Musicoterapia

11-12-2012 14:04

Música, Musicoterapia, Mitos e Questões...

 

A  música, a da rádio, do ipod, dos cd´s, dos discos de vinil do download ilegal…Clássica, etníca, pop, rock, jazz, fadística…todos os estilos…O culto da musicologia tornou-se, assim, um dos hábitos sócio-culturais mais enraizados na vida de todos nós. E assim, por pretexto ou paixão, desenrola-se o encontro no coral musical, a banda de garagem, as tertúlias musicais, a  guitarra, o violino, o saxofone, os concertos imperdíveis…a música ambiente… Move-nos, toca-nos e contagia-nos, desperta-nos novos sentidos, e imprime-nos modos de ser ou  estar, proporcionando-nos um encontro com nós mesmos e com os outros.  E porquê a música? Porquê a necessidade de musicalizar as palavras e recriar sonoridades estranhas e ecléticas? Porque nos apaixona, eletriza e comove...e nos faz sentir bem… 

 

 

Raízes Históricas…

 

Vários estudos conscientes da reação que a comunicação musical desperta no ser humano desenvolveram uma ciência terapêutica baseada na expressão musical, a musicoterapia. Esta terapia consiste na aplicação científica do som, da música e do movimento para facilitar a comunicação, para mover a expressão integração social.

 

A palavra “Mousikas” palavra grega relativa às musas e ao seu vínculo ao espírito humano como qualquer forma de inspiração artística (Becker, 2003).

 

A música potencializa os circuitos cerebrais melhorando a sensibilidade, a concentração, o raciocínio lógico e a memória.

 

Desde a Antiguidade, atribui-se a ela considerável valor contra a enfermidade e o preparo da guerra.

 

Na Suméria e na Babilónia utilizam instrumentos de sopro nos ritos de cura e na celebração no templo. Na Babilónia flautas e assobios foram utilizados pelos sacerdotes músicos para estimular a cura dos doentes mentais.

 

No Egipto, começa a emergir um modo mais racional de utilização da música como agente curativo. A finalidade era o restabelecimento e a reabilitação de problemas físicos como psíquicos e emocionais. O Edwin Smith Surgical Papyrus, o papiro Hent Tani e ebers medical papyrus  revelam o nascimento de atitudes racionais sofisticadas inquestionáveis acerca de vários aspetos da medicina e da música terapêutica. A música foi utilizada como terapia nos programas de tratamento hospitalar no Egipto, para curar o corpo, acalmar a mente e purificar o espírito. O povo Hebreu utilizava a música em casos de problemas físicos e mentais. Mas é na antiga Grécia que se encontram os fundamentos científicos da Musicoterapia. Pitágoras inclusive desenvolveu o método de cura através dos intervalos ritmos de melodia, visando a cura  e paixão humanas (Becker, 2003).

 

Sendo que esta forma de arte foi considerada como harmonia e o ritmo da vida que estabelece pontes com “a desarmonia e a arritmia das pessoas doentes mentais precisam de se normalizar para se recuperar a saúde.”

 

 

                                                                                                                     

Aristóteles foi, segundo, alguns autores, o primeiro que teoriza sobre a grande influência da música pelos seres humanos. A ele devemos a teoria de ETHOS (palavra grega que pode ser traduzida neste contexto como provocadora de estados de ânimo) da música. Esta teoria é baseada na ideia segundo a qual existe uma estreita relação entre os movimentos físicos do ser humano e a música escutada. Esta relação faz com que seja possível que a música possa exercer uma influência determinada sobre o carater do homem não só sobre as suas emoções. Por isso cada melodia era composta com a finalidade de criar um estado de ânimo ou “Ethos”.

 

Aristides Quintiliano descreveu três grupos de composições já existentes:

“systaltiké” – as composições musicais que produzem um efeito depressivo ou que despertam sentimentos penosos

A “Diastaltiké  - os que elevam o espírito

A “Hesikastiké” – aqueles que acalmam o espírito

 

Para  a musicoterapia é fundamental a teoria modal grega. Esta teoria considerava que cada um dos três elementos básicos da música: melodia, harmonia e ritmo exercem determinados efeitos sobre a parte fisiológica, emocional, espiritual sobre a força de vontade do homem.

