas cardíacos e pulmonares têm menos a ver com o processo de envelhecimento do que fatores de estilo de vida, como o fumo, a obesidade e a falta de exercício físico. No entanto, os sistemas mudam ligeiramente, ao longo do tempo: as válvulas e as paredes do coração tornam-se espessas e rígidas, o que dificulta o bombardeamento do sangue. As paredes arteriais também ficam espessas e rígidas, o que pode contribuir para a pressão arterial mais alta. Os tecidos pulmonares perdem a elasticidade à medida que o corpo envelhece. E, talvez, mais relevante, o sistema imunitário dos pulmões começa a falhar com a idade.

 

Mantendo-se em forma…

      A demência e o desgaste da identidade que acompanham a deterioração do cérebro são espectros temíveis do envelhecimento. Contudo, a demência não é uma característica do envelhecimento normal.

Com efeito um cérebro saudável funciona bem nas idades mais avançadas. À semelhança do resto do organismo, os seus tecidos diminuem ligeiramente à medida que as células morrem o cérebro perde dez por cento do seu peso numa idade avançada.

As mudanças que ocorrem no cérebro podem resultar alterações subtis ao longo do tempo. Podem afetar a memória a curto prazo, a fluência verbal e a capacidade de aprendizagem, mas não têm de alterar significativamente o funcionamento intelectual.

Talvez as alterações mais suaves no sistema nervoso ocorram ao nível dos sentidos, sobretudo da visão e da audição. A prebiopia – perda de visão ao perto é uma caraterística praticamente universal do envelhecimento. Começa cerca dos 40 e 50 anos e deve-se a um endurecimento gradual da lente do olho. A audição também piora ligeiramente devido ao processo normal do envelhecimento  e os danos a longo prazo causados pelos ruídos altos.

 

Partes desta resenha foram publicadas em your Body: A User´s Guide By Patrica S Daniels e agora também na National Geografic

 

 

 

Envelhecer é uma doença que pode ser curada diz cientista  em Havard

 

Atualmente, envelhecer ainda é visto como algo inevitável e uma luta inglória contra o destino de todos os nós.

Porém, para o famoso geneticista  David Sinclair, com base em estudos de mais de vinte anos, envelhecer é uma doença que pode ser curada. Através de hábitos saudáveis e não só é possível retardar essa inevitabilidade da vida. Sinclair acredita que em breve será possível fazer isso também com medicamentos, que ainda estão sendo testados para esse fim, e diz que provavelmente vamos conseguir até mesmo reverter o envelhecimento. O cientista, que é doutor pela Universidade New South Wales, na Austrália, e fez um pós-doutorado no Massachussets Institute of Technology, nos Estados Unidos, está à frente de um laboratório na Universidade Harvard onde pesquisa por que envelhecemos.

Os seus estudos já foram sobejamente premiados pelas organizações científicas. E já foi considerado pela revista Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Tem mais 200 mil seguidores no Twitter.

 

Excertos de uma entrevista que David Sinclair deu à BBC News Brasil, São Paulo  e incluída num artigo do jornalista Rafael Barifouse, 2 de Outubro de 2021:

 

 

“BBC News Brasil - Por que envelhecemos?

David Sinclair - Cientistas chegaram às nove principais causas do envelhecimento e, em minha pesquisa nos últimos 25 anos, encontramos evidências de que uma dessas causas é a causa de muitas, senão de todas as outras, e envolve uma perda de informações.

Temos dois tipos de informações no corpo que herdamos de nossos pais e que são afetadas pelo ambiente e pelo tempo. Um é a informação "digital", o código genético, e o outro é a informação "analógica", que é o epigenoma, que são os sistemas na célula que controlam quais genes são ativados e desativados.

É a ativação e desativação dos 20 mil genes de uma célula que diz à ela de que ela é — ou seja, dá sua identidade — e como ela deve funcionar. Mas, com o tempo, o epigenoma começa a perder informações, como com os arranhões em um CD, e as células perdem a capacidade de ativar os genes certos no momento certo. Perdem sua função. Acredito que é a razão pela qual envelhecemos.

 

BBC News Brasil - E o senhor diz que não precisamos envelhecer. Por quê?

