Biografia de Volodymyr Zelensky: do riso da comédia às lágrimas da guerra na Ucrânia

14-08-2022 00:34

                                                                                                                            

            Em 38 capítulos, o jornalista Sergii Rudenko conta a história incrível do sexto presidente da Ucrânia. Relatando de uma forma minuciosa e detalhada como foi possível um ator mediático se tornar presidente da Ucrânia e como a inesperada guerra na Ucrânia o lançou para o mais duro desafio da sua vida.

            Uma história quase improvável que teve um desfecho inimaginável. Todavia, a invasão da Ucrânia veio a revelar-se uma das maiores provações do presidente Volodymyr Zelensky.

            Inesperadamente, esta jovem democracia com cerca de trinta anos viu-se completamente ameaçada. A Ucrânia viu-se completamente destruída pelo poderio russo e obrigou milhares de ucranianos a refugiarem-se em, abrigos ou a fugirem da Ucrânia, criando um a onda de refugiados sem precedentes. Após a guerra, que ainda está longe do fim, não restará pedra sobre pedra e a reconstrução do país será uma árdua tarefa.

            Sergii Rudenko nesta biografia traça um retrato de Volodymyr Zelensky, numa linguagem simples, cheia de pormenores, desde a sua infância, à ascensão ao mais alto cargo da nação, culminando com crueldade da guerra na Ucrânia. É uma espécie de biografia dum presidente ainda jovem ficando ainda muito por contar, porque a “procissão da guerra da Ucrânia ainda vai no adro”, recorrendo a uma expressão de cariz popular.

            Volodymyr  Zelensky tornou-se conhecido do grande público em 1997 quando se tornou vencedor do concurso televisivo de humor “Clube dos Divertidos e Perspicazes” apresentado por Aleksander Maslyakov. De um dia para o outro, o jovem ator com apenas 19 anos acordou famoso até se tornar presidente continuava a ser um ator popular e mimado pelo público ucraniano.

            Após um salto improvável do palco da vida para a cena política, sem experiência, nem largos conhecimentos nesta área, foi eleito a 21 de Abril 2019, presidente da Ucrânia com uma vitória esmagadora com o voto de 13, 5 milhões de eleitores.

    Porém, o que parecia um cargo de sonho virou um lugar de pesadelo.

            Putin, o Chefe de Estado da Rússia, invadiu sem dó nem piedade a Ucrânia adivinhando os planos de Zelensky de auxiliar a Ucrânia a atingir  a estabilidade tão almejada por este jovem país, sonhando com a entrada na União Europeia e também  com a entrada na Nato (Organização do Tratado do Atlântico Norte),  no intuito de  se afastar cada vez mais do seu passado ligado à Rússia e conquistar a simpatia dos países da Europa Ocidental.

            Às 4.50 da madrugada de 24 de Fevereiro de 2022, Moscovo lançou os primeiros ataques de mísseis contra o território ucraniano.[1] Kiev, Kharkiv, Odessa, Mariupol, Dnipro, e outras cidades foram atingidas. Essas explosões fizeram “tremer a terra”.

            Segundo relata o jornalista Sergii Rudenko “As cidades acordaram para ultrapassar o primeiro choque. As sirenes de ambulâncias, bombeiros, socorristas rasgaram o ar gélido de Inverno. A mente recusava aceitar o facto de a Rússia estar a bombardear um país livre e soberano em pleno coração da Europa.”

            Zelensky acreditava que podia fazer Putin parar. Embora, depois, depois da anexação da Crimeia e da ocupação de uma parte da região do Donbass em 2014 a única coisa que faria Putin parar seria a rendição total da Ucrânia.

            Foi com o pretexto de defender a chamada “independência” das  Repúblicas autoproclamadas de Donestsk e Lugansk que Putin de “surpresa” invadiu a Ucrânia. A invasão deste referido país fez catapultar o presidente Zelensky para as páginas dos jornais de todo mundo, para a televisão, para Internet. E um herói nacional tornou-se um herói a nível mundial.