 

Na Idade Média, o uso terapêutico da música foi substituída pelo uso religioso, pois a doença passou a ser vista como possessão demoníaca. Com o advento do Renascimento, a moral volta-se para a valorização da razão e sensibilidade. Então, as causas naturais foram consideradas responsáveis pelas patologias, havendo o rompimento com o pensamento medieval e retomando  a música como tratamento e eficaz e meio educativo.

 

Mais tarde Descartes, fundamentou que os intervalos musicais podem influenciar os estados mentais. Já no século XX, sob influência do positivismo, houve a redução no seu uso terapêutico, por este ter como base o método experimental e as ciências naturais (Benenzan, 1988 e Barral, 1993).

 

 

Musicoterapia a cura natural através da arte da musicalidade
 

Por outras palavras, musicoterapia é uma disciplina de caráter natural e não farmacológica cuja ferramenta de trabalho é a música e os seus componentes, utilizando  sons, estruturas rítmicas ou partes musicais. É utilizada para conseguir de uma forma natural resultados terapêuticos, tanto a nível psicológico, energético como orgânico. Apesar de termos referências ao seu uso em praticamente todas as culturas da Antiguidade, até ao passado século XX, ainda, não se tinha fundado a musicoterapia como uma disciplina concreta. O primeiro Instituto de Musicoterapia criou-se em 1942 em Estocolmo (Suécia).

 

A música tem valores universais que impressionam todas as pessoas e que se define pelo ritmo, a harmonia e o tom. Assim, o musicoterapeuta deve descobrir a personalidade musical de cada grupo de forma a tirar o maior partido dos seus efeitos, tendo como objetivo desenvolver as necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas.

 

Os efeitos da musicoterapia nos distintos âmbitos são muito variados:

Fisiologia – produz mudanças de ritmo cardíaco-respiratório, assim como a tensão muscular

Afetividade – favorece o desenvolvimento emocional e afetivo

Sensibilidade – a aguçar a percepção auditiva e tátil

Movimento – estimula a atividade e melhora a coordenação motriz.

Sociabilidade – fomenta a inter-relação social

Educativa – ajuda na formação e desenvolvimento pessoal e na superação de dificuldades de aprendizagem

Psicoterapeutico – ajuda a resolver problemas psicológicos

 

A investigadora Marisa Padilha no seu estudo “A Musicoterapia no tratamento de crianças com o espetro de autismo” aborda o potencial reeducativo e terapêutico da música num contexto musicoterapêutico como fenómeno estético a atividade musical sendo uma experiência individual e coletiva que mistura na sua realização corpo, mente e espírito. Participar numa experiência musical provoca uma série de processos neuropsicológicos e psicológicos identificáveis e desenvolve atitudes motoras/perceptivas e cognitivas que ativam processos afetivos e de socialização. A qualidade integradora da experiência musical e o caráter  globalizador das respostas do indivíduo à música apoiam que numa mesma atividade musical aconteçam, simultaneamente, diferentes processos de percepção e execução que misturam experiências:

 

Sensoriais – ouvir, reconhecer, discriminar, sons

Motores – executar instrumentos, mover-se com música

Emocionais – Expressar estados de ânimo

Cognitivas – atenção, concentração, memória, análise e síntese

Sociais – participar em atividades musicais, coletivas, em respeito à produção sonoro-musical de outros sujeitos.

 

Num artigo de Beatriz Illari (UFPR) – Vol IX-Outubro de 2005 - “A música e o desenvolvimento da mente no início da vida: investigação, fatos e mitos” encontramos alguns aspetos que importa salientar.  As diferentes expressões musicais que inspiram o ser humano passaram a ser alvo de interesse em termos de investigação científica não apenas na sua relação com o despertar de diferentes estados emocionais mas no aprofundar da interelação do contato/aprendizagem da música e o desenvolvimento da inteligência, matemática, linguagem e leitura.