Sinclair - Não existe nenhuma lei na biologia que diga que devemos envelhecer. Não sabemos como parar isso, mas estamos melhorando em desacelerar (o processo). E, no laboratório, conseguimos revertê-lo.

Meu ponto é que o epigenoma é mutável. A forma como vivemos nossas vidas tem um impacto muito grande sobre esses arranhões do CD. Fazer as coisas certas pode diminuir drasticamente o ritmo de avanço do relógio do envelhecimento, e hoje podemos medir esse relógio, temos testes de sangue e saliva para isso.

Estamos descobrindo em animais, como ratos e camundongos e até mesmo em baleias e elefantes, e em pessoas que têm diferentes estilos de vida, que o envelhecimento pode ocorrer em um ritmo muito diferente. E que mais de 80% de sua saúde futura depende de como você vive, não do DNA.

Existem coisas que os cientistas descobriram ao observar pessoas que vivem muito. Elas incluem comer o tipo certo de alimentos — um bom lugar para começar seria a dieta mediterrânea —, comer menos calorias e com menos frequência. Exercício físico também ajuda. E existem alguns que pensam que mudar a temperatura do corpo com gelo e mergulhos em água fria é útil neste sentido.

 

BBC News Brasil - Como isso ajuda a retardar o envelhecimento?

Sinclair - A razão pela qual os cientistas acreditam que esses hábitos de vida e intervenções funcionam é que eles estimulam as defesas naturais do corpo contra doenças e o envelhecimento.

Sentir frio ou calor, estar com fome e ficar sem fôlego são maneiras de ativar essas defesas. E, na raiz dessas defesas, estão um punhado de genes, e estudamos um conjunto deles que controlam o epigenoma e são ativados pelo exercício, pela fome. É por isso que pensamos que comer as coisas certas e fazer jejum podem desacelerar o relógio do envelhecimento.

O envelhecimento é a causa da maioria das doenças, é de longe a principal causa de doenças cardíacas, Alzheimer, diabetes... Portanto, a ideia é que isso te torna mais forte e te faz viver por mais tempo.

 

BBC News Brasil - Um estudo recente publicado na revista Nature afirma que existe uma taxa invariável de envelhecimento nos primatas. Isso aponta na direção oposta do seu trabalho e indica que não podemos retardar ou parar o envelhecimento.

Sinclair - Bem, 200 anos atrás, a velocidade máxima que um humano podia viajar era a velocidade de um cavalo. Existem tecnologias que podemos usar para superar nossa biologia. A tecnologia resolve problemas e nos torna melhores do que antes. Somos uma espécie que inova, sem tecnologia não teríamos sobrevivido.

É o que temos feito há mais de um milhão de anos e também encontraremos tecnologias para superar isso. Este é o próximo passo, superar os limites da saúde que herdamos. Fazemos isso todos os dias. Quando tomamos uma aspirina ou colocamos roupas. Mudamos nosso ambiente, também podemos mudar a química de nosso corpo.

 

BBC News Brasil - O senhor propõe uma abordagem diferente para o envelhecimento: tratar esse processo como uma doença. Por quê?

Sinclair - Uma doença é um processo que ocorre ao longo do tempo e que resulta em invalidez e/ou morte. Isso é o mesmo que envelhecer. A única diferença é que isso, por definição, acontece com menos da metade da população. Essa classificação é arbitrária e precisa mudar.

O envelhecimento é uma doença. Acontece que é algo comum, mas só porque algo é comum e natural não significa que seja aceitável. Isso não o torna mais aceitável do que o câncer. Estamos mostrando que é tratável, que você pode retardar e evitar que aconteça.

A atual exclusão do envelhecimento como doença significa que os médicos hesitam em prescrever medicamentos que podem potencialmente dar às pessoas muitos anos de vida extra saudável. Portanto, devemos declarar que o envelhecimento é uma doença ou, pelo menos, uma condição médica tratável.

 

BBC News Brasil - Isso é muito diferente do nosso entendimento atual, porque hoje em dia vemos o envelhecimento como inevitável, mas o senhor está dizendo que não é e que podemos tratá-lo, retardá-lo e até mesmo revertê-lo. É uma proposta radical, não é?

