Não nos peçam rigorosas definições!...
Atualmente vivemos sobre a pressão social de querermos ser mais perfeitos que a própria perfeição.
Mal nascemos vamos sendo educados cheio de regras e pergaminhos que nada pode faltar à caminhada da geração que surge de novo. E sem querer vamos padronizando um ideal de perfeccionismo quase atrofiante e impossível de atingir.
Vão-nos fazendo uma lavagem mental que temos todos que lutar pela igualdade da verdadeira revolução democrática. E assim impõem-nos que temos que ser mais ou menos iguais à estirpe da nossa origem ou onde fomos enquadrados de alguma forma. Vivemos assim num autêntico jogo de espelhos social.
Temos que ter as medidas perfeitas, o rosto divinal, uma inteligência excecional. Nada pode faltar neste mundo “hiper-perfecionista”. Preocupamo-nos tanto com a embalagem geral do embrulho que nos esquecemos da própria essência de nós mesmos que por vezes se espelha no fundo do nosso olhar.
Se perdêssemos alguns segundos a olharmos as pessoas nos olhos talvez descobríssemos que o que julgamos essencial, por vezes, se torna tão supérfluo…
Talvez nos deixe de importar uns quilinhos há mais que ganhamos nas festas natalícias. Porque ser um pouco mais gordinho ou um pouco mais magrinho que importância realmente tem isso? Não somos todos, na mesma, pessoas de corpo e alma. Talvez nos deixemos de importar, também, onde compramos a nossa roupa. Alguns só podem comprá-la no mercado dos ciganos. Outros no “shopping center” da sua predileção não perdendo uma novidade da loja de massas “Zara”. No entanto, no extremo oposto, há quem possa passar pela “Dior” em Paris, outros possam até apostar num bom estilista nacional, como por exemplo, a Fátima Lopes ou o Nuno Gama… Tudo consoante a carteira de cada um e o gosto é claro!...
No entanto, independentemente, do local por nós elegido ou imposto não somos todos pessoas sem que seja a roupa que nos defina ou influencie o nosso ser, as nossas capacidades, as nossas emoções, as diversas formas de inteligência, a nossa sensibilidade, o nosso humanismo…Nós somos muito mais que um mundo repleto de etiquetas, códigos de vestir ou pergaminhos…
Por outro lado, os nossos filhos poderão chegar à adolescência carregados de borbulhas ou com a pele tão branca como a Cleópatra, não os amaremos da mesma forma e com a mesma intensidade? E não serão – independentemente das circunstâncias – os mais lindos do mundo e os mais brilhantes aos nossos olhos? Aí de quem disser o contrário!!...
“Idem” “idem” aspas aspas no que toca à inteligência. Não andamos aí com a obsessão de “filhos-Einsteins” e com uma fita métrica medidora do Q.I. humano. Nem todos nascemos para sermos génios da lâmpada ou autênticas enciclopédias ambulantes. Há pessoas que nasceram com o dom de só dizerem coisas sensatas. Outras só têm tendência para dizer palhaçadas. Mas, não terão todos um lugar nesta aldeia global que é de todos e para todos. Não serão todos, pessoas na eterna busca do seu lugar no Universo.
Por vezes, andamos a vida toda emaranhados sem nunca compreendermos bem qual o nosso papel na vida. Outras vezes, o nosso papel social é tão óbvio tão intuitivo que quase desde o berço o nosso destino está traçado. Cada ser humano leva o seu tempo, na sua caminhada da descoberta do seu papel no tempo e no espaço.
E há quem nunca se encontre consigo mesmo nem com o outro por razões misteriosas e insondáveis. Talvez, por isso, há quem acredite na reencarnação onde é dado àquela pessoa incompleta várias vidas para poder completar a sua missão como ser humano.
E ainda há que seja tão especial entre os especiais que a sua missão esteja muito para além do tempo e do espaço terreno. Esteja num outro universo ainda não descoberto pelo homem comum.
Saint-Exupéry diz que “só vemos bem com o coração o essencial é invisível aos olhos”. Assim, talvez, em vez de vivermos na fúria moderna de sermos todos classificadores de pessoas devemos olhar muito mais para dentro do que para fora, para a essência da descoberta de cada um.
Talvez o que nos desperte a curiosidade no outro seja um simples sorriso que vem do fundo da alma ou talvez um olhar mais entristecido ou mais alegre, um riso escancarado, ou, até mesmo a pura e simples beleza que percecionamos do outro e guardamos na nossa mente. Seja o que for que nos agita a nossa alma em relação ao outro, esse primordial detalhe será sempre o início de uma longa caminhada da descoberta do outro e não o fim.
Quer dizer, existe a exceção, dos eternos rejeitados por tudo e por nada e quanto a isso não há nada fazer, e nesse caso não há caminho nenhum a percorrer e como na alma de cada um ninguém manda…haja paciência!!...
Ana Margarida Alves