A importância dum lápis e uma caneta na mão duma criança...e o sopro da imaginação...
O lápis na mão de uma criança não é um mero entretenimento. Os desenhos infantis revelam muito do seu mundo. A psicologia usa-os em testes de avaliação psicológica e como instrumento terapêutico. Através do desenho, as crianças desenvolvem a atenção e a capacidade criativa, mas também exprimem traços de personalidade, emoções contidos, receios silenciados, conflitos familiares.
A revista “Notícias Magazine”, n.º 829, 13 de Abril de 2008 (www.insight.pt) dá-nos as primeiras pistas sobre esta questão.
“Sara tem 12 anos, quer ser desenhista só sonha ter uma profissão de lápis na mão”, relata à Revista Notícias Magazine que “adora desenhar, pegar no lápis e ver figuras aparecer, é quase mágico, os meus colegas estão sempre a pedir que invente personagens com eles”.
Os cadernos da escola estão cheios de cabeças de cavalo, junto aos números das lições. Ando sempre a ver se posso desenhar, as coisas surgem-me na cabeça e a minha mão começa a mandar em mim”. Desenha cavalos, ninfas, fadas, princesas, mas também cria personagens inspiradas na famosa mascote videojogo sonic para oferecer aos colegas da escola.
Na reportagem, a mãe relata que Sara ainda não tinha um ano já fazia bolinhas nunca chegou a rabiscar as folhas todas como faziam os outros bebês.
Celina Almeida diretora da clínica Insight e formadora na área do desenho infantil dá-nos algumas pistas:
No início é a descoberta: “ A criança pega no lápis como em qualquer objeto para explorar. Mas aquele objeto causa-lhe surpresa com ele a criança consegue reproduzir algo, faz um rabisco deixa uma marca na superfície, na folha de papel ou noutro sítio qualquer. O lápis produz um efeito inesperado, vai querer repetir.”Nessa altura há sobretudo um prazer motor é algo mágico a caneta produz um efeito inesperado e vai querer repetir. É a chamada fase dos rabiscos. Tenicamente referido como realismo fortuito.
Dá uma grande vontade em ser capaz de controlar o objeto que faz magias, aqueles traços que ao princípio são muito juntos e sobrepostos e depois separados e ritmados com a adição de pontinhos e tinha curvas. Ainda não são propriamente desenhos, mas rabiscos, grafismos, automatismos. As crianças vêem os adultos ou até os irmãos mais velhos a escrever e sentem necessidade de imitar. Aos três anos é muito frequente gostarem de oferecer os seus desenhos como um rabisco no canto da folha como assinatura ou como uma suposta dedicatória para a pessoa. O desenho começa a tomar forma e a servir como meio de comunicação.
Aos três anos ou mais cedo ainda como acontece com muitas crianças já existe claramente o intuito de desenhar alguma coisa, de representar a realidade de reproduzir algo que ela conhece ou faz parte do seu eu imaginário “um cão, uma casa, uma fada”. É a chamada fase do realismo falhado, em que a criança se esforça por dominar o lápis e transformar um rabisco numa figura identificável. Aí pode começar a surgir a frustração. Celina Almeida, psicoterapeuta acredita que as crianças têm uma capacidade muito grande em encontrar semelhanças entre um rabisco e um objeto e podem ficar frustradas se não descortinarmos o que está lá. Uma linha curva feita ao acaso é um caracol ou outro animal qualquer…nós é que não vemos o que eles veêm. Exercitando a mão, vão exercitando a mão, vão desenvolvendo a capacidade de atenção e memória.
Olhando para um desenho podemos tentar adivinhar a idade da criança. A partir dos quatro/cinco anos entra-se na chamada fase do realismo inteletual que se prolonga até aos seis anos ou sete entra-se na chamada fase do realismo inteletual que se prolonga até aos seis anos ou sete anos conforme as crianças.
Nessa altura, elas fazem questão de desenhar pormenores que, para nós são desnecessários e que frequentemente censuramos como estando a mais. Desenham o coração, o umbigo ou órgãos genitais por cima das roupas, a comida no estômago, o cabelo debaixo do chapéu como se as pessoas fossem transparentes. A criança tem a preocupação de representar o que sabe que existe mesmo que não esteja à vista. De repente, lembram-se de adicionar mais uma pata ao dinossauro ou mais duas rodas ao automóvel. Como se as figuras fossem esborrachadas, espalmadas na folha de papel de modo a poderem ver-se de todos os ângulos. São os chamados rebatimentos que, a par das transparências caraterizam os desenhos nestas idades. Se existe tem de caber no desenho e tem que estar lá. Mais uma vez os adultos não costumam entender essa necessidade das crianças mostram o seu conhecimento e começam a fazer reparos, apontar , a apontar defeitos que, obviamente, não os incentivam a continuar.
Quando as crianças desenham como se fosse uma fotografia entram na fase do realismo visual o que habitualmente acontece por volta dos sete anos.
Desenham como os adolescentes e os adultos. Passam a ter uma exigência estética, quer em combinar tons, usar noções de perspetivas, já não lhes interessa apenas reproduzir com o pormenor a realidade, querem que o desenho seja esteticamente impressivo e apreciado. Infelizmente é a fase em que a maioria das pessoas deixa de desenhar.
A psicoterapeuta define assim quatro fases da evolução do desenho infantil:
Realismo fortuito – a etapa dos rabiscos até aos dois anos.