Sinclair - É radical, mas também é radical voar em um avião ou usar antibióticos e computadores. Este é o caminho que a humanidade deve seguir. Se quisermos fazer avanços significativos na Medicina e na longevidade, mesmo se curarmos todas as doenças hoje, a melhora média na expectativa de vida será de apenas um pouco mais de dois anos. Precisamos fazer melhor do que isso.

BBC News Brasil - Antes de prosseguirmos, gostaria que o senhor explicasse melhor algo que disse: que, no laboratório, foi capaz de reverter o envelhecimento.

Sinclair - Estávamos procurando uma forma de zerar o epigenoma, polir os arranhões no CD. Examinamos muitos genes para ver se poderíamos reverter o envelhecimento com segurança. Não tivemos sucesso por muitos anos e até acabamos causando câncer em células em laboratório.

Mas encontramos três genes, chamados de fatores Yamanaka, que podem reverter o envelhecimento com segurança, sem fazer com que as células perdessem sua identidade. Isso foi feito nas células da pele humana e células nervosas. Em seguida, testamos em ratos com nervos ópticos danificados e conseguimos restaurar sua visão rejuvenescendo os nervos ópticos.

 

BBC News Brasil - E isso poderia no futuro ser aplicado a seres humanos?

Sinclair - Há investidores que acreditam que sim, estava conversando por telefone com eles nesta manhã. Os dois anos de estudos de segurança em roedores foram promissores e vamos progredir para os primeiros testes em humanos nos próximos dois ou três anos para ver se conseguimos curar a cegueira em pessoas.

 

 

BBC News Brasil - Estávamos falando sobre mudanças no estilo de vida. Mas há drogas sendo pesquisadas para retardar o envelhecimento, certo? O que a ciência descobriu até agora e o que está sendo investigado?

Sinclair - Existem moléculas, tanto naturais quanto sintéticas, que se mostram promissoras para retardar o envelhecimento e prolongar a vida dos animais e até mesmo nos estudos em humanos. E pelo menos duas delas são drogas que estão no mercado.

Há boas evidências a respeito de um desses medicamentos, a metformina, que é dada a pessoas com diabetes tipo 2. Há sinais promissores de diabéticos que vivem mais do que pessoas que não têm essa doença. Um estudo está analisando agora dezenas de milhares de pessoas que tomaram metformina e as taxas de câncer, doenças cardíacas e Alzheimer.

 

BBC News Brasil - O que buscamos aqui: viver para sempre?

Sinclair - Não (risos). Qual é o objetivo da pesquisa médica?

 

BBC News Brasil - Fazer com que tenhamos vidas mais longas e saudáveis.

Sinclair - Sim, é o mesmo aqui. A diferença é que estamos chegando às raízes das causas das doenças, em vez de colocar um curativo nessas doenças, uma vez que acontecem. E, ao atacar as causas profundas, o impacto será maior. E será para o corpo inteiro.

Não devemos apenas retardar o envelhecimento do coração e deixar o cérebro envelhecer. Porque acabamos com mais pessoas com a doença de Alzheimer. Precisamos de uma abordagem que mantenha todas as partes do corpo saudáveis ​​por mais tempo. E essa é a abordagem que estou adotando.”

 

 

 

O Processo do Envelhecimento

Também a autora Diana Manuela Gomes Cancela, no seu texto “O Processo de Envelhecimento”, realizado para a Universidade Lusíada nos diz que o envelhecimento não é um estado, mas, sim uma degradação progressiva e diferencial. Ela afeta todos os seres vivos e o seu termo natural é  a morte do organismo. É assim impossível datar o seu começo porque de acordo com o nível no qual se situa (biológico, psicológico ou sociológico) a sua gravidade variam de individuo.

A autora analisa vários aspetos do envelhecimento humano:

  • Envelhecimento
  • As sensações
  • As perceções
  • As teorias do envelhecimento
  • Alterações neuroanatómicas
  • Efeitos  no desempenho cognitivo e os fatores que desempenham esse mesmo envelhecimento

 

A vida de um organismo multicelular costuma ser dividida em várias fases:

  • A fase do crescimento
  • Desenvolvimento
  • Reprodutiva
  • Senescência (envelhecimento, quando se dá o declínio da capacidade funcional do organismo)

