Desemprego em Jornalismo preocupa Obsevatório da Imprensa
O despedimento de jornalistas, que tem vindo a aumentar nos últimos anos, é preocupante e vai, inevitavelmente, afectar a qualidade da informação, adverte o presidente do Observatório da Imprensa, em entrevista à Renascença.
No dia em que foi conhecido que a Sonaecom quer dispensar 48 trabalhadores “Público”, Joaquim Vieira reconhece que “a situação do jornal não estava muito saudável”, mas considera “um pouco inesperada a dimensão do despedimento”.
O presidente do Observatório da Imprensa afirma que os "media" enfrentam duas crises: a económica e financeira, que está a provocar uma quebra das receitas publicitárias, e outra “crise geral dos 'media' convencionais”, em particular das publicações em papel, devido à ascensão do online e à revolução digital.
Joaquim Vieira não tem dúvidas de que a redução de pessoal nas redacções vai afectar a qualidade dos conteúdos jornalísticos: "As pessoas vão passar a ter menos informação, vão passar a ter uma informação de pior qualidade, vão passar a ter menos opções informativas. Acho que isso é uma coisa terrível. É mau para a cidadania, para a sociedade e para a democracia, de uma forma geral”, afirma o presidente do Observatório da Imprensa.
Informação de qualidade "custa dinheiro"
O jornalista Adelino Gomes, que esteve na fundação do “Público”, diz que a notícia de previsíveis despedimentos neste jornal de referência é um "murro no estomâgo", que vai deixar o país "mais pobre" em termos informativos.
Numa altura em que as pessoas parecem cada vez menos disponíveis para pagar para ler notícias que estão, gratuitamente, na Internet, o antigo provedor do ouvinte da RDP alerta para o risco de ficarmos "afogados em informação sem qualidade".
“As pessoas não se iludam. A informação, a informação contraditada, aprofundada, com fontes que são verificadas, a informação buscada ao longo de um trabalho de investigação, essa informação custa dinheiro e alguém tem que a pagar”, salienta Adelino Gomes.
Jornalistas engrossam fila de desempregados
A Sonaecom anunciou esta quarta-feira o previsível despedimento de 48 trabalhadores do jornal “Público”. Entre eles 36 da área editorial e destes 28 são jornalistas. A medida visa reduzir custos em cerca de 3,5 milhões de euros por ano.
Este anunciado despedimento de quase 30 jornalistas é o mais recente episódio de uma profissão que tem visto aumentar o desemprego de forma galopante nos últimos tempos.
Só este ano chegaram notícias de despedimentos de jornalistas no semanário “Sol” e no grupo Impala, entre outros. O fantasma de ser posto na rua também assombrou em 2012 a TSF e a agência Lusa. Esta última, ainda este mês, protestou contra cortes e eventuais despedimentos. Agora, é no jornal “Público” que são anunciados cerca de 30 previsíveis despedimentos nesta classe profissional.
Andando para trás, e segundo os números do Sindicato dos Jornalistas, entre 2009 e 2011, pelo menos 516 jornalistas tiveram de recorrer a subsídios de desemprego, devido a processos de despedimento ou rescisões.
Num olhar apenas para 2011, os dados do Sindicato apontam para um agravamento desta realidade, com um aumento de 16,5% nos novos pedidos de subsídio de desemprego em relação ao ano anterior. E isto tendo apenas em conta os pedidos que deram entrada na extinta Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas.
Os números reais serão maiores, uma vez que o Sindicato desconhece quantos processos deram entrada nos centros regionais de Segurança Social, nos quais estão inscritos jornalistas ao serviço de empresas que não são contribuintes da antiga Caixa de Previdência, assim como profissionais irregularmente classificados com outras funções nas empresas.
Fonte-Renancença 11.10.2012 3:18
António José Soares