 

Descobertas recentes da neurociência, psicobiologia, psicologia do desenvolvimento vêm fomentando um interesse acerca do desenvolvimento cognitivo-musical do ser humano. Existem  inúmeros estudos das demonstrações empíricas das competências cognitivas do recém-nascido (vide Eliot, 1999). De referenciar um artigo de Patrícia Nunes “Experiênci a Auditiva no meio Intra-Uterino”, apresentada no âmbito do curso de Psicologia na Universidade de Coimbra  que conclui ser fundamental a estimulação acústica durante o período da gestação porquanto esta auxiliar do desenvolvimento  psico-social pré-nascimento e constituirá um passaporte de desenvolvimento para  a entrada no novo mundo.

 

 Ao longo deste processo a relação mãe-bebé envolve particularidades poderão influenciar a sua emocionalidade, estimular a sua capacidade de memorização. É assim, fundamental analisar as potencialidades de um bebé, tendo em conta a  sua experiência no útero materno.

 

  “De todos  os órgãos dos sentidos, o único que permanece desperto 24 horas por dia é o ouvido. Mesmo na mais profunda fase do sono. As orelhas continuam ligadas como guardiãs abertas a qualquer ruído ameaçador. A audição é a peça chave na comunicação entre os seres humanos (Matias, 1999). Neste âmbito, Patrícia Nunes passou os olhos pela literatura da área e destacou as seguintes considerações.

 

 O ouvido é o órgão fundamental para a audição sendo também responsável pelo equilíbrio do corpo.

 

A escuta é uma capacidade de alto nível que o ser humano possui. A compreensão dos sons acontece de maneira gradativa ao desenvolvimento humano. A relação com o universo sonoro não verbal, na vida intra-uterina, vai ser de extrema importância para contextos terapêuticos posteriores (Barcellos cit in Moritz, 2004)

 

A audição é um dos sentidos que traz informações importantes para o desenvolvimento humano. O impacto das alterações auditivas dá-se principalmente sobre aspectos linguísticos e psicosocial do indivíduo.

 

Segundo Northen e Downs (1989), a partir da vigésima  semana de gestação o feto normal já demonstra reações a estímulos sonoros, percebidos através da mudança de frequência dos batimentos cardíacos fetais e associados frequentemente a movimento corporal. O feto tem capacidade de ouvir  e desenvolver a memória dos sons (Verri, 1999). A partir do 4º mês vida intra-uterina, já há vários sentidos, inclusive a audição desenvolvidos. Nos anos 70, obstetras colocaram microfones no interior do corpo de gestante e concluíram que os sons de facto chegavam, mas, que os barulhos internos da mulher eram tão fortes que pareciam abafar qualquer ruído externo a não ser que o volume fosse muito alto.  Actualmente já se sabe que  este curioso inquilino fica bem mais protegido dos sons internos, no casulo do líquido amiótico,e se encontra mais próximo da audição dos sons que vêem de fora.

 

Concluindo-se através destes estudos que as conversas de fora podem ser ouvidas apenas são atenuadas pela gordura e pelos tecidos da mãe.

Num artigo da Revista Superinteressante (1998), a autora refere-se a um estudo do Dr. Berestein, do Hospital Albert Einstein em que a sensibilidade musical  pode começar a formar-se dentro do útero, o recém-nascido prefere e acalma-se com músicas que ouviu durante  a gestação, também é possível que a habilidade linguística comece a ser adquirida  na fase final da gestação. As mães que conversam com os seus filhos estariam habituadas á musicalidade da língua (Matias, 1999).

 

A psicologia pré-natal estuda o comportamento e desenvolvimento e evolutivo  e psico-afectivo-emocional do indivíduo antes do nascimento. Factos ocorridos neste período recebem registo mnésico, guardado somente no inconsciente influenciando a personalidade pós-natal do bebé e o seu comportamento. O feto já é possuidor de inteligência, sensibilidade, traços de personalidade própria e definida, vida afectiva e emocional vinculada à mãe com comunicação empática e fisiológica, sente emoções de prazer, desprazer, dor, tristeza, angústia ou bem estar reage com irritação quando se sente lesado, apresenta rudimentos de aprendizado, sofisticação do aparelho perceptivo e motor crescente de complexidade do aparelho mental (Peixoto e Amorim, 2007)

 

De acordo com Cannon (2002, cit in Peixoto e Amorim, 2007, o subsistema de atenção –interação social é um sistema de comunicação que surge no sexto mês de gestação indicando a  capacidade de organismo permanecer  em estado de alerta para receber informações cognitivas, sociais e emocionais, além de provocar e  modificar estes contactos com o mundo à sua volta.

