Filosofia

08-12-2012 16:09

 

A filosofar descobrimos o mundo...

 O livro o Bebé Filósofo de Alison Gopnik [p.108] dá-nos algumas pistas sobre como a mente das crianças já se encontra desperta para absorver esquemas mentais mais complexos e como os adultos ignoram parte da sua agilidade mental e a dimensão que as suas descobertas têm na sua vida interior.

 

Capítulo III - Escapar da Caverna de Platão

Como as crianças, os cientistas e os computadores descobrem a verdade

 

“Sócrates está a falar com Glauco:

- (...) Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Está lá dentro desde a infância, algemada de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado a permanecer no mesmo lugar eolhar em frente, são incapazes de voltar a cabeça, por causa dos grilhões: serve-lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe, numa eminência, por detrás dele. Entre a fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro, no género dos tapumes que os homens dos “robertos” colocam diante do público, para mostrarem as suas habilidades por cima deles.

-Estou a ver – disse ele

-Visiona também, ao longo deste muro, homens que transportam toda a espécie de objetos, que o ultrapassam: estatuetas de homens e animais, de pedra de madeira, de toda a espécie de lavor; como é natural, dos que transportam, uns falam, outros seguem calados.

-Estranho quadro e estranhos prisioneiros são esses de que tu falas- observou ele

-Semelhante a nós- continuei- Em primeiro lugar, pensas que, nestas condições, eles tinham visto, de si mesmo e dos outros, algo mais que as sombras projetadas pelo fogo na parede oposta da caverna?

-Como não – respondeu ele-, se são forçados a manter a cabeça imóvel toda a vida?

-E os objetos transportados? Não se passa o mesmo com eles?

-Sem dúvida.

-Então, se eles fossem capazes de conversar uns com os outros, não te parece que eles julgariam estar a nomear objetos reais, quando designavam o que viam?

-È forçoso.

-E se a prisão tivesse também um eco na parede do fundo?

Quando algum dos transeuntes falasse, não te parecesse que eles julgariam outra coisa, senão que era a voz da sombra que passava’

-Por zeus, que sim!

-De qualquer modo – afirmei- pessoas nessas condiçoes não pensavam que a realidade fosse senão sombra dos objetos.

Platão, A República (514ª-515c)”

 

Sócrates defende, claro, que somos nós os prisioneiros. E esta imagem clássica dos prisioneiros acorrentados na fumarenta caverna continua a ser arrepiante. Em suma, tudo o que nos chega do mundo resume-se a alguns raios de luz que atingem as nossas retinas e algumas móleculas de ar que vibram nos nossos tímpanos – imagens e ecos. Assim, como podemos saber alguma coisa acerca do mundo exterior de onde nos chegam as nossas teorias do mundo e como as podemos corrigir?

Os especialistas no estudo do desenvolvimento infantil sabem desde há muito que os bebés e as crianças são prodigiosos aprendizes. Alguns especialistas sugerem mesmo até que as crianças usam as mesmas poderosas tenicas de aprendizagem dos cientistas

A autora refere que as crianças tem conhecimentos sobre como funciona o mundo que os rodeia. Esse conhecimento confere-lhe notáveis capacidades para imaginarem mundos alternativos e modificarem este. Um conhecimento que vai sendo aprofundado com a experiência

Alison Gopnik explicita” (...) estes mapas causais desenvolvem-se: as crianças de cinco anos sabem mais do que as de três e estas mais do que as têm um ano. Os mapas causais das crianças aperfeiçoam-se- representam o mundo com cada vez maior exatidão, o que permite ás crianças imaginarem com maior poder e agirem com maior eficácia. As crianças estão a aprender corretamente como o mundo funciona. Portanto, os bebés devem nascer com poderosos mecanismos de aprendizagem causal.”

Através da experiência relacionam causas/efeitos e prevêm possíveis acontecimentos futuros.

A autora [146] refere o seguinte exemplo “Porque é que o meu filho de um ano mexe em tudo? Porque é que o meu filho de dois anos carrega sempre nos meus botões? Onde é que o meu filho de três anos arranjou aquilo? As crianças agem desta maneira apenas porque estão concebidas para aprender rápida e exatamente a estrutura causal dos mundos físico e psicológico que as rodeiam.