Realismo falhado – entre os dois e os quatro anos
Realismo Inteletual – entre os cinco e os sete
Realismo Visual – dos sete/oito em diante
A psicoterapeuta esclarece que estas fases são rígidas, há crianças que começam a desenhar mais tarde, a idade pode variar. Primeiro , nem um rabisco, depois os círculos e as figuras ainda pouco definidas, a seguir os desenhos sem noção de perspetiva e com pormenores “mais” e, finalmente, os desenhos “fotográficos” que tentam retratar a realidade como se fosse uma fotografia. Muitos não chegam a aprofundar a última fase… Basta pedir a um adulto que faça um desenho e aí temos a resposta. “mas eu não tenho jeito para desenhar!...”
Será falta de jeito ou falta de ténica ou treino?…
A criança fala através dos desenhos, comunica situação do seu quotidiano, exprime espontaneamente os seus interesses, medos e angústias, revela a noção que tem de si própria e a sua visão do mundo, real ou imaginária. “quando a criança já é capaz de dominar algum automatismo começa a tentar comunicar através do desenho, conta uma história como é frequente dizerem. O desenho passa a ser uma forma de comunicação, um meio onde retratam a alegria, o mal-estar, as dúvidas, as preocupações que possam sentir. “Ao contrário dos adolescentes, as crianças não exprimem o seu mal verbalmente. Se estiverem habituados a desenhar, acabam por comunicar as suas emoções, o seu desconforto através do desenho. Por vezes, as crianças reagem mal às perguntas diretas, sentem que o seu espaço é invadido, ficam mais retraídos e incapazes de responder: porque estás triste? Conta o que se passou? Estás zangado? “As crianças têm um pensamento mágico…Elas pensam se eu não verbalizar as coisas más elas não acontecem…e esquecem o que de mais triste lhes aconteceu…Receiam falar, mas, depois, isso acaba por sair no desenho, fazem, por exemplo, uma grande tempestade, com chuva, trovões e tudo destruído. O mal-estar é transmitido na folha de papel. O desenho pode ser o pretexto para a criança falar do que a preocupa “os pais e os educadores podem aproveitar essa oportunidade sugerindo à criança que fale do que desenhou.
A folha de papel serve como mediador. É um espaço neutro que ajuda a desanuviar a tensão porque a atenção passa a ser centrada no papel. É também um espaço de projeção a criança vai projetar nas figuras que desenha os seus sentimentos e a situação da sua vida. “Por isso é instrumento utilizado por consultores de psicologia”.
Também Maria Isabel Gândara no seu livro “Desenho Infantil – Um Estudo sobre os Níveis de Símbolo” esclarece-nos sobre estas questões.
No parecer desta psicóloga, acredita que os professores têm ainda no que toca à interpretação gráfica “uma formação insuficiente para compreender o desenvolvimento dos trabalhos das crianças. Com a formação adequada seriam mais capazes de ajudar o desenvolvimento das crianças e manter viva a sua imaginação”
Quando desenham as crianças esforçam-se por “representar emoção, manipulando a forma, o contorno, o pormenor, a cor e “Inventam contextos para os seus desenhos. Mas é preciso ouvir as respostas das crianças, diz a autora. Os desenhos exprimem um significado que ultrapassa o aspeto concreto”.
Neste estudo Maria Gândara traça-nos algumas pistas sobre a forma que percecionamos o mundo. É através da construção do significado que o conhecimento acerca de nós próprios e do meio ambiente é adquirido, organizado expresso. Isto permite ao indivíduo viver num mundo que lhe é exterior, um mundo composto de pessoas e acontecimentos exteriores a si próprios. No entanto, as pessoas também possuem um mundo interior feito de sentimentos, respostas sensoriais, sonhos e interpretação pessoal dos acontecimentos das suas próprias vidas. Assim é na criação do significado que, as respostas do mundo exterior, encontra respostas interiores e interage com elas.
Na criação de significados, as respostas do mundo são organizadas e comunicas através de forma simbólica. A linguagem simbólica normalmente ao nosso alcance é a linguagem verbal. No mundo contemporâneo, a linguagem verbal foi chamada a desempenhar funções diversas tais como: comercial, de simples conversação, narrativa e poética. O importante é que cada uma das formas linguísticas permite a construção e comunicação de tipos diferentes de informação, conhecimentos e sentimentos.
Outra forma simbólica muito importante é a representação visual. Este veículo de expressão do significado foi sempre primordial na história e é de vital importância no crescimento e desenvolvimento das crianças. Ao longo da história, os primeiros símbolos visuais transmitiram respostas convencionais, pragmáticas, sociais, políticas e religiosas e míticas. Mais tarde, os níveis funcionais das imagens visuais foram imbuídos de interpretação imaginativas reflete-se nos sinais deixados pelas respostas artísticas e individuais com Herbert Read (1931) afirmou, na arte do homem primitivo, imagens de ordem e unidade fornecem um equivalente formal das emoções…
Conforme as condições históricas do mundo no qual as artistas viveram e evoluíram também as imagens por eles criadas para representar o significado mudaram. Nos novos tempos o desenvolvimento da tecnologia , da ciência, do conhecimento das estruturas sociais e dos sistemas de crenças foram sendo refletidas pelas obras dos artistas, num panorama em permanente modificação que passa pelo cubismo, pelo surrealismo e pelo expressionismo abstrato. Contudo, se observarmos cuidadosamente, abarcando um grupo de estilos coletivos, surrealismo e abstracionismo, podem ser rapidamente identificados em termos de imagética comum:
Contudo, dentro de cada estilo observam-se respostas altamente diferenciadas de artistas como Picasso, De Chirico ou Kandisky.