            Mas, para compreendermos a ascensão meteórica de Voldymyr Zelensky temos que recuar um pouco atrás, conforme nos conta o jornalista Sergii Rudenko na biografia sobre este chefe-de estado.

            No dia 30 de Abril , a Comissão Eleitoral divulga os resultados da  eleições presidenciais: 73,22% de Volodymyr Zelensky contra 24, 45% de Petro Poroshenko.[2]

            Todavia, o novo presidente sabia que não era bem vindo nos meandros da política plena de intrigas de gabinete”.  “Nem a vitória esmagadora nas eleições fez dele igual aqueles que passaram dezenas de anos nos gabinetes do poder nas colinas de Pechersk no coração da capital”, afirma-nos Sergii Rudenko. A sua perspicácia e intuição para o ambiente que se vivia nos bastidores fê-lo fazer um ultimato ao parlamento. “A tomada de posse deve acontecer no dia 19 de maio”. Mas na realidade a tomada de posse ocorreu no dia 20 de maio.

            O autor destaca do discurso de consagração como presidente uma pequena passagem do início «Caros Ucranianos! Quando ganhei as eleições o meu filho de seis anos disse-me “Pai, ouvi dizer que a televisão que Zelensky é presidente. Então, também sou presidente”. Parece uma piada infantil. Mas a seguir percebi que é uma grande verdade. Cada um de nós é presidente.»

           

 

Como Zelensky chegou a presidente

            Nasceu um partido “Servo do Povo”[3].  Um partido sem ideologia, sem sedes locais, sem militantes. Foi no seio deste partido que Volodymyr Zelensky ganhou as eleições. Porém, Sergii Rudenko salienta, um ínfimo pormenor, que embora constasse no boletim de voto que Zelensky era apartidário e candidato independente, todos sabia sub-repticiamente que o Servo do Povo significava Zelensky e Zelensky significava Servo do Povo.  Após as eleições presidenciais, não restavam dúvidas que um partido de liderança informal seria o partido de maior importância no país.[4]

            No seu discurso de tomada de posse Volodymyr Zelensky tinha anuncia a dissolução do Parlamento  e a convocação de eleições  legislativas antecipadas.

            Volodymyr Zelensky tinha grandes expetativas em relação à antecipação da eleições que acabaram de ficar marcadas para 21 de Julho de 2019. O presidente almejava um terço de assentos parlamentares. Porém, como conta Sergii Rudenko os resultados eleitorais superaram as expetativas e o Servo do Povo obteve 43,16 votos.[5]

            Mais de 130 candidatos apoiados pelo “Servo do Povo”, venceram os círculos uninominais. Conquistaram 254 assentos na Rada Suprema[6]. Foi a primeira vez na história da Ucrânia independente que um  partido ficou com a maioria do parlamento.

            Implicitamente, com base na leitura desta biografia, compreende-se que Volodymyr Zelensky não tinha planos de compactuar em “caldinhos políticos” mas sim revirar completamente todo o sistema vigente. Foi uma autêntica reviravolta das cadeiras do poder.

            254 deputados entraram no parlamento com a mesma identidade. Foi a boleia de Volodymyr Zelensky que os assentos parlamentares ficaram ocupados por desempregados, fotógrafos de casamento, artistas, donos de restaurantes, com pouca formação e nível de conhecimentos medianos aqueles que nunca  seriam capazes de entrar na política sem Volodymyr Zelensky. O novo parlamento começou a funcionar a 29 de Agosto e apenas em 12 horas, trocou todos os altos responsáveis do país, desde ministros até ao procurador-geral. Sem aviso, nem “paninhos quentes”, nem negociações com outros partidos a ordem dos fatores tinha sido alterada.

            A partir dessa data todo o poder da Ucrânia ficou absolutamente concentrado nas mãos de Volodymyr Zelensky.