Em simultâneo, a descoberta de que mesmo as crianças mais jovens se empenham tão profundamente na aprendizagem causal, e são tão boas nisso, sugere uma nova maneira de pensar acerca das antigas questões filosóficas. Platão e outros filósofos interrogam-se sobre “como podemos saber tanto á cerca do mundo’” A resposta científica é que os métodos experimentais e a análise estatística parecem estar programados no interior dos nossos cérebros, mesmo quando somos apenas bebés. Crianças muito jovens usam estas ténicas inconscientemente para mudar os seus mapas causais do mundo. Estes programas permitem aos bebés e, portanto a todos nós encontrar a verdade.”

 

Entusiasmados pelas mentes criativas dos mais pequenos começam a surgir alguns projetos de filosofia para crianças. Trata-se dum programa pedagógico que visa desenvolver capacidades de raciocínio do pensamento em geral, assim, como as capacidades de verbalização do pensamento e aspetos cruciais da construção da comunicação como confronto de ideias e a reflexão em grupo. Esta aprendizagem multifacetada da atividade de pensar é feita através da criação de um diálogo. Tem como fim promover o pensamento através de uma comunidade de investigação na sala de aula, onde as crianças são incentivadas a falar e ouvir-se umas ás outras e assim discutir ideias filosóficas na presença de um facilicitador. O objetivo pedagógico não é o de informar as crianças da existência dos filósofos , das suas ideias e obras mas antes de contribuir para o desenvolvimento ecompreensão da linguagem e das capacidades criativas das crianças de modo a promover o seu pensamento autónomo.

A ideia de aplicar os conhecimentos filosóficos ao universo infantil tomou maior notoriedade através dos estudos de Matthew Lipman. Um professor nascido em 1923 e ainda goza de mais saúde.

Lipman é conhecido por ser o criador do projeto educativo-filosofia para crianças programa conhecido e aplicado em mais de 30 países nos cinco continentes.

Matthew Lipman foi o fundador e Diretor do Institute for the advancement of Philosophy for Childreen da Montclair State Clair College em Nova Jersey. É ainda autor de vários livros para crianças (novelas filosófiocas). Dada a pertinência do seu projeto em outubro de 1991, Lipman foi tema do programa de televisão da BBC Transformers, sendo considerada um dos três educadores pioneiros,. O autor define a filosofia para crianças como um programa pedagógico que visa desenvolver as capacidades de raciocínio e do pensamento em geral, assim, como as capacidades de verbalização do pensamento e dos aspetos cruciais da construção da comunicação com o confronto de ideias e reflexão de grupo. Esta atividade multifacetada da atividade de pensar é feita através da criação de um diálogo , tem como fim promover o pensamento através de uma comunidade de investigação na sala de aula, onde as crianças são encorajadas a falar e a ouvir-se umas ás outras e assim discutir ideias filosóficas na presença dum facilicitador. O objetivo pedagógico não é o de informar as crianças da existência dos filósofos, das suas ideias e obras mas antes de contribuir para o desenvolvimento e a compreensão da linguagem e as capacidades críticas e criativas das crianças de modo a promover o seu pensamento autónomo.

A filosofia para crianças foi originalmente desenvolvida por Matthew Lipman e Anne Sharp nos Estados Unidos da América nos fim dos anos sessenta.

Ao dar aulas na universidade da Columbia, Matthew Lipman apercebeu-se que os s eus alunos não tinham adquirido capacidade de pensar por si próprios. Lipman concluiu que era preciso fornecer aos alunos modos de desenvolver a capacidade de pensar por si próprios..

A partir desta visão sobre a educação do pensar, Lipman criou o modelo pedagógico baseado no conceito de comunidade de investigação onde tanto os alunos como os outros se debruçam na reflexão do mundo que os rodeia.

Assim a filosofia para crianças da metodologia de Lipman assenta em promover:

 

  • A pergunta como modo de abrir, problematizar e construir saberes

  • A investigação criativa como modo de pensar a nossa realidade individual e social.

