Bullying: a sua força está na raíz do medo

21-10-2022 16:38

Tema: Bullying

 

 

Notas Introdutórias: Quem é que vai  conseguir parar os “Bullies” dos tempos modernos?

              Nos últimos anos, já se escreveram rios de tinta sobre esta nova expressão que qualifica a agressividade que existe entre, especialmente, os mais jovens – O “Bullying.”.

            Aliás, a questão já não é nova, desde o momento, em que de dá a interação social, o ser humano tende a construir juízos de valor sobre o outro, aproximar-se daquilo com se identifica e  a repelir o que é diferente. A ética apregoa a típica sentença “Todos diferentes, todos iguais”, mas na prática esse ideal de fraternidade é muito difícil de executar.  E num mundo de milhões a harmonia total é algo quase inatingível. Surgem atritos, conflitos, comentários mordazes, rumores, difamações…não fosse tão intrincando o mundo social e das relações humanas.

E então, nas escolas, entre os mais novos, que ainda não têm as emoções tão bem treinadas como os adultos reina a confusão  e o conflito a toda a hora. Todavia, muito para além dos limites do aceitável surge uma agressividade gratuita e perversa que nos últimos anos tem atingindo proporções inimagináveis. Claro que em ambiente escolar sempre houve o clássico grupinho dos “Rufiões”,  que sempre tiveram o íntimo prazer de abalar a paz e sossego dos seus pares. Exímios “engendradores” de esquemas que provocam discórdia, desorientam e põem os nervos em franja de toda a comunidade escolar. Agora essa onda de agressividade em crescendo assumiu um nome muito “british”, Bullying.

            As páginas dos jornais, os canais de televisão, as redes sociais divulgam notícias sobre essa temática.

Milhares de histórias semelhantes, com contornos por explicar, por motivos quase sempre fúteis  surgem a toda a hora à comunicação social: é o empurrão fatal que levou à intervenção hospitalar ou a denúncia dos pais  sobre estado lastimável em que o filho chegou a casa (nódoas negras, rasgões no vestuário e tudo mais)  e o faz recusar regressar aquele estabelecimento escolar…entre muitas outras situações.

            Nos últimos anos, a violência tem ultrapassado todas as barreiras e todos os limites. Em casos extremos surgem mesmo casos de “suícidio” em tenra idade ficando no ar a névoa do porquê. Razões inerentes à própria criança/jovem ou pressões psicológicas exteriores ? A dúvida persiste.

            Um dos casos mais mediáticos de “bullying” que foi retratado no livro “Pão de Açúcar” de  Afonso Reis Cabral, baseado em factos verídicos. Em 2006, a jovem transsexual “Gilberta” foi espancada até à morte por um grupo de jovens inadaptados.

            Surgiu também, nos últimos tempos, a história  do jogo com desafios mortais “Baleia Azul”, a nível do mundo digital com expansão mundial. Os jovens eram desafiadas a  concretizar etapas que os conduziriam à morte certa, nomeadamente, terem que saltar de uma ponte…caso quisessem avançar para o desafio final.

            Todos estes casos espelham, um autêntico retrocesso mental e histórico do fascínio pela agressividade e violência. Depois da vivência dos horrores das duas guerras mundiais que marcaram o século XX e estimularam ao aparecimento do lema social “Peace and Love” preconizado pelos “hippies”, surgindo, também, muitos organizações a nível mundial de combate à violência e pela Paz e o entendimento social entre todos.

            No entanto, a própria indústria do “videogame” e cinematográfica atinge os seus maiores sucessos com conteúdos agressivos e violentos, consumido por todas as idades, apesar da etiqueta de controlo parental, indicar  “maiores de 18” (+18).

            E assim,  estes jogos de “gozo” e humilhação e violência, não só parecem cada vez mais incontornáveis, como, também são estimulados sub-repticiamente pela sociedade vivendo-se num autêntico clima de terrorismo social. Não sendo de estranhar que os números de “Bullying” em vez de tenderem a diminuir estão a crescer galopantemente.

 

 

Bullying: a sua força está na raíz do medo

 

      Segundo o Fundo das Nações Unidas para a infância (UNICEF), uma em cada três crianças no mundo entre os 13 e o 15 anos é vítima de “Bullying” na escola, regularmente.

      Com referência a  Portugal, a revista Sábado, de 15 de Outubro de 2019 apontava que 5 alunos, por dia, apresentam queixa na PSP, por serem vítimas de “bullying”.

       Recorremos a dados mais recuados porque o ano de 2020/2021 foi um ano atípico, as crianças estiveram, longe das escolas isolamento social, nas suas casas.

    No ano de 2017/2018, a PSP registou 1898 crimes de agressões mas estima que haja muito mais casos não denunciados.

    1285 dizem respeito a ofensas corporais e 613 eram respeito a injúrias e ameaças.

   O Comissário João Moura, do Gabinete de Imprensa da Direção Nacional da PSP acredita que os casos reais de injúrias e ameaças sejam superiores às denúncias. “Há muitas ameaças e coação psicológica que não vem na estatísticas, lamenta, explicando que muitas vítimas não denunciam porque não existe uma agressão física visível.”