É impossível datar o começo do envelhecimento porque de acordo com o nível no qual se situa (Biológico, psicológico ou sociológico) a sua velocidade e gravidade variam de indivíduo para indivíduo. Assim podemos dizer que os indivíduos envelhecem de formas diversas a este respeito podemos falar de idade biológica, de idade social e de idade psicológica que podem ser muito diferentes da idade cronológica (Fontaine, 2000)

  • Idade Biológica – está ligada ao envelhecimento orgânico. Cada órgão sofre modificações que diminuem o seu funcionamento durante a vida e a capacidade de auto-regulação torna-se menos eficaz
  • Idade Social – refere-se ao papel, aos estatutos e os hábitos da pessoa relativamente aos outros membros da sociedade. Esta idade é fortemente determinada pela cultura e história do país.
  • Idade psicológica – relaciona-se com as competências comportamentais que a pessoa pode mobilizar em resposta às mudanças do ambiente, inclui inteligência, memória e motivação.

Segundo a autora, Diana Manuela Gomes Cancela, o envelhecimento demográfico é antes de mais uma questão demográfica.

Entre 1960 e 2001 o envelhecimento demográfico traduziu-se por um decréscimo de cerca de 36% na população jovem e incremento de cerca de 140% da população idosa.

Portugal está a tornar-se num país envelhecido. O peso dos idosos na estrutura populacional tem vindo a aumentar de uma forma significativa, devido por um lado à diminuição dos nascimentos e por outro lado, ao aumento da esperança de vida. Esta redefinição da estrutura etária tem diferentes implicações: exige políticas, sociais que permitam fazer face a uma nova realidade e onde a saúde e o apoio social tendem a ser redimensionados, em termos económicos leva a um esforço acrescido da segurança social, como ao pagamento de reformas e também com serviços especializados destinados a este grupo populacional.

 

Alguns aspectos relevantes sobre o envelhecimento:

A senescência é o processo natural do envelhecimento o qual compromete progressivamente aspetos físicos e cognitivos. Segundo a OMS a terceira idade tem início entre os anos 60  e 65 anos. No entanto, esta é uma idade instituída para efeitos de pesquisa, já que op envelhecimento como já se referiu anteriormente depende de tês classes de factores principais:

  • Biológicas
  • Psíquicas
  • Sociais

São estes fatores que podem preconizar a velhice acelerando ou retardando o aparecimento e a instalação de doenças e sintomas característicos da idade madura.

O envelhecimento fisiológico compreende uma série de alterações nas funções orgânicas e mentais devido à idade avançada sobre o organismo, fazendo com que o mesmo perca a capacidade de manter o equilíbrio homeostático e que as funções fisiológicas gradualmente começam a declinar. Tais alterações têm por características principais a diminuição progressiva da reserva funcional.

Ou seja, um organismo envelhecido, em condições normais, poderá sobreviver adequadamente, porém submetido a situações de stress físico e emocional pode apresentar dificuldades em manter a sua homeostase e desta forma, manifestar sobrecarga funcional, a qual poderá culminar em processos patológicos, uma vez que há o comprometimento do sistema endócrino nervoso e imunológico (Firmino, 2006).

Com o envelhecimento, ocorrem alterações de vários aspetos percetíveis do organismo, podemos citar alguns exemplos apresentados pela autora:

  • Diminuição do fluxo sanguíneo para os rins, fígado e cérebro
  • Diminuição da capacidade dos rins para eliminar toxinas e medicamentos
  • Diminuição do rítmico cardíaco (saída dos sangue do coração) máximo
  • Diminuição da tolerância à glicose
  • Diminuição da capacidade pulmonar
  • Diminuição da função celular de combater às infeções

Também se dá o envelhecimento das sensações e perceções.

O envelhecimento percetivo é muito diferenciado. Algumas modalidades sensoriais como o olfato, gosto ou cinestesia são pouco afetados pela idade, ao passo que outros como a audição, a visão e o equilíbrio são geralmente afetados.

De todas estas modalidades percetivas, o envelhecimento afeta de forma mais significativa o equilíbrio, audição e a visão.

Por outro lado, os “déficits” sensoriais de  natureza auditiva e visual parecem causas importantes de declínio geral do funcionamento das atividades intelectuais (Fontaine, 2000).