  • Debate participativo, aberto e fundamentado como pratica de conhecimento

  • Democracia como forma de respeitar e valorizar as diferenças

  • O trabalho solidário e colaborativo como modo de agir em educação

  • A resistência crítica frente em toda a forma de imposição

 

 

O estudo sobre o efeito do programa de Filosofia para crianças feito nos Estados Unidos da América nos anos 80 mostrou que as crianças não só melhoram as suas capacidades de raciocínio mas também que os participantes aumentavam as suas capacidades de raciocínio mas também que os participantes aumentavam as suas capacidades de leitura e as capacidades matemáticas. Além disso, os professores que trabalham com a metodologia testemunham frequentemente que a filosofia para crianças é um momento de sala de aula que permite um espaço onde se promove a auto-estima e a capacidade de comunicação em geral.

Desde os anos 80 que a Filosofia para crianças é um momento da sala de aula que permite um espaçoonde se promove a uto-estima e a capacidade de comunicação em geral.

Assim, pode-se dizer que em todo o mundo em que implementa a filosofia para crianças se procura dinamizar uma comunidade de investigação de modo a que:

  • Se pratique fazer perguntas, explicá-las

  • Se aprenda a ouvir as perguntas e comentários dos outros participantes

  • Se aprenda a identificar contradições, consequências e ocorrências das ideias expostas

  • Que se aprenda a saber enunciar o tipo de intervenção que se faz no diálogo (estou a dar um exemplo, estou a concordar)

  • Que se saiba concretizar o que diz através de um exemplo e se cultive a procura de contra-exemplos

  • Que se aprenda a fazer a relação entre as ideias de sessão para sessão e de uns participantes para os outros

  • Que se pratique respeitar a diferença sem indiferença

 

O portal da Criança dá-nos algumas luzes de como se prepara as sessões para crianças através dum texto de Dina Mendonça:

A partir da leitura de uma pequena história as crianças as crianças colocam perguntas para serem discutidas. Estabelece-se então o diálogo a partir de várias opiniões que crece no procurar de exemplos na descoberta de relação de ideias, na criação de novas questões. Deste modo, as crianças encontram um espaço para dar voz aos seus pensamentos, as suas interrogações, ao mesmo tempo que aprendem a ouvir-se umas ás outras.

A sessão começa normalmente com a leitura de histórias filosóficas. Estas histórias foram escritas de modo a suscitar perguntas sobre temas filosóficos e muitas vezes pensamentos as personagens são crianças que fazem perguntas e conversam sobre estes mesmos assuntos filosóficos.

De seguida os participantes da sessão colocam perguntas sobre a história. As perguntas são escritas de modo a serem visíveis para todos os participantes da sessão.

Normalmente, esta parte da sessão termina porque já não há espaço para escrever perguntas e não haja muitas perguntas. Depois, leem-se as perguntas e começa-se a organizá-las, agrupando as que se relacionam e construindo uma ordem de prioridades à medida que se analisa a pergunta está a pedir. Com conversa sobre as perguntas acaba-se por escolher uma primeira pergunta que explica a razão daquela interrogação e qual pode ser a possível resposta.Rapidamente, os outros membros da comunidade começam a sugerir possíveis respostas para a pergunta. O papel do facilicitador aqui aparece como crucial porque é da sua responsabilidade apontar contradições que apareçam na conversa assim como ajudar a aprofundar o diálogo entre os participantes.

Uma das partes importantes da Filosofia são as histórias que servem como estímulos das sessões. No entanto, o material de trabalho nãso oferece uma conversa filosófica sem que se cultive a construção duma comunidade de investigação onde se cria hipóteses explicativas, se clarifica vocabulário, se pede oferecer razões, se dá exemplos de contra-exemplos, se questiona sobre o que está na base dos comentários dos outros participantes, onde se procura fazer inferências e seguindo o caminho da discussão de modo declaradamente social. Os participantes têm de partilhar as suas diferentes perspetivas sem se acomodarem simplesmente ao fato de aceitarem que existem opiniões diferentes, mas, procurando, ouvir-se uns aos outros, compreender as suas discórdias, desafiando-se uns aos outros apontando folhas de raciocínio reconstruindo as suas próprias ideias face ao diálogo. Com a metadologia de Lipman, o cultivo do pensamento crítico não é um exercício vazio, mas uma prática feita de forma viva e contextualizada. O objetivo final das sessões da filosofia não é o de encontrar respostas conclusivas (clarificando as questões, revendo crenças levantando novas hipóteses para futuras verificações) e, por outro lado, desenvolver as capacidades cognitivas e sociais que o processo de reflexão exige.

