Os professores, definitivamente, não se vão calar…

22-04-2023 15:42

 

 

          Desde o início do ano que os professores andam em sucessivas greves que deixam os alunos sem aulas e com as matérias em atraso, provocando, além do mais, uma grande confusão…

     É certo que o professor é quase para toda as pessoas aquela figura simpática meio sabichona que tem a triste sina de andar quase a vida toda com a casa às costas e só consegue assentar quando está quase na idade da reforma…

    Provavelmente, até os atuais professores em jovens deixaram-se seduzir pelos seus “mestres” que os faziam acreditar que ser professor era a melhor profissão do mundo…Iriam ensinar, falar de assuntos que os faziam vibrar, estar em contacto com mais jovens cheias de ideias e sonhos com quem daria gosto conversar e ainda cima lhes pagariam para isso…Porém, depois quando se deparam com a verdadeira realidade…o sonho desmorona-se num abrir e fechar de olhos.

    No início de carreira não há lugares, as escolas estão sobrelotadas e os que conseguem alguma vaga tem direito a umas míseras horas que mal lhes dá para alimentação quanto mais para suprir as despesas das longas distâncias que lhes são impostas.

    Só mesmo por amor à camisola…

    Depois de muitos anos nesta agonia lá conseguem um “horariozinho” razoável. Todavia, começa-se a  revelar o outro lado da idílica profissão. Trabalhar horas a fio sem direito a descanso no fim-de- semana (o professor também tem os famosos tpc´s, e já não é só  elaborar os famigerados testes, a escola já não dispensa os famosos “powerpoints”…sobre tudo e mais não sei o quê?), além do mais descobrem alunos insubordinados, as intransigências dos pais que já não são como antigamente que se o menino se comportava mal, ficavam do lado do professor e até lhe ofereciam flores. Hoje em dia à mínima quezília fazem logo queixa e chamam até a “T.V.”

    Não é de admirar que hoje em dia nos cursos de professor se encontrem tão mal afamados que já se prevê que quando os mais velhos se reformarem não vai haver professores suficientes…

    Por outro lado, o Estado descobriu que a sua bandeira governativa, a educação de excelência…é um bicho de sete cabeças para o equilíbrio das contas do estado. Começando os mil e uns malabarismos para não valorizar a carreira do professor e não o deixar atingir os escalões mais apetecíveis.  Assim, aproveitaram-se da desculpa da famosa “troika” para lhes congelar as brilhantes carreiras.

    Segundo os sindicatos, a 6 de Junho de 2023 faz seis anos seis meses e 23 dias de tempo de serviço congelado que o estado teima em não devolver…

    E especialmente, por causa desse “little detail” anda tudo num verdadeiro pé de guerra…

    Todos esses constrangimentos que os professores sofrem fizeram-nos enlouquecer. Passaram o ano de 2023 em greves e manifestações por todo o país.

   Desta vez ninguém os cala…está visto…

   Na segunda-feira, vai arrancar mais uma ronda de greves que terão a duração de 18 dias e sem serviços mínimos. Arranca no Porto e termina em Lisboa no dia 12 de Maio. Inicia-se sempre as 12 horas e será distribuída ao longo dos 18 dias por distritos. Estas rondas de greves estão agregadas numa plataforma que engloba sete sindicatos.

   Paralelamente, há outras formas de luta a decorrer desde 29 de Março também outra plataforma tem a decorrer uma greve a todo o serviço extraordinário e uma outra a todo serviço imposto fora do horário de trabalho ou em componente letiva indevida (sobretrabalho), uma a toda a atividade atribuída no âmbito da componente não letiva de estabelecimento e uma greve ao último tempo letivo diário de cada professor.

   Por outro lado, um dos lemas das greves dos professores é a defesa da escola pública onde reina o crivo mais apurado da qualidade educativa, diz-se por aí.

   É certo que uma vez professor, professor para sempre.

   Podem não ter que fazer um juramento como é apanágio em outras classes, mas, se têm alma de professor serão sempre professores, independentemente das circunstâncias ou para que tipo de instituição trabalhem ou que atividade estejam a exercer no momento.

    O bichinho do conhecimento e  a sua transmissão viverá sempre com o professor. Alguém disse quem ama educa sempre, talvez por isso, mais que o amor aos livros, o amor pelas crianças e jovens fá-lo-ão sentir-se sempre mais que missionário de uma causa e instituição, missionário da criança tentando dar-lhe sempre o melhor de si próprio.

    Apesar das milhares de razões que os professores tenham para se manifestar é preciso salientar, que não é só na área da educação que é exigido tamanha pressão psicológica de apresentação de resultados e os mais altos padrões de qualidade, é em todos os setores, sem distinção.

   Tanto é sacrificado o professor, como o profissional de saúde, como até o pobre diabo do jornalista que raramente se manifesta sobre si próprio. E   já para não falar de milhares de profissionais precários a recibo verde, como também dos milhões de trabalhadores em Portugal que, também, no seu tempo se manifestaram mas não se mantiveram numa greve constante e infindável como os professores…

    Assim se pensarmos de uma forma global o professor tem uma função fundamental na educação do país, é certo e sabido. Todavia, não são os únicos com problemas laborais.

    Não foram só eles que se sentiram ludibriados com  a ilusão de se tornarem profissionais de excelência…

   Logo vieram a missão pesadíssima e as inúmeras responsabilidades acrescidas a que não se pode dizer que não.

    Porém na sua perspetiva – tendo em conta as infindáveis greves -   são só eles os mais sacrificados e desvalorizados.

    E agora na etapa final do período letivo parece que vão por o país  a ferro e fogo. Numa altura em que os estudantes mais precisam de ajuda. A educação pública tornou-se uma verdadeira telenovela social que segundo uma informação do Diário de Notícias já planeiam ir para os aeroportos alertar os turistas.

   É óbvio que os professores ao se demitirem da sua missão estão é a abrir o fosso das assimetrias sociais. Os estudantes mais endinheirados irão fazer uma corrida às explicações privadas para poderem acompanhar a matéria. E será que sem apoio extraordinário o menino pobre acompanhará a matéria como os outros também?

   As greves são importantes para demonstrar que algo vai mal na educação mas o excesso de barulheira nacional e demissão do seu primordial papel que é ensinar só serve para adensar  ainda mais as assimetrias sociais…

  Há quem só possa contar com a Escola, com mais ninguém…

   É caso para se pensar…

 

Ana Margarida Alves