            Na constituição do governo não houve nomeações inesperadas. O amigo de infância de Volodymyr Ivan Bakanov passou a ocupar o cargo de diretor do serviço de Segurança da Ucrânia. O novo primeiro-ministro foi Oleksiy Honcharuk.

            A idade média dos novos membros do governo, nomeados a 29 de setembro era de 39-40 anos. Recorrendo a um procedimento simplificado, em poucos dias os aliados de Zelensky aprovaram, dezenas de projetos-lei com uma rapidez quase alucinante. Eles apelidaram esse novo modo de trabalho “impressora louca” a imprimir novas leis.

 

As origens de Volodymyr: um menino nascido em berço de ouro que chegou a presidente com o apoio dos não alinhados no sistema[7]

 

 

     Volodymyr Zelensky nasceu a 25 de Janeiro de 1978 em Kryvyi Rih, na Ucrânia.

    A infância de Volodymyr Zelensky começou na Mongólia. Seu pai engenheiro Oleksandr Zelensky foi enviado para participar na construção da empresa de tratamento da indústria mineira. Na pequena localidade de Erdenet, o agora presidente da Ucrânia passou aí vários anos.

    Segundo os relatos da sua mãe também engenheira de profissão, o pequeno Volodymyr gostava da companhia de crianças e essas também demonstravam interesse por ele. Desde o  Jardim de Infância a sua popularidade era notória. Depois de passar os primeiros anos com ambos os pais, Volodymyr deixou a Mongólia e regressou com a mãe à sua terra natal, Kryvyi Rih, enquanto o seu pai permaneceu na Ucrânia por muito tempo.

    A nível dos estudos, fez a primeira classe em Erdenet e a 2ª classe foi feita na escola n.º 95 de Kryvyi com especialização em língua inglesa.

    Curiosamente, o bairro onde residia a família de Zelensky também era o bairro (Kvartal) 95, conhecido como formigueiro.

    Foi no ano de 1995 que Volodymyr Zelensky terminou o secundário. Enfim, o n.º 95 foi o número mágico da sua vida.

    Todos os professores recordam Volodymyr como um aluno empenhado e inteligente sempre a quer estar no centro das atenções, ora como membro do coro, do grupo de dança ou no “Clube dos Divertidos e Perspicazes” escolar.

    A nível vocal também merecia destaque, tinha um timbre inconfundível que não lhe permitia cantar mas o destaca dos outros.

    A alcunha de Volodymyr na escola básica era Hummer, como o artista popular e despois passou a ser Zeleny (Verde).

    O pai de Zelensky queria muito que o filho tivesse notas excelentes em ciências naturais, matemática e física enquanto Volodymyr se sentia vocacionado para as letras o que provocava divergências familiares. A matemática era o seu “calcanhar de Aquiles” o que provoca algumas zangas com o pai, que era como já foi dito mais atrás, da área das engenharias, onde a matemática é a força motriz.

    Contudo conforme as investigações do jornalista Sergii Rudenko, o presidente da Ucrânia gostava mais de danças de salão, de folclore e do “Clube dos Divertidos e Perspicazes”.

    Com 16 anos ganhou uma Bolsa de Estudo em Israel mas o pai estava contra.

    Volodymyr Zelensky não entrou no Instituto de Relações Internacionais de Kiev como queria. O pai preferiu que o filho escolhesse um a profissão mais prática como jurista (algo mais terra a terra que interessasse mais ao cidadão comum, subentende-se).

    Entrou assim na Faculdade de Direito do Instituto de Economia de Kryvy Rih, filial da Universidade Nacional de Economia de Kiev, onde o pai era professor.

    Depois de se licenciar em 2000, Volodymyr nem um único dia trabalhou como jurista.

    Todavia, a verdadeira charneira do seu futuro foi construída na sua terra natal Kryvy Rih e na Escola n.º 95, onde as amizades que sob atrair para si foram determinantes para o seu futuro. Foi nesta referida escola que Volodymyr Zelensky conheceu Oleksandr Pikalov, Seerhiy Kravets, Denys Manzhosov que posteriormente formaram o estúdio Kvartal 95. O produtor de cinema Oleg Chornyi e o apresentador de televisão Anatoliy Anatolich também andaram na mesma escola. Volodymyr foi beber as bases determinantes para a sua vida à Escola n.º 95. Cresceu num ambiente criativo, não é assim de estranhar a sua faceta criativa que marcou o seu destino.