 

 Cada bebé é o único, por isso a sua maturidade e o seu nível de suporte aos estímulos variam de acordo com a sua subjectividade (Peixoto e Amorim, 2007).

 

Portanto, o desenvolvimento da audição é de fundamental importância tendo em conta que o seu desenvolvimento ir-se-á interligar com o desenvolvimento de outras capacidades. Para que a criança desenvolva a linguagem é determinante bom desenvolvimento da audição, assim para que haja a aquisição e desenvolvimento normal a capacidade de verbalizar ideias é considerado como pré-requisito a integridade anatomofisiológica do sistema auditivo. Muitos problemas de linguagem, fala e aprendizagem têm sido atribuídos à dificuldade de processamento dos estímulos acústicos.

 

 O feto reage igualmente ao ruído ambiente. As vozes maternas e paternas podem ter efeitos espantosos no comportamento do feto.

 

Se o feto ouve vozes e os ruídos ambientais, parece que pode memorizar algumas informações. Experiências recentes revelavam que as crianças se lembravam de sonoridades particulares.

 

Esta contestação levou os americanos e os Japoneses e desenvolveram métodos de excertos de música, ouve a voz dos pais, ouve o soletrar do alfabeto (Mabille, 1990).

A gravidez transforma-se num canal, através da qual as mães começam a comunicar com os seus bebés.

 

Segundo estes estudos, é necessário trabalhar a criança desde a gestação com a palavra e com a  música.

 

O acompanhamento das mães e dos bebés desde o início da gestação possibilita  a verificação da influência dos sons, harmonia, ritmo, melodia e da importância da voz, do canto nas crianças de tenra idade.

 

Pocinhas (1999 cit in Coimbra 2008 reporta-se ao período dos anos 40-50, rico em descobertas  acerca do desenvolvimento emocional do feto que começa a ser olhado com um ser dotado de sensibilidade, memória e consciência, capaz de aprender, ouvir, tocar, brincar e sentir emoções da mãe (Coimbra,2008).

 

O que significa que “ao ser capaz de receber, processar, integrar, selecionar e discriminar informação e dados do exterior o feto torna-se num parceiro activo que apresenta possibilidades relacionais e algum tipo de vida mental organizada, ainda de uma forma rudimentar” (Sá,2001).

 

Em suma, quando um bebé nasce embora dorminhoco e enternecedor já transporta consigo um mundo de pequenas memórias e uma personalidade pré-definida..., todos as suas  manifestações de vida transfiguram-se em formas de afirmação da sua personalidade.

 

Como exemplo, sabe-se hoje que é no período entre o nascimento e os dez anos que as distinções entre alturas, timbres e intensidades se desenvolvem e tornam refinadas (Werner e Vendenbos, 1993) É também nesta época que as crianças desenvolvem preferências e memórias musicais. O desenvolvimento cognitivo-musical nessa etapa ocorre através de processos como a impregnação e imitação inclusive, entre  crianças e adultos, o endosso das normas culturais, etnícas e o entretenimento. (Gregory, 1998). Como sugerem diversos estudos, as praticas musicais das crianças são relevantes porque auxiliam no desenvolvimento auditivo, motor, cognitivo e social, além de ajudarem  a fortalecer afetiva das famílias.

 

 A associação da aprendizagens musicais ou contato com a música e o desenvolvimento cognitivo tem levado a um interesse acrescido pela aprendizagem de música e pela musicoterapia.