As crianças, crescendo no mundo atual têm a necessidade permanente de formar sistemas de significação tanto pessoais como coletivos. As artes visuais e as estruturas que moldam o pensamento têm um papel importante no desenvolvimento da compreensão das crianças relativamente ao mundo e a si próprios:
A estrutura do significado
A criação do significado nas imagens implica uma determinada maneira de estruturar o pensamento. Esta estrutura provém da forma como os indivíduos organizam as respostas para si e para os outros, além disso a forma como as desenvolvem em relação como o material que utilizam para exprimir essas mesmas respostas.
Muitos autores tentaram explicar como a significação é estruturada nos anos da infância. Por exemplo, Arnheim (1974), afirma que o processo de representação artística é uma procura de equivalência de formas através da qual a significação pode ser exprimida, começa no início da infância. No seu livro l´image mentale chez l’infance (1966).
É durante a fase motor-sensorial até aos dois anos que a criança aprende a imitar a ação. Por exemplo, um bebé chora e outro imita-o.
Esta imitação imediata é rapidamente seguida pelo que Piaget designa por imitação diferida em que as acções são repetidas a alguma distância de tempo, apartir do estímulo original.~
A seguir à fase motor-sensorial, com o passar do tempo as crianças dependem menos da ação direta para a sua aprendizagem acerca do mundo. Durante o período inicial (dos dois aos sete anos) e no período da fase das operações concretas (dos sete aos onze anos) as crianças organizam as suas respostas construindo o pensamento. Tais esquemas, segundo Piaget, consistem em conceitos e categorias ou organizações inteletuais que permitem à criança agrupar as respostas, na sua memória, segundo consistentes e lógicas. Nesta idade, o pensamento é concreto limitado aos fatos presentes e atuais do mundo da criança.
Com a evolução do desenvolvimento a criança aprende a elaborar imagens mais complexas das suas respostas aoi mundo. Por exemplo, imagens primárias que representam categorias gerais diferenciam-se para representar sub-categorias das experiências. Assim, o que começa como sendo a representação da categoria geral “uma pessoa”, mais tarde torna-se o “meu papá” e a minha “mamã” ou o “meu amigo”. Numa fase posterior do desenvolvimento, outras diferenciações são conseguidas consoante os interesses da criança: o polícia, bombeiro ou o trabalhador. Conforme a imagem se vão pormenorizando e enriquecendo e combinamdo-se em composição, ilustrando e representando acontecimentos e vivências e experiências diretas da criança. Os contornos começam a corresponder às caraterísticas visuais mais evidente dos seres humanos e as suas ações, e, assim, são incluídas pormenores tais como penteados vestidos ou uniformes .
Conteúdo do significado
Cada sociedade tem um conjunto previsível de interações entre os seus membros. Este conjunto de interação pressupõs comunicações organizadas, apoiadas e variados sistemas de símbolos: de linguagem, sociais, políticos, religiosos e culturais. Em parte estes sistemas atuam duma maneira convencional, através da qual os significados são definidos com tal precisão que a comunicação é possível. Assim, o significado visual pode ser interpretado como tendo uma dimensão funcional/ e ou objetiva, quando o significado visual atua desta maneira tem uma relação de correspondência direta com a forma representacional ou a imagem através da qual se exprime.
Estudiosas têm caraterizado a dimensão objetiva das imagens de várias maneiras. O nível objetivo ou dimensão funcional dos símbolos visuais também pode ser construído de maneiras mais complicadas do que no caso dos sinais. Por exemplo, Arnheim (1974) defende que os símbolos visuais partilham uma semelhança estrutural com as ideias ou acontecimentos que representam. Para Arnheim um retrato contém o seu próprio significado duma forma funcional, porque está organizada visualmente, à volta de estruturas que também se encontram no mundo da experiência direta. É esta semelhança de estrutura visual que segundo Arnheim permite a observadores diferentes concordarem acerca do conteúdo do tema da pintura ou desenho.
Dimensão Imaginativa das imagens
Os símbolos visuais também têm outros níveis de significação: por exemplo, adultos e crianças têm o poder de dar forma e expressão às respostas individuais e pessoais a experiências. Este nível pessoal, imaginativo ou criativo também influência a construção de significados.
Como Dufreme (1957) diz “a imaginação unifica a perceção e amplia conceitos da realidade.”
De fato, a dimensão imaginativa do significado está presente em quase todos os trabalhos artísticos, individuais e de movimentos coletivos. Wilson afirma que a “a arte da criança entre os dois e os oito anos parece brotar espontaneamente do mais profundo da criatividade e conter símbolos universais...”
Por outras palavras, enquanto, enquanto, as crianças podem construir imagens convencionais, “a minha mamã”, o “meu papá”, “o amigo”, “a família”, determinadas imagens refletem unicamente respostas individuais.
Dum ponto de vista menos psicanalítico, o trabalho de piaget e de outros teóricos do desenvolvimento sugere que o conteúdo está ligado à manipulação imaginativa de imagens nas criações da primeira fase da infância. Com o desenvolvimento do pensamento lógico, esta ligação afetivo/imaginativo enfraquece a favor dum conteúdo menos pessoal e menos afetivo. Com o Irving (1983) refere: “As crianças mais novas tratarão comunicação emotivo-expressiva porque estão relacionadas com acontecimentos e coisas imediatas uma vez que ainda não atingiram o nível de pensamento abstrato”.
Desta afirmação pode inferir-se que, com o aparecimento do pensamento abstrato mais lógico, a dimensão imaginativa das imagens infantis se vai esbatendo.
Maria Gândara refere-se a um estudo piloto que sustentam as suas teorias. Um grupo de trinta e duas crianças entre os quatro e os doze anos foi convidado a fazer desenhos subordinado ao tema do melhor amigo. A análise dos desenhos revelou que a manipulação do pormenor, contorno e cor se tornava mais complexa com a idade. A análise do pormenor, contorno e cor tornava-se mais complexa com a idade. A análise dos elementos da entrevista revelou a emergência de complexidade paralela nos significados que os desenhos exprimem.
A discussão dos resultados do estudo incidiu na maneira como as formas, contorno, pormenores e cor incluídas no desenho, incorporavam as dimensões funcional e imaginativa do significado. Argumentou-se que as crianças mais novas do estudo concebiam a ideia de amizade em termos de contexto imediato, a pessoa com quem acabavam de brincar, funcionalmente, estes desenhos manifestam-se como categorias gerais de pessoas, imaginativamente os desenhos das crianças mais novas, não está tanto na manipulação das formas para exprimir um sentimento consciente e personalizado.
Para os seis a oito anos incluídas neste estudo, os desenhos representam uma nova ideia de amizade. As crianças representam um conceito mais duradouro de um amigo que já existia através do tempo e do espaço. Em termos da dimensão funcional destas imagens argumenta-se que a categoria representável e geral das pessoas vistas nos desenhos das crianças mais novas era agora substituída por uma sub-categoria mais requintada que incluía pormenores de tipos específicos de gente. Estes desenhos, sob o ponto de vista imaginativo, também revelam uma mudança relativamente aos feitos pelas crianças mais novas. Nesta idade, as crianças manipulavam, claramente, formas para criar uma explosão de pormenores, alguns dos quais refletiam o mundo concreto e outros meramente inventados. Quer reais, quer inventados, os pormenores destes desenhos estavam organizados para refletir conceitos mais personalizados dos seus amigos.
Os desenhos feitos pelas crianças mais velhas refletiam conceitos alatamente personalizados e individualizados da amizade.
Ao nível funcional, os desenhos estavam estruturados para incluir mais pormenores anatómicos e caraterísticas específicas, através dos quais os seus amigos podiam ser reconhecidos convencionalemente. Curiosamente, e em contraste com muito que está escrito sobre o desenvolviemento artístico das crianças , este estudo mostrou que a dimensão imaginativa é mais forte entre os elementos deste grupo mais velho. Verificou-se que estas crianças manipulavam a forma, contorno e pormenor e cor da maneira altamente individual. Foi neste grupo que as crianças incluiram no seu sistema de significação ideias e sentimentos acerca dos seus amigos, as quais nem sempre eram concretamente reconhecíveis. Mais ainda estas crianças pensaram em representar emoções e inventaram contextos para os seus desenhos.
É assim salientado pela autora neste estudo sobre o desenho infantil não só o nível de imaginação e criatividade que é transparecido através do desenho mas também o nível emocional e a sua perspetiva de construção social da realidade.
Talvez pela riqueza de elementos que se pode extraír dos registos gráficos/visuais vários teóricos debruçam-se sobre esta problemática, de salientar, também o estudo de Dinah Martins de Sousa Campos que aprofundou a avaliação psicológica através da análise gráfica:
O primeiro trabalho, digno de menção sobre o desenho como fenômeno expressivo foi realizado por Ricci, em Bolonha, em 1887. Estudou vários estágios da evolução do desenho da figura humana realizado por crianças mas concentrou-se nos aspetos estéticos e na evolução da cor e nas suas relações com a arte primitiva. Sob a inspiração de Karl Lamprecht, o seminário da História Universal e da Universidade Leipzig realizou uma extensiva investigação sobre os desenhos das crianças, provindos de diferentes regiões de África, Ásia, América e, provavelmente, da Europa.
Entre os primeiros interessados na expressão da atividade psicológica infantil através do desenho, podem-se mencionar ainda os nomes Kerschebsteiner, grande pedagogo de Munich (1905), M Verworn de Gotinga (1906), w. Stern (1906) Nagy de Budapest (1906) e Paola Bencini de Florença (1908). Entre outros autores.
O teste do desenho como instrumento de diagnóstico de personalidade.
O teste do desenho (p.16) como ténica projetiva, em virtude da sua economia do tempo, fácil administração e férteis resultados clínicos,tem-se tornado o mais frequentesuplemento do Rorschach e do TAT, nas clínicas psicológicas norte-americanas. F Goodenough que havia organizado uma Escola para Avaliação do Nível rental, baseada principalmente no número de detalhes do desenho de um homem percebeu também que o seu teste permitia a análise de fatores de personalidade. Identicamente, Bender verificou que certas crianças, classificadas pelos professores como portadoras de certos traços psicopatológicos apresentam também desenhos com caraterísticas não encontradas entre as demais crianças.
Hanvik também concluiu através de um estudo experimental que as crianças emocionalmente perturbadas não desenham a figura humana na proporção das suas aptidões inteletuais.
E, assim, usando o teste Goodenough vários psicólogos clínicos e psiquiatras começaram a verificar que o desenho oferecia indicações seguras para diagnóstico e mesmo prognósticos de traços de personalidade. Tanto o Teste da Figura Humana como o teste da casa da árvore-Pessoa (House Tree Person) que organizam tenicas projetivas para o estudo da personalidade surgiram da utilização dos testes do desenho como escolas de inteligência. O teste do desenho, da figura humana Karen Machover surgiu da sua experiência com o teste de Goodnough na avaliação da inteligência infantil. Similarmente, Jonh N Buck organizou a sua tenica projetiva usando o desenho da casa- árvore-pessoa. (House Tree Person) que organizam a sua tenica projetiva usando o desenho casa-árvore- pessoa, depois das suas experiências na análise de fatores inteletuais no desenho. Desta maneira Buck e Machover, trabalhando independentemente na virginia e em Nova Iorque, respetivamente tornaram-se grandes representantes no campo das ténicas projetivas baseadas no desenho.
De forma resumida pode-se dizer que o campo da interpretação do desenho como ténica projetiva tem as seguintes teses fundamentais:
- O uso dos significados de símbolos de psicanálise e do folclore derivadas do estudo clínico dos sonhos antigos, artes, mitos, fantasia e outras atividades influenciadas por determinação inconsciente.
- Experiência clínica como os mecanismos de deslocamento e substituição como também uma extensa gama de fenómenos patológicos, especialmente os sintomas de conversão, obsessão, compulsão, fobias e estados psicóticos, em fim todos os que se tornam compreensíveis somente na estrutura conceitual do simbolismo.
- Liberação da simbolização empregada, despertando as associações do paciente.
- Evidência empírica que é bem ilustrada quando se faz o estudo do caso.
- A abundância de franca simbolização inconsciente dos psicóticos
- A correlação entre as projeções dos desenhos feitos nos diversos fases de tratamento e o quadro clínico na época em que os desenhos foram produzidos.
- A consistência interna entre as respostas a um teste personalidade e um teste do desenho e também a consistência entre os dados da História do caso.
- E, mais, basicamente, a estrutura interpretativa do desenho tenico projetivo fundamenta-se em estudos experimentais. Kotkov e Goodman investigam as premissas básicas da projeção da imagem do próprio corpo no desenho de uma pessoa/feito por mulheres obesas, com os desenhos de um grupo de controlo constituído por mulheres não obesas. Na maioria dos casos, os desenhos das mulheres obesas eram maiores do que as do grupo de controlo, constituído por mulheres não obesas. Uma criança que desde tenra idade tenha uma perna mais curta que a outra desenhava sempre uma perna mais curta.
Todavia, não são só os aspetos físicos da autoimagem que são projetados mas também os psicológicos. Em um interessante estudo sobre o papel sexual e o autoconceito. Fisher e Fisher pediram a 76 mulheres, em tratamento psiquiátrico para desenharem um a figura feminina. Aqueles que desenham pessoas com um baixo grau de feminilidade de acordo com o julgamento dos julgadores tendem a ter menos experiências heterossexuais, mais disfunção e vida sexual mais limitada. Aquelas que desenhavam figuras altamente femininas tinham levado uma vida de maior promiscuidade, porém menos satisfatória. O grupo de mulheres que produziram desenhos de feminilidade média tinham alcançado satisfação mais genuína no seu papel feminino.
Assim pode-se concluir que a afirmação de que o indivíduo desenhava o que sente em vez do que somente o que vê, resume as observações dos clínicos e experimentadores mencionados. O individuo, pelo tamanho, localização, pressão do traço, conteúdo do desenho, comunica o que sente, em adição ao que vê. Seus aspetos subjetivos definem e dão cor às suas intenções objetivas.
Segundo Dinah Martins a utilização do desenho como tecnica projetiva é mais vantajosa.
O desenho como técnica projetiva ultrapassou a fase de se inquirir se se trata de uma boa ténica para a exploração da personalidade, achando-se, pois no estágio de se perguntar “em que áreas ou que problemas é mais vantajosa”.
O desenho, tenica, basicamente não verbal tem uma óbvia vantagem de ter aplicabilidade a criança mais jovens. Vários especialistas como L. Bender, Flugel Levy tem feito observações nesse sentido. Este último, empregando o desenho como um complemento da psicanálise de crianças mostrou-se impressionado com o fato de que as crianças acham muito mais fácil expressar-se através de desenhos do que de palavras.
O teste projetivo é também vantajoso entre indivíduos sem escolaridade e mentalmente deficientes; os estrangeiros como também os mudos; muito tímidos e retraídos entre outros.
L. Bender acresce ainda à lista o caso dos clientes dos clínicos de leitura, os indivíduos com perturbação de leitura, com muita frequência mostram-se compensatoriamente adeptos da habilidade artística para articular os seus problemas emocionais e sociais. Os bloqueios emocionais nas áreas verbais, frequentemente embaraçam testes Rorschach ou Tat.
Também quando o indivíduo coopera conscientemente e não oferece resistência no nível do subconsciente, geralmente os clínicos concordam com Rorschach, comumente,oferece um quadro mais rico da personalidade, mas quando o indivíduo é evasivo, ou precavido, o desenho projetivo tem sido indiciado como instrumento indicado. O volume daquilo que Rorschach produz da personalidade do indivíduo vem por meio de uma rota relativamente indireta.
