Maternidade

10-12-2012 15:01

 

Socorro...Sou mamã. E agora?...

 

Ainda agarrada aos livros, aos sonhos, à música, ao cinema, aos amigos...às paixões irremediáveis surge o fenómeno mais  indescritível e emocionalmente complexo da minha vida...A Maternidade.

 

Por vezes, parece que ainda gatinhamos pelas teias da vida e já  temos que ensinar alguém a caminhar... Ser mãe é uma aprendizagem contínua plena de dias felizes...e de dias absurdos. É uma espécie de cordão umbilical invisível que interliga indissociavelmente dois seres.

 

Essa força indelével faz-nos agarrar os pés à terra mesmo que o nosso ser fuja, irremediavelmente, para uma outra dimensão. E o que temos como referência se assemelhe mais a um universo pictórico surrealista do que à realidade mais tangível.

 

Num click puramente casual deparei-me com o artigo da psicóloga Teresa Paula Marques, no espaço Sapo Família “Mamãs todas diferentes”, onde surge uma reflexão sobre as mães de hoje, as suas diferentes formas de estar  e as implicações que tudo isso tem no desenvolvimento psicológico, emocional e cognitivo da criança.

 

Confesso que possuo alguns traços da “mãe menina” . A mãe que não planeou ser mãe.  A mãe que ainda se encontra  intimamente ligada à sua velha infância que se  reflecte no futuro através do universo do seu petiz . Contrariando os conselhos mais dogmáticos das teorias científicas luta para manter acesa essa criança mágica que ainda refulgia dentro dela.

Dessa sua condição essencial “quase adolescente” resulta uma experiência profundamente enriquecedora. Quase imperceptivelmente, entre mim e o meu filho, vai-se adensando o nosso cordão umbilical inquebrável. E juntos vamo-nos surpreendendo, aprofundando, mutuamente, novas experiências e...naturalmente crescendo juntos. Muito para além dum padrão, duma norma, dum código comportamental há um sentimento inalienável.

 

Frequentemente, engalfinhamo-nos como dois gatos, em transe, lutando ambos pelo seu território...luta feroz e incompreensível aos olhos dos “normativos”. Não obstante essa querela, em instantes, já nos entrelaçamos e partilhamos mimos. Do assanhamento anterior nada ficou...É assim entre brigas saudáveis, beijos, abraços, tarefas e diversões que vamo-nos conhecendo e compreendendo. A mãe sente-se completa no seu papel maternal. O filho sente-se seguro na concretização da sua necessidade de protecção.

 

E apesar de aos olhos de muitos, esses comportamentos espontâneos serem rotulados como  falta de profundidade e interesse genuíno pelo desenvolvimento da criança. As mães aparentemente “meninas” apenas querem “despachar” as responsabilidades e relativizar todos os comportamentos socialmente menos aceites dos petizes para poderem viver plenamente a sua vida pessoal.

 

No meu caso pessoal, do amor incondicional que nutro pelo meu filho, resulta uma preocupação constante de chegar ao seu universo. Com jogos de duendes e muitas fantasias à  mistura vou-lhe transmitindo um modo de estar confortável consigo próprio e com os outros. O nosso modo. Paralelamente, ele por si só vai desenvolvendo o seu modo. A sua identidade...

 

Materializando a questão, posso realçar que lava os dentes com receio que os duendes lhe ataquem os seus dentinhos, quando parte um brinquedo a mãe leva-o ao Hospital dos Brinquedos para  curar a ferida ao lesionado.

 

Transmito-lhe a liberdade como valor. Daí ser importante a sua opinião na escolha dos seus brinquedos, na escolha do seu  vestuário, nas suas actividades...Enfim, na sua vida...Utilizo com o Daniel uma relação entre iguais...pergunto-lhe  constantemente questões sobre o mundo utilizando a expressão “o que te  parece...?”. Não é uma incongruência, é uma forma de percepcionar a forma como o Daniel vê o mundo.

 

“O que te parece esta paisagem?”, “O que achas que quer dizer...?” isto e aquilo? A aplicação simplista das teorias de Roschard. Estimular a criança a descrever a realidade segundo as suas próprias características. São os seus comportamentos, as suas opiniões, os seus interesses que me dão pistas sobre a sua personalidade e o seu modo pensar.

 

Afinal uma criança já pensa tanto!!!..

 

E é através deste jogo de  faz-de-conta  que me vou mergulhando no seu universo. E é através destes jogos simbólicos, entre brincadeiras conscientes que ele vai assimilando um know how da vida e dominando as suas birras , aprendendo a estar e a partilhar. Umas das descobertas mais incríveis que fiz foi fazer com que o Daniel acordasse feliz, não rabugento, autoritário e indisposto com o mundo...O acordar, durante a semana, sempre foi uma autêntica sinfonia da rebeldia para o daniel.

 

Partindo das novas teorias educacionais que vêem na melodia uma extraordinária forma de despertar os sentidos, comecei a acordar o Daniel ao som das músicas que tenho registadas no meu Mp3.

 

 Em substituição, dum daniel  irritante  surgiu um Daniel doce de olhar brilhante com uma vontade incrível de brincar...

 

 No escrito “reflexão sobre aprendizagem musical na primeira infância de João Pedro Reigado, António Rocha e Helena Rodrigues, CESEM (Universidade Nova de Lisboa) que consultei no site www.educacao-artistica.gov.pt pareceu-me pertinente a seguinte consideração “De que forma é que os pais “não músicos” recorrem a elementos musicais primários para brincarem e estabelecerem comunicação com os seus bebés? Não serão estas brincadeiras simples e aparentemente incipientes os fundamentos da capacidade de estar com os outros, capacidade esta necessária a qualquer aprendizagem mais sofisticada?”

 

Os pais, os educadores e todos aqueles que convivem diariamente com a criança quando põem as crianças a escutar música ou a  emitir sons melodiosos não têm a pretensão de substituir os especialistas da área... ou tornar todas as crianças melómanas por excelência, apenas pretendem despertá-los para a musicalidade da vida. E numa reflexão informal sobre a relação mãe- filho, especialmente, sobre a mãe-menina que em parte também sou, apenas me resta acrescentar.

 

Ser mãe no século XXI, onde a criança está rodeada de  vozes orientadoras, todas interessadas no Superior Interesse da Criança, é essencialmente crescer com elas. As crianças são os nossos grandes guias. E devemos ir ao seu encontro,  sem para-quedas, sem livros de instruções, sem ideias pré-concebidas. Só após o nosso envolvimento profundo no seu mundo lhe podemos estender uma ponte para o nosso...

 

Ser mãe é ser-se essencialmente humana. É ser-se excepcional e também, por vezes, péssima. Reconhecer os erros e ver no novo dia uma nova oportunidade...Muito para além da panóplia do conhecimento puramente científico que chega até nós, ser-se mãe é o sentimento inexplicável que o nosso filho é único, não se enquadrando em qualquer linha orientadora, qualquer teoria psicológica/sociológica de que já lemos ou ouvimos falar. É um livro que se escreve diariamente. Nada se apaga, o nascer dum novo dia é sempre o começo duma nova página...Até ao fim!...

 

          Bibliografia:

         “Mamãs todas diferentes”

 https://familia.sapo.pt/articles/familia/relacoes/mae_ideal/989657.html

 

Ana Margarida Alves

 

Mãe e algo mais...