 

Um exemplo disso foi o chamado ‘Efeito Mozart’, que causou (e ainda causa) muita polêmica. A fuga de informação dos resultados de uma investigação científica preliminar deu origem ao  ‘Efeito Mozart’, nome atribuído a uma pequena melhoria em um sub-teste (habilidades espaciais) do famoso teste Stanford Binet de inteligência ocorrida logo após a audição de uma determinada obra musical de W.A. Mozart. Os investigadores (veja Rauscher, Shaw & Ky, 1993; 1995), compararam a performance de ratos de laboratório e de estudantes universitários em condições sonoras variadas, como no silêncio e na presença de peças de Mozart e Phillip Glass, e concluíram que a audição da música de Mozart causava um progresso temporário nas habilidades espaciais de seus participantes. O ‘Efeito Mozart’, que hoje é marca registrada, deu origem a uma verdadeira febre de consumo da música de Mozart e de programas ‘mágicos’ de educação musical, que prometiam desenvolver bebês mais inteligentes e mais aptos a obterem um lugar em universidades famosas como a renomada Universidade de Yale (Schoenstein, 2002).

 

Outro caso interessante e também relativo ao tal efeito “Mozartiano" foi a distribuição de CDs intitulados ‘Construa o cérebro de seu bebé através da música de Mozart’ em todas as maternidades do estado da Geórgia (EUA) no ano de 1998, a mando do então governador Zell Milner. Segundo o político, a distribuição do CD supostamente ‘garantiria’ o desenvolvimento da inteligência dos bebés.


Como não poderia deixar de ser, o ‘Efeito Mozart’ não causou polêmica apenas junto à população, mas gerou grandes disputas nas grandes rodas científicas. Diversas experiências foram realizadas com o intuito de replicar ou refutar os resultados encontrados pelo time de Rauscher. Contudo, até o presente momento não foram encontradas réplicas do efeito.

 

Estudos comparativos entre a música e a fala também têm sido um dos campos de pesquisa. Num artigo publicado na revista Ciências e Cognição, 2006; Vol 09,83-90 ( https://www.cienciasecognição.org) de Patrícia Lima Martins Pederiva, Escola de Música de Brasília, Universidade de Brasília e Rosana Maria Tristão, Faculdade de Medicina, Departamento da Criança e Adolescente, Brasília, Distrito Federal do Brasil. Faz-se referência a Straliotta (2001), a inteligência pode ser desenvolvido por meio de audição, já que cada código sonoro representaria um espaço ativado no cérebro, com a finalidade de reter informação. Os neurónios, que recebem as informações codificadas, após serem ativados pelos códigos musicais, ficariam “abertos” para receberem conhecimento de outros órgãos de sentidos.

 

 A ativação dos neurónios seria ampliada à medida que os novos conhecimentos vão-se somando por meio de cinco órgãos de sentidos. O autor explica que, maior será o conhecimento sonoro da pessoa quanto mais sons diferentes ela ouvir, por estar a utilizar uma área cerebral maior para reter aquelas informação.

 

Em investigação, realizadas por Williams e Egner (2004) foram examinadas os comportamentos e as correlações da memória musical. Havia a hipótese que um compasso simples em uma peça musical serviria como marco estrutural para a codificação e recuperação da memória neste setor. O estudo foi realizado por seis pianistas profissionais que revelaram como estudavam e memorizavam as suas peças. Foram registados eletroencefalogramas durante a tarefa de memorização. Os resultados confirmaram a hipótese que a memorização de compassos estruturais é crucial no armazenamento e descodificação de uma peça musical.

 

Bilhartz e colaboradores (2000) realizaram estudos que estabelecem uma correlação entre o estudo de música e o desenvolvimento cognitivo em crianças entre quatro e seis anos. Foram realizados pré e pós testes utilizando-se para isso a escala de inteligência Standford –Bent que apontaram uma correspondência significativa entre instrução musical nos primeiros anos de vida e habilidades especialmente temporais.

 

         Tal como outras formas de inteligência, e, inteligência espacial envolve a habilidade de estabelecer relações entre itens.

