Viver o recreio escolar sem ecrãs de smartphones, sim ou não?

25-05-2023 11:47

V

 

Está a decorrer uma petição pública para restringir o uso de telemóveis pelas crianças a partir do segundo ciclo “em prol da socialização das crianças no recreio. Para que a socializem, conversem cara-a -cara e brinquem. Par que os casos de “cyberbulling” e o contacto com conteúdos impróprios para a sua idade diminuam.

A petição propõe que as escolas estejam equipadas com caixas de armários próprios onde há primeira hora os telemóveis sejam guardados e no final das aulas os alunos recolham. Desta forma os alunos podem contactar os pais quando chegam há escola e passam a fazer as suas atividades de recreio sem telemóvel.

A ideia seria excelente sem houvesse um ponto de equilíbrio.

É certo que hoje em dia todo o mundo já não consegue viver sem telemóvel. As pessoas estão sempre  a falar ao telemóvel  a toda a hora e a todo o instante a propósito de tudo e mais alguma coisa.

E se fosse só isso. A internet do telemóvel é uma porta aberta a um mundo de jogos, “chats”, que muitas vezes os pais deixam de poder controlar. Deixam de saber quem são os amigos dos filhos, que tipo de aplicações são utilizadas e muitas vezes quase sem querer já estão por vezes a contactar pessoas do outro lado do mundo ou aceitar desafios parecidos com aqueles há alguns anos grassavam pela internet como o “jogo da baleia azul” em que o último desafio era arriscar a própria vida…

Por outro lado ligam demasiado ao telemóvel e desperdiçam  a oportunidade de conhecer os colegas que estão ao seu lado. Saber quem são, o que gostam de fazer, partilhar ideias e  confidências.

E também, longe vão os tempos em que a chegada do toque para o recreio era vivida com tamanha ansiedade -  especialmente pelos rapazes – para irem recarregar energia a jogar à bola no recreio.

O problema é depois de hoje em dia terem mergulhado no mundo das novas tecnologias quase desde o berço terem que voltar aos usos e costumes da escola no tempo dos seus pais parece uma tarefa hercúlea. Quem são os miúdos que querem passar o tempo todo  a jogar futebol em vez de estarem sentados num cantinho a descobrirem as novidades do mundo inteiro através do ecrã mágico do seu “smartphone”?

Talvez o problema seja controlar os excessos não a proibição total.

No telemóvel a criança não encontra só “sites” nefastos também tem acesso a músicas, notícias de jornais, e-books. Também partilham com os amigos próximos conteúdo sobre temáticas interessantes que encontraram na internet.

As crianças não usarem os telemóveis nas aulas parece correto. Controlar o excesso de número de horas que as crianças passam ao telemóvel também. Controlar os sites por onde as crianças viajam nos tempos de recreio através desses programas que já existem do “controlo Parental” também.

Talvez o ideal seria o equilíbrio entre o melhor dos dois mundos.

Haver tempo para mergulhar no mundo tecnológico e tempo para as brincadeiras e conversas à maneira de antigamente. Tempo para o uso do papel e da caneta e tempo para enviar um e-mail a um colega de escola.

Já no Estatuto do Aluno está previsto algumas restrições a esse uso conforme indicado na Petição em causa, nomeadamente:

“Não utilizar quaisquer equipamentos tecnológicos, designadamente, telemóveis, equipamentos, programas ou aplicações informáticas, nos locais onde decorram aulas ou outras atividades formativas ou reuniões de órgãos ou estruturas da escola em que participe, exceto quando a utilização de qualquer dos meios acima referidos esteja diretamente relacionada com as atividades a desenvolver e seja expressamente autorizada pelo professor ou pelo responsável pela direção ou supervisão dos trabalhos ou atividades em curso”;
 “Não captar sons ou imagens, designadamente, de atividades letivas e não letivas, sem autorização prévia dos professores, dos responsáveis pela direção da escola ou supervisão dos trabalhos ou atividades em curso, bem como, quando for o caso, de qualquer membro da comunidade escolar ou educativa cuja imagem possa, ainda que involuntariamente, ficar registada”;
 “Não difundir, na escola ou fora dela, nomeadamente, via Internet ou através de outros meios de comunicação, sons ou imagens captados nos momentos letivos e não letivos, sem autorização do diretor da escola”

               Assim as crianças já estão alertadas que não podem usar o telemóvel durante as atividades escolares, não podem tirar fotografias a torto e direito e divulgar o que se passa na escola para o exterior sem a autorização prévia da direção escolar.

               Mas avançar agora para uma proibição total parece um pouco exagerado. Controlar ao máximo o uso desse recurso sim, diminuir o número de horas de acesso ao telemóvel também mas totalmente parece desproporcionado.

               Afinal ouvir uma boa música, ter acesso  a conteúdo como livros e jornais nos tempos autorizados pela escola não trará consequências nefastas para educação das crianças. Ainda mais num tempo que se está a assistir à passagem para o mundo digital  a todos os níveis. Até as provas escolares físicas têm os dias contados…É preciso sim é discutir a que tipo de conteúdos os pais e a escola vão dizer não…e não proibir totalmente esses ares do mundo novo que tanto desperta curiosidade e interesse  nas crianças…

 

Ana Margarida Alves