 

Efeitos do envelhecimento no desempenho cognitivo

A autora Diana Manuela Gomes Cancela elucida-nos sobre os vários estudos relativos ao desempenho intelectual  demonstrando-nos as aptidões cognitivas atingem o seu pico pelos trinta anos e continuam estáveis até os 50 -60 anos. E a partir dessa faixa etária começa-se a dar o declínio que acelera a partir dos 70 anos.

O declínio das funções intelectuais não é uniforme para todas elas.

Segundo Spar e La Rue (citando Firmino, 2006);

  • a capacidade de comunicar eficazmente mantém-se estável toda a vida
  • As pessoas idosas têm maior dificuldade de compreender mensagens longas e complexas
  • O discurso tende a ser repetitivo
  • Os idosos evidenciam também:
  1.  Maior dificuldade na realização de tarefas de raciocínio que envolvam análise lógica e organizada de material abstracto ou não familiar
  2.  Maior dificuldade no desempenho de tarefas que impliquem planear, executar e avaliar sequências complexas de comportamentos os idosos revelam-se mais lentos
  3. No que respeita a aptidões visuais  em relação ao espaço os idosos mantém a capacidade de reconhecerem lugares e caras familiares bem como reproduzirem e identificarem formas geométricas vulgares
  4. No entanto, revelam um declínio na capacidade  de reconhecerem e reproduzirem configurações complexas que não lhe são familiares
  5. Quanto à atenção, as pessoas idosas mantém a mesma capacidade dos jovens em dirigirem e manterem a atenção sobre um determinado tópico ou acontecimento
  6. Revelam dificuldade em realizarem múltiplas tarefas em simultâneo
  7. Em relação à inteligência esta tende a manter-se estável durante a maior parte da vida adulta sendo que esta estabilidade atinge a aptidão para definir e usar palavras para aceder ao conhecimento da cultura geral e envelhecimento em raciocínios práticos e sociais.
  8. O vocabulário e  a capacidade de acesso à informação e a compreensão não são prejudicados com a passagem dos anos

 

As alterações cognitivas que surgem com o avançar da idade está relacionada com três recursos fundamentais do processamento cognitivo:

  • A velocidade a que a informação é processada
  • Memória de Trabalho
  • Alterações sensoriais e percepcionais

 

A velocidade de processamento

Lentificação da execução o de componentes percetuais e operações mentais podem afetar a atenção, a memória e a tomada de decisão influenciando também o desempenho mesmo em tarefas que não têm requisitos de velocidade óbvias (Salhouse, 1996, citando Spar e La Rue, 2005)

 

Memória de Trabalho

Está relacionado com a retenção a curto prazo e a manipulação da informação registada  na memória consciente. Exemplo: recordação consciente do número de telefone durante tempo suficiente para tomar nota dele

A informação desvanece-se da memória de trabalho num espaço de dois segundos.

O envelhecimento está associado a um declínio das aptidões da memória de trabalho, especialmente quando é necessária a manipulação ativa da informação (exemplo: repetir os números por ordem inversa)

 

 

Alterações sensoriais e percecionais

A maior parte dos adultos experimenta decréscimos de acuidade visual, auditiva, bem como outras alterações percecionais.

 

 

 

Fatores que influenciam o envelhecimento cognitivo

 

  • Fatores genéticos – 50% da variabilidade cognitiva na terceira idade deve-se a fatores genéticos
  • Saúde – idosos de boa saúde ultrapassam em muitos testes cognitivos os que tem doenças de foro clínico
  • Instrução – A instrução explica 30% da variabilidade cognitiva na terceira idade
  • Atividade mental –  Atividades mentais estimulantes estão correlacionadas como melhor desempenho cognitivo e menor declínio longintudinal.
  • Conhecimento especializado -especialistas podem desenvolver estratégias compensadoras para manterem alto nível de desempenho apesar da erosão da capacidade cognitiva
  • Personalidade e Humor – A depressão está correlacionada com a insuficiência auto-percebida da memória, com déficits de desempenho se os sintomas são graves
  • Meio social e cultural – lapsos quotidianos de memória poderão ser julgados mais severamente quando experimentados em idosos do quem em jovens.
  • Treino cognitivo -Idosos cognitivamente intactos beneficiam da prática e do treino da capacidade cognitivas específicas.

 

 

 

Bibliografia de Apoio: