As migrações que se estão a tornar um verdadeiro "drama humano" em Itália
“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”
John Donne Meditações VII.
Talvez porque devêssemos perguntar porque para alguns seres humanos o destino tem que ser irremediável tão trágico?
No sábado, 11 de Março de 2023 pelo menos 5000 pessoas manifestaram-se em Cutro, na costa Italiana sob o lema “Parem com o massacre”.
As ONG´s – organizações não governamentais – acusam o governo de negligência no resgaste das vítimas do naufrágio de 26 de Fevereiro 2023 em que morreram no mar cerca de 70 migrantes.
O protesto começou em Cutro, perto do local onde se deu o naufrágio, cujo o resgate deficiente chocou o mundo inteiro, e terminou à beira mar onde este sábado foi encontrada mais uma vítima, uma menina com seis anos.
A manifestação foi expressiva e organizada pelo Grupo de Refugiados RETE (rede) e Asilo e contou com representantes de dezenas de associações, partidos políticos, sindicatos e movimentos cívicos.
Desde o dia 26 de Fevereiro que o mundo inteiro tem as atenções voltadas para mais uma tragédia humana de migrantes que saíram do seu país, provavelmente, completamente desesperados em busca de um novo rumo, muitos deles, pagaram a preço de ouro o bilhete fatal para a morte no mar.
Desta vez tratou-se de um barco com mais 100 pessoas a bordo que naufragou na região da Calábria no Sul de Itália. As pessoas em cauda eram oriundas do Paquistão, Afeganistão, Turquia e da Somália. A embarcação pesqueira naufragou - segundo um artigo de João Pedro Pincha, Jornal Público - cerca de 100 metros até atingir a costa Italiana. As más condições atmosféricas provocaram o incidente.
No entanto, apesar das tentativas constantes para chegarem a Itália e o Governo do país tudo fazer para travar/controlar a entrada de novos migrantes. Estes não se demovem na sua aspiração de atingirem a Europa, muitas vezes fugindo à fome, ao frio, à guerra, às repressões políticas do seu país de origem. Porém, quando chegam à Europa muitos deles são apenas considerados migrantes económicos e acabam por ser devolvidos aos seus país.
Também uma notícia de 13/03/2023 um grupo de migrantes , mais de 700 chegaram a Itália, mais precisamente, Lampedusa está a ser transferido para o porto em “Empedocle” na Sicília.
Desde o início do ano até 10 de Março foram contabilizados mais 17 mil migrantes que tinham desembarcado em Itália, quase o triplo dos que desembarcaram o ano passado.
Existe um braço de ferro em Itália quanto à questão das migrações. As ONG´s acusam o governo de ser repressivo e não facilitar o seu trabalho que é tentar salvar milhares de migrantes que diariamente se aventuram no mar.
Porém, o Governo Italiano diz que está tudo bem e que faz o que pode e acredita que ao facilitar o trabalho de resgate e salvamento está incentivar a vinda de novos migrantes e a incentivar a exploração dos traficantes de seres humanos.
Por outro lado, a opinião apercebe-se que o Governo Italiano não apoia as migrações e até faz tudo para os ver de volta para os seus países de origem.
O Parlamento aprovou uma nova lei que obriga os navios das Organizações Humanitárias a pedirem acesso a um porto e a navegarem até lá, sem demora, depois do resgate. Em vez de continuarem no Alto mar disponíveis para ajudar a outros barcos potencialmente em perigo como era até então prática.
O artigo de João Pedro Pincha do “Público” refere-se à Rota Turca das migrações. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) afirma que em 2022 as chegadas a partir da Turquia representam 15% do total de chegadas por via marítima à Itália e quase metade das pessoas que fazem essa rota provém do Afeganistão.
Segundo os dados da Frontex 28 832 pessoas embarcaram o ano passado na chamada rota turca com destino a Itália e à Grécia.
Porém o artigo do jornal “Público” afirma que esta não é a rota mais usada por migrantes para chegarem à Europa: a mais procurada e mais mortífera é a do mediterrâneo central onde morreram ou desapareceram mais de 17 mil pessoas desde 2014.
A tragédia do dia 26 de Fevereiro tornou-se tão mediática porque as autoridades foram acusadas de tardarem no socorro e deixarem morrer dezenas de pessoas.
O problema destas migrações é que muitas delas acabam em verdadeiros dramas humanos. Os migrantes partem sem nada e andam à deriva no mar e muitas vezes quando chegam a terra são ignorados e atirados para centros de acolhimento sobrelotados em condições muito pouco dignificantes. E muitas vezes espera-lhes o retrocesso ao país de origem ou porque não têm documentos, ou porque são considerados apenas migrantes económicos ou porque, porque um sem fim de razões que os leva a ignora-los…
Pela via marítima, vindos sobretudo de África, dezenas de migrantes também chegam por vezes a Portugal, em pequenas embarcações, principalmente, ao Algarve e, também, como os migrantes que chegam a Itália fogem de condições de vida complexas e indignas e muitas vezes vêm-se envolvidos num emaranhado de burocracias e acabam por ter que regressar…
Porém, não nos podemos esquecer que fomos incansáveis quando se tratou de acolher e integrar os refugiados de guerra Ucranianos que também chegaram em condições deploráveis cheios de traumas, dor e sofrimento e apesar bem acolhidos ainda sofrem à distância não só por si mas também pelos seus familiares que por lá ficaram a viver os mais traumáticos horrores daquela guerra sem fim.
Portugal sempre foi conhecido por ser sensível aos problemas humanos e um país acolhedor. Uma vez que nós também somos com uma forte história de país de emigração e também já estivemos e ainda estamos , por vezes, na pele daqueles que tinham que partir para locais em que muitas vezes não eram bem recebidos e sofríam as maiores atrocidades.
Também partimos - nós os portugueses - muitas vezes sem nada apenas com a esperança que o que estava para vir não poderia ser pior do que a situação em que nos encontravamos no presente momento.
Talvez por isso talvez nos toque tanto aquele drama das migrações em Itália em que milhares de migrantes são acumulados em centros de acolhimento sem condições em que o governo só está à espera de uma ínfima desculpa para os expulsar. E tantos e tantos outros nem chegam a ver a terra ficam para sempre perdidos nos mares…
Ana Margarida Alves
Apoio Bibliográfico:
- https://pt.euronews.com/2023/03/13/milhares-de-migrantes-chegaram-a-italia-de-barco-nos-ultimos-dias
- https://br.financas.yahoo.com/noticias/milhares-migrantes-chegaram-itália-barco-185702073.html
- https://jornaleconomico.pt/noticias/migracoes-mais-de-5-000-manifestam-se-em-cutro-pedindo-parem-o-massacre-1005249
- https://www.publico.pt/2023/02/26/mundo/noticia/menos-43-migrantes-morrem-largo-costa-italiana-2040314