Maternidade: entre o mundo de sonhos e um mundo de sacrifícios…

05-05-2023 13:27

 

No próximo domingo é dia da Mãe.

E hoje em dia a maternidade  é um mundo cheio de significâncias, sensibilidades e emoções em que toda a família se envolve.

Porém do prisma que surge muitas vezes ilustrado nas revistas cor-de-rosa tudo é perfeito e nada falta às novas mamãs. São acompanhadas por “mil e um” especialistas desde o pediatra ao nutricionista com quem aprendem os mil e uns truques que noutros tempos eram transmitidos pelas mães e as avós.

Nada lhes falta.

Nem o clássico registo fotográfico desde quase o primeiro suspiro do bebé no novo mundo.

É um mundo de sonhos e perfeccionismo…

Porém, do outro lado, deste prisma de perfeccionismo, existe um mundo de mães em que o acto de ser mãe pouco tem de sonho. Tem muito mais de espírito de sacrifício e abnegação. Ou porque os filhos não nasceram completamente saudáveis ou porque pertencem a um quadro sócio-económico  pobre onde quase tudo lhes falta, desde o berço, até mesmo a chucha e a papa.

Mas, mesmo assim vão caminhando onde o espírito de luta é essencial para vencerem cada etapa contando muitas vezes com ajuda de uma vizinha mais sensível e com os apoios sociais.

Sobre estas histórias de abnegação e sacrifício ouvi nas notícias que uma mãe em Faro vive - ou vivia – apenas dentro do seu automóvel com os seus dois filhos ambos problemáticos quanto à saúde. Um é autista e outro tem esquizofrenia.

É realmente, difícil acreditar que em Portugal ainda haja sem abrigos. Arrogamo-nos de acompanhar a quase todos os níveis o desenvolvimento trazido pela Europa, mas, por outro lado, deixam-se famílias inteiras a dormir na rua, praticamente, sem nada.

Realmente, a maternidade para algumas mães é um mundo de sacrifícios e sobressaltos, no entanto, mesmo assim, não baixam os braços e não se demitem do seu papel.

Porém, o que dizer ainda sobre aquelas mães em que as circunstâncias as obrigaram a renegar esse direito.

Em Itália um bebé foi abandonado na “Caixa da Vida” em Bérgamo.

Após quatro anos sobre a criação deste engenho, a dita caixa foi utilizada pela primeira vez no dia 3 de Maio de 2023.

A mãe deixou uma nota que sensibilizou a Cruz Vermelha.

“Nasceu esta manhã 3/05/2023 em casa, só ela e eu como nestes nove meses.”

A Cruz Vermelha recolheu, rapidamente, a criança. A mãe permaneceu no local a certificar-se se a criança ficava bem entregue. Esta instituição manteve o anonimato da mãe e remeteu o caso para Tribunal. O destino de Naomi, a bebé abandonada, ficará agora entregue à Justiça.

Este caso faz lembrar os tempos recuados em que existia um sistema chamado a “Roda dos Enjeitados” que consistia  num mecanismo  que tinha uma portinhola giratória onde as mães colocavam os filhos quando não os podiam criar.

Em Portugal, a roda espalhou-se a partir de 1498 com o surgimento das Misericórdias.

Em 21 de Novembro de 1866 foi decretado a extinção da roda dos enjeitados em todo o país.

Este caso em Itália, parece o querer retomar de costumes já arcaicos que por algum motivo caíram em desuso.

A Cruz Vermelha, apesar de sensibilizar com o caso da pequena Naomi, não obstante de no bilhete a mãe referir que passou a gravidez toda sozinha, aceitou o abandono. Não teria sido muito mais humano tentar averiguar o porquê e os motivos daquela mãe antes de aceitar a medida tão extrema. Talvez o caso até tivesse fácil solução.

Assim, pode ainda dizer-se que a felicidade da maternidade é vivida com muitas vicissitudes por quase todas as mães que não nascem do lado A da história dos romances “cor-de-rosa” onde quase sempre as maternidades são muito mais lágrimas e sacrifícios.

Porém, apesar das dificuldades vividas não são menos mães que as outras mães e até muitas vezes, se acabam de sensibilizar com pequenos nadas que a vida lhes traz que  a simples sensação de puderam dar o seu colo aos seus bebés as irradia de felicidade. Por estes e muitos outros motivos a maternidade continua a ser uma experiência que tem tanto de enriquecedora como de única que a todas nos faz crescer independentemente das circunstâncias.

 

 

Ana Margarida Alves