Por outra lado, nos desenhos o indivíduo expressa-se de uma forma mais primitiva concreta ou de nível motor. Landiberg comenta que nos testes Rorschach, os índividuos parecem mais inteletualemente conscientes da sua expressão verbal, mais inteletualmente conscientes da sua expressão verbal, enquanto perdem um pouco deste controlo em sua expressão criadora e motora no desenho.
Segundo Dinah Martins de Sousa Campos no seu livro “O teste do desenho como instrumento diagnóstico de personalidade”, ultimamente, têm surgido interessantes observações sobre os efeitos da existência de diferenças nas profundezas da personalidade analisada por técnicas projetivas verbais ou não verbais. O emprego do desenho como ténica projetiva levou a descobrir-se que os conflitos mais profundos, frequentemente, se refletem mais prontamente no papel.
Em um estudo comparativo do desenho com os resultados do Tat, Gallase e Spoerl verificaram que a maior parte do material colhida do teste do Desenho- de-Uma pessoa era de nível inconsciente e representava as necessidades básicas quase sem alterações enquanto material TAT era mais colorido e alterado pelos mecanismos de defesa mais comuns.
Zucker nas suas pesquisas, conclui que os desenhos são os primeiros a indicar estados psicopatológicos incipientes e os últimos a perder os sinais da moléstia. Depois que o paciente se está recuperado. Os desenhos são altamente sensíveis às tendências psicopatológicas, superando as outras técnicas projetivas nesse sentido.
Em uma bateria projetiva, os desenhos desempenham uma função especial de reduzir ao mínimo a ameaça e observar a máxima o choque da situação do teste como primeiro teste , os desenhos servem-se como um elemento de ligação para facilitar o exame clínico. A tarefa de desenhar facilita o exame clínico. A tarefa de desenhar facilita ao examinando excluir o examinador, na fase inicial, de ambientação ao novo espaço.
Duhsler refere que as pessoas com distúrbios emocionais podem ser levadas mais facilmente do desenho à expressão verbal. Bender também valoriza a utilidade do desenho como um meio de estabelecer rapport da situação.
A autora, Dinah Martins de Sousa Campos [p.29] apresenta-nos uma aplicação prática da aplicação do desenho para diagnóstico de personalidade e normas de interpretação.
O teste do grafismo pode ser aplicado individual ou coletivamente, isto é, em pequenos grupos. Neste último caso, face á economia de tempo, possibilita joeiragem para identificação dos casos que apresentam problemas mas não permite que se proceda às observações e anotações minuciosas sobre cada propósito como ocorre na aplicação individual.
Segundo John Buck pode-se obter uma bateria de testes constituída pela sequência. Desenho da casa, desenho de uma árvore e desenho de uma pessoa. Assim obtem-se o que ele chama HTP (house, Tree; Person). Primeiro somente o lápis preto, depois cores constituído a bateria acromática e cromática do HTP.
Entretanto ainda de pode ampliar a bateria daquele psicólogo norte-americano, pedindo-se ao propósito mais alguns desenhos...
- Desenho de uma casa
- Desenho de uma árvore
- Desenho de uma pessoa
- Desenho de outra pessoa do sexo oposto
- Desenho da família
- Desenho espontâneo
Após recolhidos os desenhos pode-se fazer um questionário esclarecedor sobre os desenhos...
Sobre o desenho de uma casa
- É uma casa
- De quem é a casa
- Essa casa possui escada
- Gostaria de morar nela? Por quê?
- Com quem gostaria de morar nessa casa?
- O que mais faz falta nessa casa?
Sobre o desenho de uma árvore...
- Que árvore é esta que você desenhou?
- Onde poderia estar situada? Quem a plantou? Por quê?
- Esta árvore está sozinha ou no meio de outras?
- Será que gostaria de estar no meio de outras?
- Que impressão lhe causa: parece uma árvore viva ou morta? Por quê?
- Quanto falta para ela morrer?
- Comparando outra árvore com uma pessoa, você diria que é do sexo masculino ou feminino...
- Que desenho lhe sugere
- Você gostaria de dizer mais alguma coisa a respeito dessa árvore
Sobre o desenho de uma pessoa...
- O que está a fazer?
- A Idade?
- Casada?
- Tem filhos?
- Vive com?
- Sente-se mais ligado a...
- Irmãos...
- Tipo de trabalho?
- Instrução alcançada?
- Ambição
- Capacidade
- Forte
- São?
- Bom moço?
- O melhor dele é?
- O pior?
- Tipo Nervoso?
- O que tem no pensamento?
- Temores?
- Está triste ou alegre?
- O que detesta?
- O que mais deseja?
- O que é bom nele?
- O que é mais negativo?
- Sempre só ou com os outros?
- O que dizem dele?
- Olham-no ou falam dele’
- Acredita nas pessoas?
- Teme os demais?
- Como está com a esposa? Marido? pai?
- Separado?
- Primeira experiência sexual?
- Tem noiva? Espera casar?
- Tipo de jovem com quem sai?
- Teve alguma vez relações sexuais com a pessoa do mesmo sexo?
- Masturba-se?
- Que pensa do desenho?
- Gostaria de ser como ela?
Valorização do próprio paciente
- Pior parte do seu corpo...
- A melhor parte do seu corpo...
- Que tem de bom...
- Qual a sua parte má...
Desenho da Família...
- Quem são as pessoas que desenhou?
- A família está completa?
- Quem está faltando?