 

 

Com filosofia conseguem...

 

Lidar com os desafios e com os erros, como desenvolvem o trabalho de equipa, preseverança, enfrentam desafios, compreendem erros e interagem...

 

Os especialistas acreditam que a filosofia não foi delineada para criar filósofos, mas que tenham um espaço para aprender a refletir em conjunto. O programa oferece espaço e modo de aprender a ouvir os outros, de praticar a continua aprendizagem, de verbalizar o pensamento ao promover os modos de ultrapassar confusões e ambiguidades ao promover a expressão das convições dos participantes de modo a torná-los explícitas (ou mais explícitas) permitindo um espaço para descobrir o prazer de brincar com as ideias e conceitos, assim como aprender a identificar várias perspetivas semm cair no relativismo de opinião (oferecendo um espaço onde se pode mudar de opinião á luz das novas razões e discurssão sobre a sua validade o que ajuda a ganhar autonomia de pensamentos e a desenvolver capacidades para refletir sobre questões éticas e sociais como a identificação de critérios de juízos, identificação da relevância ou não dos detalhes contextuais, etc.) Ao desenvolver a capacidade de concordar e discordar, de pensar com os outros e de descobrir a reflexão cooperativa, os participantes intensificam a sua identidade permitindo um crescimento saudável da auto-estima, ao mesmo tempo que descobrem relações entre pensar, falar e fazer. Como um todo a filosofia para crianças como foi desenvolvida por Lipman, com os seus utensílios pedagógicos (metadologia e material); aumenta a capacidade de leitura e compreensão de assuntos ao dar à escola um local onde os alunos possam refletir sobre as problemáticas.

 

As novelas filosóficas de Lipman...

 

O professor Lipman desenvolveu vários projetos relacionados com a Filosofia para Crianças. Em seu entender este gênero de projetos deve estar assente em parametros específicos que visem reforçar nas criança a sua capacidade de raciocionar quer sobre relações quer sobre conceitos.

Elaborou minuciosamente um currículo com base em sete estratégias:

  • Primeira Estratégia: O desempenho da habilidade de pensamento pode ser aperfeiçoado pelo fato de dar às crianças pratica nas habilidades; introduzi-las à rationale subjacente às habilidades; por fim arranjar oportunidades para aplicar habilidades. O currículo apresenta três estágios de desenvolvimento, sendo o primeiro a pratica da habilidade cognitiva com o mínimo de explicação correspondendo ao pré-escolar (5-6). O 2º estágio correspondente ao primeiro e segundo ciclo estudando o sistema subjacente de explicação, ou seja o desenvolvimento da linguagem, falando, lendo e pesando de outra forma corresponde ao estádio formal do desenvolvimento da criança. No 3º estágio correspondente ao 3º ciclo pretende-se mostrar aos alunos como aplicar aos problemas da vida do adolescente e da vida adulta as habilidades que eles podem usar e entender.

  • Segunda Estratégia: Após a identificação dos três estágios como primeira estratégia é crucial a reflexão sobre o programa correspondente a cada um deles para que exista um tratamento curricular sequenciado. Por exemplo, a Elfie que é para o pré-escolar, incide no fazer da dsitinção, conexão e comparação de conteúdos que abrem o caminho para as habilidades mais aprimoradas de classificação e a comparação encontradas na novela Pimpa (que a seguir descreveremos)

  • Terceira Estratégia: Lipman diz, ainda, que a organização do currículo funciona paradigmaticamente para os alunos que procuram descobrir como devem pensar.

  • Quarta Estratégia: A acareação entre a criança e o currículo deve proporcionar empatia de forma a estimular a reflexão e investigação. O currrículo tem de apresentar continuidade afetiva como cognitiva. Esta exigência encontra-se no currículo FPC ao fornecer programas em forma de novelas para crianças.

  • Quinta Estratégia: As ativas personagens fitícias encontradas nas novelas estão determinadas a servirem de modelos. Não obstrante as personagens não podem ser totalmente ativas mas personagens relaxadas. Essas personagens que são crianças não devem possuir como única curiosidade o que os adultos já sabem, mas sim intriga pelo desconhecido de forma a problematizarem a sua própria experiência.