      Quem apresenta, geralmente, queixa na polícia são as vítimas ou os professores.

      Este responsável alerta para o perigo do “Cyberbullying” e a dificuldade de o controlar. “Se a maioria dos casos de “Bullying” se passa dentro dos muros da escola ou nas proximidades. O Cyberbullying tem como fronteira o “mapa-mundi”. Pode acontecer entre os alunos de uma escola de qualquer canto do mundo.”

            “Bullying”[1] (inglês) também conhecido como intimação sistemática, intimidação vexatória, violência escolar e bulimento é o uso da força física, ameaça ou coerção para abusar ou intimidar ou dominar agressivamente outras pessoas de forma frequente e habitual. O agressor perceciona que a vítima sofre de um desequilíbrio social, político ou físico.

            Os comportamentos usados para impor o seu domínio podem incluir assédio verbal ou ameaça, abuso físico ou coerção e tais atos podem ser direcionados para alvos específicos.

            As justificativas para tal  comportamento, por vezes, incluem diferenças de classe social, raça, religião, género, orientação sexual, aparência, comportamento, linguagem corporal, personalidade, reputação, linhagem, força, tamanho ou habilidade. O “Bullying” feito por um conjunto de pessoas é o chamado assédio moral.

            Uma cultura de “Bullying” pode-se desenvolver num contexto em que os seres humanos se interrelacionam uns com os outros. Isso inclui a escola, a família, o local de trabalho etc.

            Os “websites” de redes  sociais costumam  ser uma plataforma explosiva para o “bullying”., dando-se assim início ao cyberbullying.

            A etimologia da palavra “bullying”, na língua inglesa é um substantivo derivado do  verbo “bully” que significa machucar ou ameaçar alguém mais fraco para força-lo a fazer algo que não quer.

            O termo com esta definição foi proposto após o “Massacre Columbine[2]”, ocorrido nos Estados Unidos no ano de 1999 pelo pesquisador norueguês Dan Olweus para definir os  “valentões” que nas escolas procuram intimidar os colegas que tratam como inferiores.

            O “bullying” é um termo que  abrange vários tipos de violência:

  • Bullying físico
  • Bullying verbal
  • Bullying relacional,

Estes são os mais comuns encontrados logo na escola primária e muito antes disso e continuam ao longo da vida. Existe também o “cyberbullying” que é  mais comum na escola secundária.

Assim, o “bullying individual” pode ser perpetrado por uma única pessoa contra um ou mais alvos físicos. O “bullying” físico ou a  violência física nas escolas é qualquer tipo de “bullying” que contém agressão física ao corpo de alguém ou alguém que danifica os seus pertences:

  • Roubam
  • Empurram
  • Batem
  • Lutam
  • Destroem pertences,

“Bullying”,  físico começa por parecer algo agradável e evolui, rapidamente, para a violência física.

            Por vezes, grupos de jovens adultos visam a intimidar um colega, por causa de algum preconceito da adolescência. Isso pode levar, concomitantemente, a um contexto em que a vítima é insultada, torturada e espancada pelos colegas. O “bullying” muitas vezes agrava-se com o tempo e pode levar a um final trágico.

 

            O “Bullying” verbal ou violência verbal nas escolas é qualquer tipo de “bullying” que se exerce através da linguagem. Chamar nomes ofensivos, azucrinar, espalhar rumores, ameaçar alguém, lançar piadas ofensivas e gozar ostensivamente com a vítima. O “bullying” verbal é um dos tipos mais comuns de “bullying”. Nesse gênero de “bullying” a arma principal do agressor é a sua palavra.

            É um tipo de “bullying” que, de modo geral se associa mais ao sexo feminino[3], mas apesar de, aparentemente, ser mais subtil é muito mais devastador. Assim, segundo o artigo “what is verbal bullying and how to handle verbal bullies – Bullying Statistics.”, referenciado pela “wikipedia”. As jovens do gênero feminino usam o “bullying” verbal bem como as técnicas de exclusão social para dominar e controlar outros indivíduos e mostrar a sua superioridade e poder. Todavia, o gênero masculino também recorre a esta técnica de “bullying”. Com intuito de dominar.

 

            Quanto ao “bullying” realcional é o gênero de violência feito com a intenção de ferir  a reputação ou posição social de alguém que também se pode interligar com as técnicas incluídas no “bullying” físico e verbal. O Bullying relacional é uma forma de “bullying” comum entre os jovens. Pode ser usado como ferramenta pelos agressores para melhorar a sua posição social e controlar os outros.

            O “bullying” relacional não é evidente pode continuar aos longo do tempo de forma subtil e sibilina sem ser compreendido pela vítima.

            O “cyberbullying” ou assédio virtual refere-se ao uso da tecnologia para assediar, ameaçar, envergonhar ou atingir outra pessoa. Quando um adulto está envolvido pode configurar a definição de assédio ou perseguição virtual.  

            Existe ainda uma outra forma de “Bullying”, a violência coletiva. O assédio moral  nas escolas por um grupo de pessoas, em qualquer contexto, como a família, escola, local de trabalho,  ou vizinhança, os alvos são, habitualmente, aqueles que são apercebidos como diferentes da norma orgazacional.