- Por que não está aí?
- Em que está pensando quando está desenhando?
Desenho espontâneo
- Que representa o seu desenho?
- Este foi o primeiro tema em que pensou quando desenhou? Que pensou antes de desenhar..
- Agora olhando para o desenho como o considera?
Questionário de associações para o desenho da pessoa, em caso do testado ser criança...
- De que sexo é esta pessoa
- Qual a idade aproximada que você lhe daria?
- Como se sente?
- Em que pensa?
- Quais as suas necessidades?
- Quais as suas qualidades?
- Quais os seus defeitos?
- Se esta pessoa fosse a personagem central de uma novela que tipo de pessoa representaria?
- Agora olhando para o desenho gostaria de acrescentar alguma coisa?
O paciente pode recusar-se a desenhar.
Dinah Martins de Sousa Campos para além do questionário acerca do desenho acrescenta uma interpretação personalizada mais detalhada de possíveis significações sobre a forma de desenhar no que concerne a alguns aspetos gerais do desenho, pressão no desenhar, caraterização do traço, simetria do desenho, detalhes do desenho, movimentos do desenho, tamanho da figura, uso da borracha, normas para interpretação do desenho da casa, normas de interpretação do desenho da árvore, normas para interpretação específica de cada parte da figura humana, desenho da família...
Salientamos algumas das suas linhas orientadoras sobre a interpretação de alguns aspetos gerais do desenho:
Localização do papel
- No meio da página – indica pessoa ajustada. Crianças que desenham no centro da página mostram-se mais autodirigidas, autocentradas
- Desenhos fora do centro da página – pessoas mais descontroladas e dependentes. Desenho não levado a grandes extremos da página indica grande segurança.
- Desenhos em um dos cantos – pessoas fugindo ao meio. Pode indicar fuga ou desajuste do indivíduo ao ambiente
- No eixo horizontal, desenho mais para a direita do centro horizontal- comportamento controlado, desejando satisfazer suas necessidades e impulsos, prefere satisfações inteletuais, do que as emocionais.
- No eixo horizontal, mais para a esquerda do centro horizontal – comportamento impulsivo, procura satisfação imediata de suas necessidades e impulsos.
- Lado esquerdo da página – indica inibição ou controlo inteletual, introversão
- Lado direito – Extroversão e procura de satisfação imediata. O desenho no canto superior direito é menos grave que no canto esquerdo.
- Na linha vertical acima do ponto média – Desajuste com possibilidade de reagir ao mesmo. Acha que está lutando muito, seu “goal” é inatingível: tende a procurar satisfação na fantasia, em vez na realidade: tende a manter alheio inacessível.
- Abaixo do ponto médio da página – O indivíduo sente-se inseguro e inadequado, em depressão, preso à realidade e ao concreto, firme e sólido. Criança de escola primária prefere o quadrante de cima esquerdo, mas quando atinge o 8º ano escolar volta gradualmente para o centro.
- Abaixo, mas quase no centro – desajuste, debilidade física e fuga
- Fora da margem do papel – debilidade mental ou fraco indice de socialização
- Figuras dependuradas nas margens do papel (como janelas dependuradas dos bordos das paredes) – refletem necessidades de suporte, medo de ação independente, falta de auto-afirmação do sujeito
Pressão no desenhar
Também oferece indicações sobre o nível de energia do sujeito
- Pouca pressão, traço leve
Baixo nível de energia, repressão e restrições. Neuróticos, medrosos, esquizofrénicos, crónicos e catatónicos exibem pouca pressão, linhas quase esmaecidas. - Índivíduos deprimidos e com sentimentos de inadequação preferem traços muito leves, quase apagados.
- Muita pressão, traços fortes – sujeitos extremamente tensos
Psicopatas, casos orgânicos, epiléticos e encefalíticos empregam forte pressão. Foi encontrada variação na pressão entre os mais fléxíveis, adaptáveis em contraste com a grande uniformidade de pressão exibida pelos catatónicos e os débeis mentais.
Caraterização do traço
- Forte – medo, insegurança, agressividade, sádica, dissimulação
- Leve normal – Bom tônus, equilíbrio emocional e mental
- Apagado – Dissimulação da agressividade, medo de revelar os problemas, debilidade física, inibição, timidez discreta.
- Trêmulo – Insegurança, dissimulação em que ganha tempo para procurar enfeitar os traços. Doenças cerebrais, disritmia, esgotamento nervoso.
- Reto com interupções - pessoa que contorna a situação e dissimulação do problema. Pessoa agressiva que se controla.
- Interrompido, mudando de direção – dissimulação do caráter. Não aceitação do meio ambiente. Oposição
- Peludo – personalidade primitiva, age mais pelo instinto do que pela razão. Quase sempre acusa uma disritmia
- Ondulado - dentro do ciclotímico – disritmia, doenças cerebrais
- Em negrito - entrando em conflito
- Pontilhado – Dissimulação bem grande, quase em neurose
- Apagado e retocado – zona de conflito. Quanto maior o reto, maior o conflito
- Sombreado – pessoa sonhadora. Pode ser ainda descuidada, sádica, máscara seus conflitos, medo e insegurança. Presa à fase anal. Pouco cuidadosa com a roupa.
- Passado e repassado – conflito na zona em que aparecer, boca, braço, etc.
