Hugo Guilherme um bebé muito especial...

17-08-2023 13:01

 

Numa sociedade frenética e vertiginosa com tantos relacionamentos descartáveis e fugazes é difícil acreditar que o amor intenso e profundo se eternize até muito para além  da morte física de um dos elementos do casal.

               É mais fácil acreditar no rápido esquecimento como se de uma espécie de automatismo se tratasse. Hoje estamos interligados a alguém  por tudo e mais alguma coisa e no dia a seguir como por artes de mágica já nada disso tem significado. Como se a nossa memória fosse uma tábua rasa e não tivesse a cada segundo a interagir com os nossos sentimentos e emoções.

               Pelas palavras que recordamos.

               Pelas músicas que escutamos que fazem ecoar qualquer coisa na nossa memória.

               Pelos lugares que revisitamos.

               Pelas recordações que constantemente assomam à nossa mente e nos deixam inquietos e até nos fazem esvair uma pequena lágrima discreta.

               Por todas essas coisas que foram vividas e partilhadas e muito mais e que ficam  gravadas a ferro e fogo na nossa alma.

               E do “fim” desses amores eternos muitas vezes ficam os filhos como prolongamento desse amor único, agarrados para sempre a nós com uma espécie de cordão umbilical invisível unindo-nos a todos para sempre.

               Partilha-se um sentimento de união entre todos mas também traços físicos que nos lembram  a cada momento o ser já muito amado. Os filhos, provavelmente, terão os olhos do pai ou da mãe, ou a cor do cabelo, ou mesmo os trejeitos, as mesmas características físicas e psicológicas que mesmo que um dos elementos do casal  parta mais cedo do que o esperado haverá  sempre o prolongamento através dos filhos da existência desse sentimento,  a prova viva tão reminiscente de um amor inesquecível.

               E todo este arrazoado de palavras para fazer alusão a um caso que catapultou para a Comunicação Social em 2019 e veio agitar mentalidades e consciências.

               Ângela e Hugo Ferreira apaixonaram-se e desejaram muito ser pais, mas, por fatalidade e ironia do destino a maternidade nunca se chegou a concretizar. Hugo Ferreira adoeceu.

               Todavia o casal ao tomar conhecimento que uma possível fatalidade se avizinhava tomou precauções. O pai criopreservou material genético para conceção antes de morrer e manifestou claramente a vontade de concretizar esse sonho.

               Porém, o falecimento  do pai veio esbarrar com um vazio legal quanto ao procedimento que se pretendia levar a bom porto.

               A divulgação do caso abriu um debate nacional sobre a inseminação após a morte e mais de 100 mil pessoas assinaram uma petição que obrigou a Assembleia da República a discutir  a lei da procriação medicamente assistida que na altura proibia a conceção de embrião com matéria genético de um progenitor falecido.

               Assim , após aceso debate em todos os quadrantes a mudança da legislação acabou aprovada em Março de 2021.

               E agora já foi concretizado o sonho de Ângela e Hugo Ferreira. Nasceu a primeira criança concebida após  a morte do pai, esta quarta-feira.

               A mãe divulgou “É um rapagão cheio de saúde” frisando que agora se vai isolar nesta “bolha de amor”.

               “Hoje o mundo ficou mais iluminado o Guilherme nasceu às 11:09 com 3, 915 e 50, 5 centímetros”

               Ângela foi mãe às 39 semanas através de cesariana.

               Segundo o Jornal de Notícias, num artigo de Delfim Machado, de 16 de Agosto por quem tive conhecimento do desfecho desta história polémica, Portugal foi um dos primeiros países a legalizar a inseminação com o sémen do progenitor falecido e é assim depois desta alteração um dos poucos países a permitir o procedimento em solo europeu.

               Na Europa só é permitido na Bélgica, Espanha, Grécia, Países Baixos, Reino Unido  e República Checa.

 

Ana Margarida Alves

              

 

 

 

Bibliografia de Apoio:

Jornal de Notícias, 16 de Agosto de 2023, 20:05 – artigo de Delfim Machado “Nasceu o primeiro bebé por inseminação pós-morte em Portugal”