 

Trata-se de um processo que envolve a identificação de características de itens. O processo mental de sequencialização e espacialização envolvem altas funções cerebrais. Tal como em resolução de equação matemáticas avançadas e que também são utilizadas por músicos na performance de tarefas musicais. Os resultados do estudo realizado por Bilhartz e colaboradores (2000) indicam que há uma ligação entre a instrução musical nos primeiros anos de vida e crescimento cognitivo e habilidades “não-musicais”.

 

Segundo Illari (2005), o interesse pelo desenvolvimento cognitivo musical tem crescido de modo substancial nas últimas décadas devido a recentes descobertas das neurociências. A distinção entre alturas, timbres e intensidades já aconteceram desde o nascimento. Do nascimento até ao décimo mês de vida, tornando-se cada vez mais refinado. As preferências e memórias musicais também se deram a partir dessa época por meio de processos imitativos e de impregnação estando também associado a inúmeras funções psico-sociais, como a comunicação e o desenvolvimento da linguagem compreensiva e expressiva, como por exemplo, o entretenimento.

 

De salientar também, um estudo realizado pela Universidade Northwestern (Illinois, EEUU)  e publicado na revista científica “PLoS One”, aqueles além de escutarem  a música também a praticam têm mais possibilidades de evitar os problemas de ouvido ao  chegar à velhice”.

 

 “Os que ao longo da sua vida se têm dedicado a  tocar um instrumento parecem ter uma série de vantagens em relação a duas funções importantes que ser deterioram com  a idade: a memória auditiva e a capacidade de ouvir e manter uma conversa em ambiente ruidoso”, assegura Nina Kraus, diretora do Laboratório de Neurociência Auditiva desta Universidade, co-autora do estúdio.

 

Para realizar esta investigação estudou-se 37 pessoas entre 45 a 65 anos. 18 das pessoas avaliadas  aprenderam a tocar algum género de instrumento musical desde tenra idade e continuaram essa instrução durante toda a sua vida.

 

Nesta investigação, em ambos os grupos (com formação musical e sem formação musical) realizaram-se provas para avaliar a sua capacidade para ouvir em ambiente ruidoso, a sua memória auditiva, e também a sua memória visual.

 

“Os que tinham de aprendido a utilizar um instrumento desde pequenos superavam o grupo dos que não eram músicos em todas as provas menos na memória visual cujas respostas eram muito similares”, afirmou Nina Kraus.

 

Os diversos autores reforçam a importância de se adensar a exploração das sonoridades e da musicalização durante a infância o mais precoce possível tendo em conta os benefícios no desenvolvimento cognitivo e no desenvolvimento do bem estar psico-social.

 

Bibliografia:

Benedetti, Katia Simone, Doroteia Machado Kerr “A psicopedagogia de Vigótski e a educação musical, uma aproximação”

Catucci, Stefano, “A História da Música:,sons, instrumentos, protagonistas”, Porto Editora

Jauset Berrocal, Jordi A. “Música y neurociência, la musicoterapia: Sus fundamentos, efetos y aplicationes terapêuticos”, edição, data

Gomes, Ana Maria Paula Marques e Simões, Alexandra “A música e as crianças com distúrbios de comunicação e linguagem”,  Escola Superior de Educaçao de Paula Frassinetti.

Ilari, Beatriz, “A música e o desenvolvimento da mente no início da vida: investigação, fatos e mitos”, Revista Eletrónica de Musicologia – Vol IX-Outubro de 2005

Nunes, Patrícia “Experiência Auditiva no meio Intra-Uterino”, apresentada no âmbito do curso de Psicologia na Universidade de Coimbra

Padilha Marisa do Carmo Prim, “Musicoterapia e o tratamento de crianças com espetro de Autismo”, Universidade da Beira Interior, Faculdade de Ciências da Saúde, Mestrado Integrado, 2008

Tristão, Rosana Maria e Patrícia Lima Pederiva, “Música e Cognição”, 2006; Vol 09:83-90,

(https://www.ciencias e cognição.org

www.elmundo.es/elmundosalud/2011/05/11/neurociência/1305139904.html “Música contra los achaques, Sílvia R. Taberné, Madrid

 

 

 

 

Texto e pesquisa elaborado por: Ana Margarida Alves