- Apagado, emendado e retocado – Zona de conflito e de dissimulação
- Repetido – uso de muitos traços para o desenho. Insegurança sentimento de perda afetiva, imaturidade sexual, homossexualidade (principalmente no desnho da árvore). Agressividade, problema encontrado.
- Reta quebrada – traço dentilhado. Pode aparecer nos acessórios e não na própria figura. Repressão á agressividade com tendências à introspeção.
- Anguloso - tendência à introversão, ao isolamento. Aparecendo em figura com reforço no contorno e negrito juntos indica rejeição à figura humana. Trata-se de conflito grave, encontrado em casos de crianças violentadas quando menores.
Simetria do desenho
- Falta de simetria - insegurança emocional
- Simetria bilateral – rigidez sistema obcessivo-compulsivo de controlo emocional, e que pode ser expresso por repressão e superinteletualização. Também pode indicar depressão.
Detalhes do desenho
- Detalhes inadequados – tendencia a retraimento
- Falta de detalhes adequados – sentimento de vazio, energia reduzida, caraterística de indivíduos que empregam defesas pelo retraimento e, às vezes, depressão
- Detalhes excessivo – compulsivo-obcessivo – Crianças neuróticas ou adultos com sentiment de que o mundo é incerto, imprevisível, ou perigoso, tendem tendem procurar defender-se contra o caos externo ou interno. Criando um mundo rigidamente organizado e altamente estruturado.
- Obsessivo-compulsivos e esquizofrénicos incipientes ou orgânicos – Performances muito perfeitas, executadas com inusual cuidado e controlo indicam um eu fraco, medo de se levarem impulsos, não podendo relaxar a vigilância. Para estas pessoas as relações espontâneas com outras pessoas e o mundo exterior representam uma ameaça.
Movimentos nos desenhos
Quase todos os desenhos sugerem alguma forma de tensão cinestésica, desde a rigidez até a extrema mobilidade. O movimento está associado à inteligência e ao tônus vital.
- Movimento excessivo – indica histerismo, excitação. Também pode ser necessidade de comunicação ( se os traços tendem a sair da margem trata-se de aspetos negativos
- Movimento monótono – pode corresponder a apatia
- Movimento hesitante – insegurança. Dissimulação, fracasso, controlo sobre reações.
Tamanho da figura
A relação entre o tamanho do desenho e o espaço disponível na folha de papel pode estabelecer um paralelo com a relação dinâmica entre o sujeito e o seu ambiente, ou seja entre o sujeito e as figuras parentais.
O tamanho da figura contém, portanto, indicações sobre a auto-estima, autoexpansao, ou fantasias de autossuperação (aumento da valorização própria).
O tamanho sugere a forma pela qual o sujeito está reagindo ao meio ambiente.
O desenho médio de uma figura completa é aproximadamente 7 polegadas de comprimento, ou dois terços do espaço disponível.
- Tamanho normal – inteligência, com capacidade de abstração espacial e equilíbrio emocional
- Tamanho diminuto – pode ser caso de inteligência elevada, mas com problemas emocionais. Pode indicar inibição de personalidade, desajuste ao meio, repressão à agressividade, timidez...
- Tamanho Grande – Fantasia.
- Tamanho exageradamente grande (atingindo quase os limites da página). Sentimento de constrição do ambiente com concominante ação supercompensatória ou fantasia. Não tem noção de tamanho.
O uso da borracha
- Uso normal – autocrítica
- Ausência total, quando a borracha se acha presente – falta de crítica
- Uso exagerado de borracha – autocrítica já consumada e estruturada. Incerteza, indecisão e insatisfação consigo mesmo
Riscar o papel
Indica dificuldade de adaptação fraco índice de controlo.
A autora Dinah Martins de Sousa Campos, aprofunda ainda outros pormenores relacionados com o desenhos da árvore, casa e pessoa, deixando trespassar a ideia que no seu parecer o traço, a cor, o tamanho utilizados por cada pessoa transportam multissignificâncias sobre a sua personalidade e sobre o seu comportamento que se podem analisar numa tentativa de compreensão sobre a mente humana.
Os diversos autores referenciados nesta incursão no universo do símbolo do desenho infantil de forma diferenciada encontram nos desenhos infantis uma importante forma de expressão que deve ser explorada.
Este recurso para além de ativar a motricidade, memória e concentração estabelece também uma ponte de comunicação entre o mundo infantil (este instrumento de comunicação também pode ser utilizado com adultos) e que se consegue através de técnicas projetivas ou outras fazendo-se uma aproximação singular ao seu mundo. Os seus primeiros desenhos são os seus primeiros registos físicos, um papel, um lápis de cor do seu mundo interior.
Descobrimos as suas cores preferidas, os seus assuntos preferidos...os seus sonhos ,as suas fantasias inventadas, os seus receios, os seus sentimentos.
Ao mergulharmos nas suas histórias desenhadas e colorizadas, viajamos com eles nos seus universos pintados em papel e lápis de cores...e sonhamos também...
Ana Margarida Alves
Bibliografia
- O teste do desenho como diagnóstico da personalidade, Dinah Martins de Sousa Campos, Editora Vozes, 41 Ed.Petropolis, RJ, Vozes, 2009
- Desenho Infantil, um estudo sobre os níveis do símbolo, Maria Isabel Gândara, Texto Editores
- https://www.insight.pt/desenho.desenvolvimento.infantil.htm, artigo da notícias magazine n.º829, 13 de Abril de 2008
- https://familia.sapo.pt/crianca/educacao/bebe_saude/991713.html