Meu deus como é bom morar…em algum lugar

05-07-2023 15:47

 

 

 

“As saudades que eu já tinha
Da minha alegre casinha
Tão modesta quanto eu.

Meu Deus como é bom morar
No modesto primeiro andar
A contar vindo do céu.”

Xutos e Pontapés

               O sonho de ter a sua própria casinha é um sonho comum à maioria dos portugueses. Uns sonham com uma sumptuosa moradia ou um duplex nas artérias principais da cidade. Porém, há quem só sonhe apenas com uma modesta casinha, com um quartinho para si e para os seus  filhos, com uma cozinha e uma salinha. E há quem no limiar dos limiares da pobreza esteja a viver nas ruas e apenas sonhe com um simples quartinho em qualquer beco da cidade.

               A ministra da Habitação, Marina Gonçalves revelou ontem, segundo notícia do Diário de Notícias, que há 77 mil famílias no país a viverem em condições indignas. Este número resulta de um levantamento efetuado por 258 municípios dos 308 existentes. Por outro lado, os números vieram revelar que mais  10 000 famílias desde o ano passado estão em situação de habitabilidade precária.

               E será que estes números já incluem os sem-abrigo? Segundo uma notícia da RTP 1 datada de 26 de Abril de 2022, nesta data existiam 9000 mil sem abrigos em todo o país.

               Essa situação habitacional põe de certeza Portugal na cauda da Europa em termos habitacionais.

               E enquanto existir uma pessoa a dormir pelas ruas, sem casa e sem nada, todos nos devemos preocupar.

               E ter tudo e ficar de repente sem nada é tão fácil, basta, perder o emprego  e começar  a  acumular dívidas.

É o caso de Jorge Costa que nos deixou o livro “Diário de um sem abrigo” onde nos conta através de várias crónicas a sua história. Como passou de empregado de escritório bem sucedido até cair no limbo da miséria quando perdeu o emprego. E segundo consta viveu nas ruas cerca de nove meses. “ser sem abrigo não significa apenas não ter teto para dormir. Significa termos de viver na rua, ao vento e ao frio vinte e quatro horas sobre vinte e quatro sem  tudo aquilo que durante toda a vida sempre tivemos ao dispor como dado adquirido. E sem as coisas banais que todas as pessoas possuem”

               Porém ao fim de cerca de nove meses o seu destino teve um final feliz foi apoiado por um programa habitacional  da Câmara Municipal de Lisboa em conjunto com várias parcerias “housing first” e conseguiu uma casa para morar. “Não sei descrever o que senti naquele momento, encontrava-me numa sala muito bem decorada. Uma sala de quatro lugares com um candeeiro de leitura…”

               “ Já passava das duas da madrugada e eu não conseguia dormir. Acham estranho? Finalmente estava a viver numa casa com cama confortável e não conseguia dormir desde que ficara sozinho na casa parecia uma criança a querer experimentar todos os brinquedos recebidos no dia de Natal”

 

               Talvez os sem-abrigo seja a realidade mais visível da falta de habitação em Portugal. Melhor da falta de condições dos portugueses manterem uma casa com condições condignas porque as rendas da habitação são tão elevadas que nem todos os portugueses as conseguem pagar.  Porque habitações há,falta é dinheiro para as rendas. As famigeradas rendas…

               E as casas sociais ou há muito poucas disponíveis ou vão surgindo a conta-gotas.

               Parece que o governo sonha em acabar com esse problema e até segundo as notícias já está a ajudar os portugueses mais carenciados a suportarem o elevado peso nas rendas no orçamento familiar, entre outras medidas.

               No entanto, ainda existe muito bom português a viver em casas com condições precárias onde chove e faz frio de tamanho exíguo.

               Já para não falar das casas abarracadas que ainda se vêm em Portugal, especialmente, na zona de Lisboa fazendo lembrar  um pouco as favelas brasileiras.

               É verdade em Portugal ainda existe uma espécie de favelas sem água canalizada, sem eletricidade e com casas de banho improvisadas. Essas imagens de pobreza estão sempre a passar na televisão de quando em quando.

Será que  este novo impulso que está a ser dado aos problemas habitacionais vai resolver o problema habitacional em Portugal?

               E o que fazer com aquele  franja dos “homeless”, os sem abrigo que vivem dos exíguos subsídios estatais e pensões de reforma exíguas e nem uma renda de uma casa conseguem pagar? Deixam-se para sempre à chuva e ao frio, indignamente à espera que lhes saia euromilhões?

               Assim espero que os programas habitacionais do governo abranjam todos os portugueses e não só aqueles que vivem em condições precárias, incluindo os que não têm nada e têm o chão da rua como morada.

               Um cenário que já fica tão mal a Portugal e é tão pouco humanista.

 Marcelo Rebelo de Sousa, no prefácio do livro de Jorge Costa “Diário de um sem-abrigo” termina com a seguinte afirmação “Há de haver um dia em que os “invisíveis”, “inconvenientes”, “ignorados” das ruas de Portugal entrem pelos olhos dentro da grande maioria dos Portugueses”

 

Ana Margarida Alves