    Denys Manzhosov era o seu colega de carteira, caminharam juntos pela vida toda. Quando estavam no 11º ano, os dois juntaram-se ao teatro estudantil de miniaturas “O vagabundo”. Continuaram a ser colegas na faculdade, trabalharam juntos no “estúdio Kvartal 95” e tudo o que parecia uma amizade para toda a vida terminou sem razão em 2013. O motivo oculto da separação até à presente data não foi revelada por nenhum dos dois.

    Depois de abandonar o “estúdio Kvartal 95”, Manzhosov criou uma agência de organização de eventos em Kryvy Rih e passou quatro anos a estudar em Nova Iorque. Voltou a entrar na vida de Zelensky em 11 de Abril de 2019, a pouco dias de Volodymyr ser eleito presidente da Ucrânia.

    Foram assim, as amizades de infância e a Escola nº 95 que foram a chave da carreira meteórica de Volodymyr Zelensky tanto na indústria do humor como na política.  O autor Sergii     Rudenko revela-nos que “o número 95 acabou por ser o número mágico do 6º presidente da Ucrânia.”

 

Do anonimato ao estrelato[8]

    A carreira de Zelensky no mundo do espetáculo começou no concurso televisivo de humor “O Clube dos Divertidos e Perspicazes[9]”. O 6º presidente da Ucrânia cresceu no meio deste concurso popular.

    Em 1994 duas equipas do Clube da Universidade de Medicina Zaporizhya e os Malandros de kryvy Rih fundiram-se e criaram a seleção Zaporizhya – Kryvy Rih  - Trânsito para participar na Grande Liga do Clube e convidaram Volodymyr para o grupo. Foi-lhe dado um papel como coreógrafo e seguiu-se o convite para ser autor dos textos.

    Nasceu nesse meio a amizade entre os irmãos Serhiy e Borys Shefir. Conseguiram conquistar Moscovo e o mundo do espetáculo acabando por criar o seu próprio negócio. Após, as eleições de 2019, os irmãos serão os seus assessores indispensáveis.

    Foi com essa seleção que  em 1997, no festival  de KIVIN, em Sochi, Zelensky se estreou como ator numa pequena peça humorística.

Foi com essa mesma seleção que Zelensky conheceu o futuro autor do Estúdio Kvartal 95 e o guionista das séries “Compadres” e “Servo do Povo”, Anrriy Yakovlev, que junto com os irmãos Shefir se tornaria parceiro de negócio de Zelensky. Foi com essa mesma seleção que o futuro presidente da Ucrânia pela primeira vez e única na vida, seria campeão da Grande Liga do Clube. Dividiu o pódio com a equipa arménia mas foi campeão.

            Apesar de não constar na biografia de Sergii Rudenko podemos acrescentar[10] sobre a carreira na área do entretenimento que após ter criado a sua própria empresa na área da comédia passou a fazer representar através dessa empresa. De 1998 a 2003, o estúdio Kvartal 95, atuou nessas competições de entretenimento. Em 2003 o estúdio Kvartal 95 passou a produzir programas para o canal de televisão ucraniano 1+ 1 e em 2005 mudou-se para o canal Inter.

            Em 2008, Zelensky estreiou-se numa longa-metragem “Love in a Big City” e a sua sequela “Love in a Big City 2”. Nos anos que se seguiram, participou em filmes como Office Romance. “Our Time” (2011), “Rzhevsky versus Napoleon” (2012), “Love in the Big City 3” (2014) e “8 First Dates” (2012, 2015  e 2016).

            De 2010 a 2012, integrou o conselho administrativo e ocupou o cargo de produtor-geral do canal de televisão Inter.