  • Sexta Estratégia: Os manuais pretendem fomentar o diálogo e o raciocínio sobre os temas levantados pelas novelas.

  • Sétima Estratégia: Lipman aponta a necessidade da investigação como processo de auto-correção. Esta correção não se fica pela correção de erros ,mas, por uma correção de parcialidade o que implica observar muitas perspetivas. A investigação é necessariamente perspetiva social e comum. As crianças devem analisar o seu pensamento como o seu e não como o da comunidade de investigação ou seja cada criança da comunidade deve pensar por si.

Estas sete estratégias pressupõem:

 

  1. Que as habilidades cognitivas de categoria inferior e categoria superior da criança não são adquiridas progressivamente com a idade, mas, estão em formação nos estágios pré-linguísticos processo que é aclarado na fase de aquisição da linguagem.

  2. As crianças podem e necessitam de ter contato com abastrações bem antes do início do estádio formal, assim como,

  3. A deficiência cognitiva de pessoas de qualquer idade pode ser a falta de experiência indispensável, as capacidades de raciocínio, o bem pensar depende, de certa forma, das experiências.

  4. não se pode esperar que as crianças sintetizem aspetos diferentes se lhe forem apresentados isolados uns dos outros.

 

A grande inovação de Lipman, no âmbito do desenvolvimento da filosofia para crianças foi a criação das novelas filosóficas.

Texto que apresenta a riqueza dos conceitos filosóficos da tradição em toda a complexidade e no seu campo aberto.

As novelas filosóficos são constituídas por “personagens – modelo da mesma idade das crianças que as leêm (Kohan, Wuensch, op. Cit 98), tendo como objetivo aplicá-las aos vários problemas filosóficos tais como: problema lógicos, éticos, estéticos, sociais e políticos.

Para Lipman “é uma recompensa em si própria” então podemos salientar que a Filosofia é a disciplina que melhor desenvolve a mente através do raciocínio aperfeiçoado e da formação de conceitos (Kohan e Leal, 2000, 254). “Sendo que o raciocínio é pensamento em movimento, exercendo pressão progressiva para a frente” (Lipman, 1990, 48). Efetivamente, pretende-se desenvolver um pensamento discursivo submetido a aspetos válidos ou não válidos, isto é, critérios de avaliação, exigindo que se utilize inferências, que apresente uma sintaxe e uma semântica com apresentação razoáveis, convincentes ou seja com pragmática.

 

Os programas que fazem parte do currículo oficial da FPC serão apresentados pela ordem que foram criados, isto é, pela data em que foram publicados pela primeira vez nos EUA. Mas pela sua forma de aplicação desde as idades de 5 e 7 anos até aos 14 e 17 anos.

 

 

2.1 Elfi

 

Novela filosófica para as crianças com idades entre os cinco eos sete anos. Uma história para se surpreenderem com os seus pensamentos e com as coisas do mundo exterior. Conteúdos como: o pensar, o ensinar, a escola, improvisar, amizade, amor, realidade sabedoria e escolha.

Elfi é a protagonista da novela, uma menina de cinco anos muito tímida que não levanta qualquer questão nas aulas. No entanto, nada lhe passa despercebido, tanto nas aulas como no recreio e em casa. A sua mente está sempre ocupada com muita coisa. As diferenças entre a aparência e a realidade, a unidade e a multiplicidade, a parte e o todo são fruto de grandes reflexões.

 

2.2 Issao Guga

A filosofia da natureza e a teoria do conhecimento são os temas desenvolvidos no texto filosófico. Issao e Guga é um conto que se aplica a crianças de 7-8 anos de idade. A novela narra as férias de Issao na quinta dos avós, onde faz amizade com Guga uma menina invisual que viva ao lado da quinta. Deste modo, Issao ajuda a sua amiga a conhecer o mundo exterior e, simultaneamente, Guga ajuda Issao a penetrar na realidade do seu mundo interior, isto é a mente. Os conteúdos desenvolvidos na história são: verdade, amor, mundo, natureza, seres vivos e seres humanos, esperança, beleza, bem, amizade, ecologia, geologia, cooperação. As habilidades a desenvolver dizem respeito a todos os sentidos: olhar, tocar, ouvir, saborear, cheirar, assim como, ainda detetar presssupostos, levantar questões, brincar a ser o outro e procurar alternativas.