            Geralmente, as vítimas são competentes, educadas, resilientes, sinceras desafiam o “status quo”, são mais empáticas ou atraentes. Os alvos também podem ser racialmente diferentes ou parte de um grupo minoritário.

 

Principais caraterísticas da vítima:

 

            Segundo o site de psicologia ITAD[4] com base num artigo da especialista Cecília Carvalho as vítimas revelam caraterísticas distintas. Qualquer criança pode ser vítima, mas, há crianças mais vulneráveis. Verifica-se que as vítimas deste tipo de comportamentos podem apresentar uma ou mais das seguintes caraterísticas:

  • Ter uma aparência diferente (excesso de peso, usar óculos)
  • Ter um comportamento passivo
  • Ser pouco assertivo, introvertido
  • Incapaz de se defender
  • Ter problemas de saúde
  • Ter dificuldades de aprendizagem
  • Ser novo na turma ou na escola
  • Ser bom aluno

 

 

 

Principais caraterísticas do agressor:

 

            Os agressores são crianças com baixa tolerância à frustração, gostam de provocar, magoar e destruir para se sentirem poderosos. Trata-se assim de uma afirmação social e pessoal.

            Comparativamente, aos seus pares são crianças com dificuldade em fazer amigos e não gostam da escola.

            O seu ambiente familiar, na maioria das vezes, é caraterizado por uma distância emocional,  disciplina inconsistente ou muito punitiva e ausência de transmissão de valores  e normas sociais.

 

            A psicóloga Cecília Carvalho refere que as vítimas revelam sinais claros  de que estão a ser vítimas de algo. Apesar, de muitas vezes a vítima se silenciar existem indícios a que se pode estar atento, nomeadamente, objetos escolares perdidos ou danificados, roupas rasgadas, hematomas sem explicação aparente, perda súbita de amigos, isolamento, dificuldades de concentração, dificuldades de adormecer e pesadelos, receio e medo de sair de casa, baixa auto-estima, diminuição de rendimento escolar, recusa em ir à escola, sintomas psicossomáticos, alterações súbitas de humor, dificuldades em falar do que se passa na escola.

            O “Bullying” é assim uma forma de violência que atinge sobretudo crianças e jovens que as exclui de  terem uma vivência saudável e feliz similar a todas as outras crianças.

            Apesar de, aparentemente, eliminado, atempadamente, geralmente, com a intervenção das autoridades responsáveis, deixa marcas indeléveis que se arrastam ao longo da vida, podendo até ser determinantes nas escolhas e caminhos da vítima pelo seu futuro fora,  influenciando também as relações sociais e profissionais que se estabelecem ao longo do tempo.

            Nos filmes vindos da América, o retrato sócio-profissional e sócio-cultural dos ditos vencedores e vencidos é tema recorrente. Essas pessoas com caraterísticas mais vulneráveis, que apesar de revelarem capacidades semelhantes aos seus “pares” são muitas vezes esquecidas  e ficam quase sempre fora das “Seleções Sociais”. Os americanos até recorrem a um termo muito pejorativo para classificar aqueles que quase sempre lhe atribuem o papel de “bobo da corte”, “os loosers”[5]. Aqueles que perdem sempre neste complexo “jogo da vida”. Os portugueses não são menos brandos e classificam os mais vulneráveis, alvos preferidos dos “bullies” que surgem por todo lado, ao longo da vida, como “Zeros à esquerda” ou então recorrem muitas vezes à expressão “dos fracos não reza a história.”

            Apesar, de se saber que os agressores diretos e específico são um grupo restrito, fácil de identificar e responsabilizar. E que os motivos estão, sibilinamente, interligados com jogos de poder. Uma névoa de espetadores passivos corroboram com essa sombra de “bullying” que afetou esse ser escolhido para ser ridicularizado, estampando-lhe no rosto, o selo da ilha de jogos de azar e de silêncio. E assim, o ”bullying”, não fica lá atrás na Escola Primária, onde, talvez tenha começado, mas acompanha essa pessoa para sempre com danos psicológicos e sociais insanáveis. Uma vítima, nem em relação a ela própria, nem relação aos outros, por mais que se esforce, nunca perde o estatuto de vítima de “bullying” e ficará marcada para sempre, até ao fim.

 

Ana Margarida Alves

           

 

Bibliografia de Apoio:

 

 



[1] Fonte: Wikipédia, entrada “bullying”

[2] “O Massacre em Columbine”, foi um massacre que ocorreu a 20 de Abril de 1999, nos Estados Unidos, no Columbine Hight School. O ataque envolveu o uso de bombas, 99 dispositivos explosivos  e armas-bombas, 12 alunos e professor não escaparam ilesos (fonte: wikipedia)

[3]  «What is Verbal Bullying and How to Handle Verbal Bullies - Bullying Statistics». Bullying Statistics. 8 de julho de 2015. Consultado em 30 de novembro de 20016 (Wikipédia)

 

[5]“Loosers”, termo inglês que se atribue aos vencidos na vida, sem sucesso, desintegrados…