        Em 2014 iniciou-se uma onda de discriminação contra os artistas russos. Zelensky, mostrou-se contra a intenção  do Ministério da Cultura querer banir artistas russos do país.

    Em 2015, os russos censuraram o filme “Love in the Big City 2” protagonizado por Zelensky.

    Em 2015, Zelensky se tornou a estrela da série de televisão O Servo do Povo, interpretando o papel de presidente da Ucrânia. O seu personagem era um professor de história do ensino médio na casa dos 30 anos que ganhou a eleição presidencial depois que um vídeo viral o ter mostrado a fazer um discurso contra a corrupção do governo ucraniano A série tornou-se o programa com maior audiência do país.

 

 

Alguns pormenores da vida pessoal

        No dia 6 de setembro de 2003 Volodymyr pediu a sua futura esposa, Olena em casamento.[11]

        O namoro de oito anos com Olena que era aluna de outra turma da mesma escola n.º 95 estava a chegar ao fim.

        Foram anos de dezenas de viagens, espetáculos e festivais do “Clube dos Divertidos e Perspicazes”, festas animadas e despedidas temporárias.  Pela frente tinha a vida conjugal, as conquistas na indústria de espetáculo e o estatuto de Primeira-dama.

    Sergii Rusdenko demonstra como para Olena era imprevisível o futuro do marido. “Se há 17 anos alguém lhe dissesse a Olena que o marido dela seria presidente da Ucrânia e ela primeira-dama, não iria acreditar, pelo menos em 2003 parecia uma utopia.”

    Embora tivessem andado na mesma escola, Volodymyr e Olena conheceram-se já depois de terem acabado o secundário. Ele era estudante de Direito no Instituto de Economia de Kryvy Rih e ela estudante de arquitetura na Universidade de Kryvy Rih. O ator de karval 95 e o  velho amigo de Zelensky, Oleksiy Pikalov serviu de intermediário. Pediu a Olena uma cassete de vídeo emprestada e depois foi Volodymyr que a devolveu e assim começou a nascer uma amizade que deu em oito anos de namoro  e depois em casamento.

    Embora, se tenha licenciado com distinção e louvor Olena Kiyashko nunca chegou a exercer aquitetura tal como Volodymyr nunca chegou a ser jurista. O casal partilhava a paixão pelo “Clube dos divertidos e Perspicazes”, da qual nasceu o Estúdio Kvartal 95. Ele seria diretor artístico e ela a sua guionista para “Kvartal à noite” ou para “Kvartal Feminino”.

    Em 2005 nasceu a filha Oleksandra e em 2013 o filho Kyrlo.

    Olena não gosta de aparecer em público, prefere manter-se na sombra. Por detrás desta fachada estava a perseguição a Olena nas redes sociais.

    Numa entrevista a Dmytri Gordon, jornalista ucraniano de renome, Volomyr Zelensky  confessa que sente-se incompleto quando a mulher não está por perto. “Ela acha que não tem grande influência sobre mim, mas na verdade tem. Confio muito nela”. Declara ainda que “Ama-a, como amo a mim próprio. E quando nascem os filhos acabas por perceber, porra, amas os filhos ainda mais que a ti próprio, é uma catástrofe! Estou disposto a tudo para não os perder”.

    Apesar de se sentir uma grande reciprocidade no amor do casal, Olena subvaloriza o seu papel na vida do presidente Zelensky. Diz que é capaz se zangar com ele, discutir assuntos políticos mas também de apoia-lo.

    O jornalista Sergii Rudenko conclui nesta análise que faz sobre o lado mais desconhecido da vida do presidente, que a sua mulher apesar de permanecer na sombra da vida mediática de Volodymyr Zelensky foi e continua a ser, sem dúvida, uma das arquitetas da sua carreira.