 

2.3 Pimpa

Em 1981 surge Pimpa, com temas ligados à Filosofia da linguagem próprios da criança de 9 e 10 anos de idade. A personagem Pimpa apresenta-nos uma especial curiosidade e avontade de perguntar e a vontade de perguntar, mas não o perguntar por perguntar. É um perguntar sistemático, onde as perguntas encaixam de forma metódica.

Perguntas como alguma vez o teu braço ficou dormente? Não é estranho? É como se o teu braço já não te pertencesse! E se o meu corpo e eu somos diferentes então quem sou eu? (Lipman, 1989,10) estimulam o raciocínio desenvolvem estruturas cognitivas para a capacidade de interpretar, criar metáforas, projeta modelos, traços, comparações, avaliar de forma analógica estabelecer relações e fazer perguntas.

O texto aborda conteúdos como origem, identidade, classes, regras, realidade, relação, história, pensar, mente/corpo, linguagem, pensamento, espaço/tempo e relato.

 

2.4 A Descoberta de Ari dos Teles

 

O título original é Harry Stottlemeier´s Discovery, novela filosófica 1974 e 1982. A primeira novela foi criada por Lipman e chama-se: A Descoberta Ari dos Teles. É o texto central do programa FPC que proporciona instrumentos básicos de raciocínio, tenico de pensamento crítico e de lógica formal e informal para jovens dos 11 e 13 anos que poderão mais tarde aplicar em cursos com grau superior a problemas específicos de várias áreas tais como: matemática, Ciências Sociais ou mesmo linguística. Nela encontramos um diálogo entre crianças de 11 a 13 anos e adultos, tanto nas aulas como em família, que conduz a descobertas com exemplos e situações do dia-a-dia no grupo escolar, das leis da lógica e onde se levantam questões tipicamente filosóficas: o que é o pensamento? O que é a verdade? O que é o universo? Etc.

Os jovens, na pratica da comunidade de Investigação começam a descobrir o pensar no pensamento, iniciando a procura de princípios da razão e do saber e a aplicar esses princípios às situações do dia-a-dia. O texto é também modelo de educação não autoritário e não doutrinador. Ressalta-se o valor da procura estimulando o desenvolvimento de diferentes modos de pensar, de imaginar onde os jovens aprendem com os outros e não com os adultos.

É uma novela que apela a vários conteúdos filosóficos: perspetivismos, objetividade, comunidade de investigação, deus, origem do mundo, ciências, arte, direitos da criança,mente, educação, paradigma, verdade, descobrimentos, invenção, bem, pensamento, ideias, pensar, sexismo e racismo.

Pretendemos desenvolver habilidades de conversão, padronização, ambiguidade, indução, silogismo, lógica da relação, lógica informal, verdade, validade, contradição.

 

2.5 Luísa

 

Luísa – foi a segunda novela FPC a surgir em 1976 – É uma continuação de a Descoberta de Ari dos Teles, mas, ao mesmo tempo uma introdução à Investigação ética cuja preocupação é o que pode a escola fazer pelos valores morais “através de várias situações de diálogo os jovens aprendem a raciocinar sobre questões morais que surgem na sua convivência diária. Nesta encontramos os s eguintes conteúdos filosóficos: Direitos Humanos, Direitos dos Animais, Justiça, Bondade, Reciprocidade, Liberdade, Determinismo, Solidariedade, Personalidade, Beleza, Mentira, Drogas, competição, Sexismo, Etarismo, Racismo, Morte e Tentações.

Em relação à habilidades que pretende desenvolver nas crianças correspondem a ter visão em conjunto, antecipar, consequências, procurar consistência, dar e pedir boas razões, levantar hipóteses, considerar a verdade e a falsidade. As personagens que encontramos na novela têm entre 12 e 15 anos.

Todas estas novelas são acompanhadas pelo manual do professor. O manual do professor que acompanha a novela “Luísa” titula-se “Investigação Ética” porque o objetivo desta novela é levar os adolescentes a tomar consciência dos seus valores morais e pensar neles (cfr. Manual do professor, 1988,21).

Se for feita umam leitura inadequada poderá parecer que é a personagem principal – Luísa - está só a encaminhar os adolescentes para um conjunto de valores específicos. De fato o que faz é proporcionar instrumentos para peparativos para que no futuro sejam razoáveis, pensadores e tolerantes.

 

2.6 Satie

 

A terceira novela filosófica surgiu em 1978 – Satie – é constituído por personagens com 13 e 16 anos. O enredo anda á volta da estética. Os jovens da história colocam-se questões de filosofia da linguagem, de teoria do conhecimento e da estética, ou seja conteudos como: fição, fato, imaginação, rima, beleza, comunicação, formar possibilidades, descrição, poesia, escrita, amor,amizade e sentido; estão presentes no diálogo para desenvolver nas crianças a percepção estética tendo em conta: o sentido de harmonia, a unidade, a complexidade, a expressividade. O manual específico desta novela apresenta uma série de sugestões, incluindo jogos para levar os jovens a praticar a investigação estética a observarem a arte de forma a não ser mais um objeto.

 

2.7 Marco

Cada vez se fala mais em globalização, unificação, económica, social e cultural facilitando o movimento de pessoas, bens e serviços, levando mais rapidamente as informações a todas as partes do mundo.

Paralelamente, a globalização, os políticos, os professores e educadores apelam à necessidade de desenvolver a educação para a cidadania, no sentido de proporcionar aos alunos desde cedo o contato com as instituições e os valores fundamentais das sociedades democráticas. É perceptível o afastamento dos cidadãos da vida política e dos valores de funcionamento a experiência democrática em relação aom vigor à força criativa do início das sociedades democráticas.

A questão está em como se deve ensinar os valores de cidadania. A pensar nisso, Lipman, e os seus colaboradores criaram a novela filosófica Marco, abordando a filosofia social e política. As personagens com idades entre os 14 e os 17 anos dialogam e questionam-se sobre os conteúdos como esperança, solidariedade, justiça,crime, imparcialidade, democracia, discriminação, educação, direitos das minorias, ciúmes, igualdade de géneros, trabalho, emprego e alienação.

Através do contato com o texto a Marco e do diálogo orientado em sala de aula ou em casa, os jovens vão desenvolvendo as habilidades de praticar a democracia, ser solidário, respeitar as regras, reconhecer e exercer direitos, assim como dar e pedir razões.

As questões e o espanto perante o que envolve a sociedade e a política provocam uma dinâmica de perguntas idênticas às questões levantadas ao longo de vários séculos por filósofos como Platão, Aristóteles, Carlos Magno, Maquiavel, Hobbes, Jonh Locke, Rousseau, Montesquieu, Habermas, etc. Levando os jovens a refletirem e a desenvolverem habilidades específicas para enfrentarem e compreenderem os problemas sociais e políticos , tal como fazem as personagens Laura, Marco e Tó.

 

(…)

— O que é a Democracia? – perguntou a Laura.

— O que é a Democracia? – perguntou a senhora

Willians, dado que ninguém fez nenhum comentário,

durante algum tempo.

— A Democracia consiste na vivência das pessoas,

segundo as suas próprias leis, leis estas que são

elaboradas por elas mesmas. Por isso as pessoas na

democracia são livres. – Disse a Laura esticando-se com

um gesto de desafio.

— Pára um momento; não vás tão rápido - disse o

Marco com cara de quem se sentiu agredido – Não

podes escolher uma razão antiga e dizeres que essa é a

que está certa. São muitas as diferenças entre as

democracias e os vários tipos de governo. Quem te

disse que essa é a que tem de ser levada em conta?

— O Marco tem razão Laura – disse o Tó –

Quando falamos de coisas tão complexas como a

Democracia e a Liberdade deve-se ter em conta muitas outras coisas. (Lipman, 1989, 8).

 

Para saber mais:

 

  • Gonçalves Daniela, Cláudio Azevedo, O Valor e a Utilidade da Filosofia para Crianças, Escola Superior de Educação Paula Franssinetti

  • Gopnik Alison, o Bebé Filósofo, Temas e Debates, Círculo de Leitores, 2009

  • Mendonça, Dina, Filosofia para Crianças, Novembro de 2008, Portal da Criança

  • Capítulo I e II – Apontamentos Filosofia Crianças - Internet