 

A Guerra que transformou em escombros a Ucrânia

 

    No dia 20 de maio de 2019, no dia da tomada de posse o presidente ucraniano prometeu que seria o melhor presidente da Ucrânia de sempre[12] “Ao longo de toda a minha vida, fiz tudo para fazer os ucranianos sorrirem (referindo-se ao espetáculos dos “Estúdios Kvartal 95”. Foi essa  a minha missão. A partir de agora farei tudo para que pelo menos não chorem”.

    O autor, Sergii Rudenko acredita que Zelensky nem sonhava o que estava para vir. Não imaginava as lágrimas da Ucrânia em 2022, nem podia imaginar que ele próprio seria o líder do grande povo que enfrentaria os Russos.

    Desde 24 de Fevereiro de 2022, os soldados russos trouxeram morte, tortura, violência, pilhagem e destruição de lares ucranianos, incluindo do próprio Zelensky, de uma vez por todas.

    Poucos acreditavam que um simples homem que há poucos anos era uma estrela do mundo do espetáculo e não fazia ideia como funcionavam as forças armadas, nem como um presidente se devia comportar fosse capaz de dar tanta luta.

    Desde  os primeiros minutos da invasão russa os mísseis de cruzeiro lançados do mar negro começaram a matar os ucranianos. Os ataques atingiram Kiev, Odessa, Lviv, Lutsk, Poltrava e Sumy. Os caças russos atacaram bairros residenciais de Mariupol, Chernyhiv, Karkiv, Okhtyrka, Bucha, Irpin e mais centenas de localidades reduzidas a cinzas.

Desde a II Guerra Mundial que a Ucrânia não assistir a tanta destruição.

    Os crimes e as atrocidades dos militares em duas localidades perto de Kiev: Bucha, e Irpin foram conhecidas no dia 31 de março. Nesse mesmo dia os militares russos foram expulsos da zona de Irpin que fica a 20 quilometros de Kiev. Ficou-se a conhecer casos de veículos civis abatidos, tanques, os assassinatos em massa de adultos e crianças, de mãos atadas com um tiro na nuca. Só na pequena Vila de Bucha, mais trezentos corpos foram enterrados nas valas comuns. Mulheres violadas eram esmagadas por tanques, crianças pequenas foram violadas em frente aos pais

    O jornalista Sergii Rudenko expressa de forma contundente tamanha barbárie “O mundo inteiro ficou chocado com a crueldade da tragédia de Bucha, imperdoável e inexplicável. A única explicação que resta é que Moscovo está a exterminar os ucranianos de forma deliberada. Não seria a primeira vez que a Rússia provoca fome, mata as elites culturais e persegue os chamados nacionalistas burgueses – os ucranianos que sonham com um estado independente.”

No epílogo Sergii Rudenko conclui que ninguém sabe quando acabará a guerra russo-ucraniana. Tal como ninguém sabe como será a Ucrânia do pós-guerra. Mas não restam dúvidas que o papel dos ucranianos na Europa e no mundo será importante. “O 6º presidente da Ucrânia percorreu um grande caminho – desde ator até líder da nação ucraniana. Desde o homem visto pelos grandes líderes mundiais com curiosidade e ironia até ao político aplaudido no Ocidente, um homem que os líderes mundiais se orgulham ter como amigo” (17 de Abril de 2022)

 

 

 

5. Algumas notas sobre o autor:

 

Sergii Rudenco nasceu na região de Sumy, na Ucrânia.

É editor-chefe do site do canal “Expresso TV” e escreve numa coluna semanal do “Deutsche Welle.” Trabalhou na Rádio “Svoboda” na Ucrânia; foi editor-chefe das publicações “Now”, “Gazeta 24” e “Glavred” e editor de política do semanário Business Week – FT

 

Fundador do portal “Bukvoid” publicou livros sobre  a entourage de Viktor Yushchenko, Yulia Tymosshenko e Viktoer Yanukovych, que, de  acordo com a revista “Correspondent”, foram incluídas no top 20 dos melhores livros.

 

 

Texto elaborado com base na obra “Volodymyr Zelensky Biografia”, Sergii Rudenko, editora Casa das Letras, 2022

 

Ana Margarida Alves